O teatro na formação estética da criança
Angelita Parodi
O seminário deveria começar pelo tema: "O teatro na formação estética da criança". Embora não pudesse ser tratado de forma expressa e distinta, por dificuldades surgidas no dia para o qual estava programado, este tema operou como idéia diretriz em todo o desenvolvimento do seminário, já que um criterioso respeito à importância da educação estética através do teatro determinou a colocação e em parte a solução dos problemas implicados nos restantes temas. Os pontos propostos para este tema foram:
1) A importância da educação estética para o desenvolvimento da personalidade: a educação pela arte;
2) O teatro como obra de arte e como síntese de diversas expressões artísticas: plástica, música, palavra etc.;
3) Possibilidades que o teatro oferece: a) como espetáculo para a criança, b) como atividade artística realizada pela própria criança para o desenvolvimento de uma personalidade integrada;
4) A formação do gosto através do espetáculo teatral e o teatro como veículo de moralização e socialização.
Reconhecimento
O primeiro ponto proposto implica no reconhecimento de que a experiência estética é um aspecto fundamental da experiência humana e que a personalidade requer, para seu desenvolvimento integral, o cumprimento de tal tipo de experiência. A formação do gosto, a experiência estética em geral, não podem se dar ao acaso, e na verdade requerem um esforço educativo, uma seleção consciente daqueles estímulos que, por intermédio do Belo, introduzirão paulatinamente a criança no mundo dos valores. A arte proporciona a ocasião mais pura de uma experiência estética, e nisto reside seu valor educativo. Hegel afirmou que a virtude própria da Arte é poder dar das idéias mais elevadas, dos mais altos interesses do espírito, uma expressão sensível e acessível a todos. Assim, a educação pela arte não terá somente que fazer do futuro homem um esteticista, mas também e sobretudo permitir o seu acesso àqueles valores, interesses e idéias mais elevadas.
Síntese
O segundo ponto situa o teatro no quadro geral das artes; o teatro é em parte complexo, é uma síntese de diversas expressões artísticas: plástica, música, movimento rítmico, palavra, ação - unidas todas elas, em geral, por uma trama ou fio argumental que é uma transposição idealizada de experiências, desejos, aspirações, sonhos, angústias, frustrações etc. Por sua capacidade de comunicação, é talvez uma forma privilegiada de arte, porque se dirige a todas as potencialidades anímicas: a sensibilidade, a imaginação, o entendimento, e porque o homem se reconhece sobretudo através da ação, em suas lutas, vitórias e fracassos, em suas transgressões e sanções, e sempre em sua relação com os outros. O teatro para crianças, que deve ser entendido como uma arte, acentua o caráter de ficção e de jogo, e é talvez uma das formas artísticas que oferece maiores possibilidades para o desenvolvimento de uma personalidade integrada, à qual alude o terceiro ponto.
Aspectos
Neste sentido, cabe considerá-lo em seus dois aspectos; a) como espetáculo para a criança, oferece-lhe a oportunidade de projetar-se na ação dramática, de participar por via imaginária e afetiva nos mais saudáveis princípios e nos mais elevados sentimentos da humanidade, como já o expressáramos a propósito da arte em geral, e também de lograr um possível efeito catártico com relação a certas emoções; b) como atividade realizada pela própria criança, pensamos que deve ser entendido não como um produto a ser exibido, mas como um recurso educativo que tem por finalidade o desenvolvimento sem bloqueios dos mecanismos de expressão, seja pela linguagem ou pela ação, e favorecer a integração da criança ao obrigá-la a abandonar o exclusivo ponto de vista egocêntrico e a ver-se a si mesma, e a ver os outros, em suas relações com os demais. Tudo isso sem prejuízo da função meramente recreativa da qual todo homem, e com maior razão a criança, tem necessidade.
Resumo
O quarto ponto resume as linhas gerais do tema. Na educação estética da criança o teatro há de contribuir para a moralização e integração do indivíduo, buscando lograr uma personalidade harmoniosa em seu duplo sentido: coerente consigo mesmo e em relação positiva com o meio social, disposta a fazer prevalecer nele os valores compatíveis com a felicidade do grupo. Se nos dizem que isto é tarefa dos educadores e não do homem de teatro, recordaremos que todo homem é um educador potencial - em sentido positivo ou negativo - frente a uma criança, e que, portanto, quem se dedica ao teatro para crianças tem o dever inevitável de assumir não só as responsabilidades de homem de teatro, mas também as de educador.
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Extraído da revista "Duende", da Associação Uruguaia de Teatro para a Infância e a Juventude. Abril de 1978 - palestra realizada durante um seminário sobre teatro infantil realizado em setembro de 1977, em Montevidéu. Este artigo está publicado na revista Cadernos de Teatro nº 78/1978, edição já esgotada.
quinta-feira, 7 de maio de 2009
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