quarta-feira, 27 de maio de 2009

Teatro/CRÍTICA

"É a mãe"

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Delicioso 'sofrimento' no Leblon


Lionel Fischer


Dizem que ser mãe é padecer no paraíso. Ainda que muito utilizada e aceita, e desde tempos imemoriais, tal assertiva não deixa de exibir uma curiosa contradição, posto que "padecer" implica em sofrimento e nos parece que o paraíso não seria o local apropriado para sentimentos desta natureza. Seja como for, e padecimentos e paraísos à parte, o presente texto nos coloca diante de muitas mães, inclusive a de todos nós - a Virgem Maria -, todas elas invariavelmente enlouquecidas com as diversificadas atitudes de seus filhos e filhas, que não compreendem ou simplesmente fazem questão de não compreender.

Em cartaz no Teatro do Leblon, "É a mãe" leva a assinatura de Ana Velloso e Vera Novello, que contaram com a colaboração de Ana Paula Botelho na elaboração final do texto. Ana Velloso responde pela direção, estando o elenco formado por Ana Velloso, Ana Paula Botelho, Stella Maria Rodrigues e Vera Novello, que encarnam 20 personagens.

Ao contrário de muitos autores contemporâneos que, possuidores de extrema modéstia, acreditam piamente que a dramaturgia universal pode ser dividida em antes e depois de suas obras, as dramaturgas da presente peça deixam perfeitamente claro que tinham por objetivo apenas divertir a platéia, levando-a a identificar-se com as muitas mães - e filhos, filhas, sogras etc. - que convertem a cena numa espécie de familiar hospício.

Contendo bons personagens, diálogos fluentes e cenas quase sempre muito divertidas, "É a mãe" reúne todas as condições para cumprir bela temporada, pois a reação da platéia na última terça-feira foi a melhor possível, inclusive quando as atrizes abandonam seus personagens e interagem com os espectadores, numa passagem hilariante cujo tema é coleta de sêmem.

Quanto ao espetáculo, Ana Velloso impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o texto, criando marcas criativas e divertidas. E no tocante ao elenco, as quatro atrizes exibem performances irrepreensíveis, extraindo todo o potencial de cada um dos muitos personagens.

Na equipe técnica, a mesma eficiência se faz presente no trabalho de todos os profissionais envolvidos nesta simpática empreitada - Ricardo Rente (direção musical e arranjos), Bia Gondomar e Dani Vidal (cenografia e figurinos) e Aurélio de Simoni (iluminação). Cabe ainda destacar a direção de imagem de Anderson Lago e a participação em vídeo de Isio Ghelman - um dos melhores e mais simpáticos atores cariocas.

É A MÃE - Texto de Ana Velloso e Vera Novello - com a colaboração de Ana Paula Botelho. Direção de Ana Velloso. Com Ana Velloso, Ana Paula Botelho, Stella Maria Rodrigues e Vera Novello. Teatro do Leblon (Sala Fernanda Montenegro). Terças e quartas, 21h.

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