Teatro/CRÍTICA
"Cyrano de Bergerac"
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Obra-prima em versão amadorística
Lionel Fischer
Autor dramático francês, Edmond Rostand (1868-1918) especializou-se em escrever dramas românticos em verso. Mas de seus sete textos, apenas dois ainda são encenados com relativa frequência: "L'Aiglon" (1900), que estreou protagonizado por Sarah Bernhrardt, e sobretudo "Cyrano de Bergerac" (1898), este último levado às telas com grande sucesso, com o papel principal sendo interpretado por Gerad Depardieu.
Agora, o público carioca tem a oportunidade de conferir o belíssimo texto "Cyrano de Bergerac", em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim. O poeta Ferreira Gullar assina a traduação e a adptação, estando a direção a cargo de Renato Carrera. No elenco, Oddone Monteiro (Cyrano), Márcia Méll (Roxana), Rodrigo Phavanello (Cristiano), Ricardo Tostes (Ragueneau), Breno Pessurno (De Guiche), Eduardo Salles (Le Bret), Heitor Cassiano (Valvert/Cadete), Bruno Seixas (Lignière/Cadete), Thalita Rocha (Lise/Irmã Marta), Fátima Esteves (Aia/Madre), Antonio Rossano (Montfleury/Capuchinho/Cadete), Luciana Cazz (Cuigy/Cadete), Márcio Maia (Carbon), Felipe Bondaroski (Cadete) e Bruno Barros (Bellerose/Cadete).
Por tratar-se de um enredo bastante conhecido, não julgamos imperioso aqui reproduzí-lo. Mas algumas considerações sobre esta versão tornam-se imprescindíveis, dada a gravidade do que acontece na cena. Exceção feita à ótima tradução de Gullar e de sua adaptação não menos notável, tudo o mais - ou quase tudo - merece ser seriamente questionado, o que tentaremos fazer a seguir tentando ao máximo, como de hábito, manter o respeito pelos profissionais envolvidos no projeto, que certamente se empenharam muito para que desse certo.
Antes de mais nada, cumpre registrar que, por tratar-se de um texto em versos, tal premissa exige um elenco minimamente capaz de dizê-los com a naturalidade inerente à prosa, pois a intenção do autor foi a de criar uma trama plausível, repleta de emoção e poesia, e não uma espécie de poema dramatizado, com suaves pitadas teatrais. Em absoluto: Rostand escreveu uma peça de teatro, com ótimos personagens e ações absolutamente convincentes.
No entanto, o despreparo dos atores é de tal magnitude que além de não conseguirem conferir um mínimo de credibilidade aos papéis que interpretam, ainda por cima erram o texto a todo momento, evidenciando uma insegurança e um nervosismo que em muito ultrapassam o que seria tolerável em uma estréia.
Quanto à direção de Renato Carrera, o espetáculo começa de forma atabalhoada, confusa, com o elenco aos gritos pela platéia sem nenhuma justificativa para assim agir. E quando a montagem ganha o palco, apenas uma ou duas passagens revelam um desenho cênico minimamente coerente com a narrativa. Mas também cabe registrar que nem Peter Brook, tendo à sua disposição um elenco ainda tão fraco - ao menos para encarar o presente desafio - conseguiria conferir algum interesse à materialização desta obra-prima.
Com relação à equipe técnica, podem ser considerados corretos o cenário de Maurílio Dias, os figurinos de Guilherme Tavares e a iluminação de Rogério Wiltgen - se bem que, por razões inexplicáveis, em várias passagens os atores se colocam justamente fora do foco principal que sobre eles recai.
CYRANO DE BERGERAC - Texto de Edmond Rostand. Tradução e adaptação de Ferreira Gullar. Direção de Renato Carrera. Com Oddone Monteiro, Márcia Mell, Rodrigo Phavanello e outros. Casa de Cultura Laura Alvim. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h
sexta-feira, 1 de maio de 2009
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Concordo em grau, gênero e número. É tão trash que chega a virar uma comédia sensacional!!!!!!!
ResponderExcluirDifícia julgarmos uma linguagem poética tão difícil de ser dita. Fui na estréia e não posso ser tão radical em achar que todo o elenco é amador. Tem atores como Breno Pessurno (De Guiche), Ricardo Tostes (Ragueneau) e Heitor Cassiano (Valvert), apesar dos presonagens pequenos que os interpretam, conduzem com clareza e nos mostram grande segurança. A peça como um todo pode ser fraca, mas temos que aplaudir, pois grande profissionais de luz, som etc estão ali envolvidos.
ResponderExcluirMithizi Freire
Mirtes, se comparado a Hamlet essa montagem de cyrano é ainda mais vergonhosa do que parece em uma primeira vista.
ResponderExcluirRisível!!
ResponderExcluirUma das piores montagens que já vi em minha vida. Se não fosse pela luz e pelo cenário, sequer pareceria teatro profissional!
A morte de Cyrano arranca gargalhadas da platéia...por aí vê-se bem com que falta de cuidado esse brilhante texto foi tratado.
Ouve-se conversas na cochia, vê-se esmalte vermelho nas mãos de uma das freiras...uma falta de cuidado sem limites.
Marcia Mel, aguda e esganiçada, diz o texto, apenas.
Cyrano não tem o nariz que deveria ter, nem é tão eloquente quanto deveria ser.
Enfim, em diversos momentos tive vontade de esconder a cara de tanta vergonha e constrangimento.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEsqueci-me de comentar sobre os vídeos e a música, que também foram bons, assim como a luz e o cenário.
ResponderExcluirVi, também, bons atores em papéis secundários, mais concentrados e empenhados do que os protagonistas.