sábado, 6 de março de 2010

Dicionário de Teatro


Lançado em 1987 pelo ator, diretor, dramaturgo, pesquisador e professor gaúcho Luiz Paulo Vasconcellos, o livro acaba de receber nova edição. Trata-se de uma obra abrangente, de altíssima relevância e de extrema utilidade para todos aqueles que se interessam pelo fenômeno teatral, e a recomendamos com o maior entusiasmo. A editora é a L&PM POCKET. E o livro pode ser adquirido tanto em livrarias como em bancas de jornal. E por tudo que acaba de ser dito, colocarei aqui apenas um verbete de cada letra do alfabeto, como um saboroso aperitivo, cabendo ressaltar que a escolha dos verbetes foi aleatória. (LF)


A -

À VALOIR - Expressão francesa de uso universal cuja tradução é "por conta". Usa-se em transações de direitos autorais quando determinada quantia, geralmente calculada em dólares, é paga antecipadamente ao autor de uma peça ou a seu representante legal, dando ao Produtor, a partir daí, a posse dos direitos de encenação por determinado período de tempo.


B -

BALADA - Em termos literários, a balada consiste num tipo de poesia narrativa, histórica ou fantástica, cuja forma utiliza o esquema de pergunta e resposta. Devido a essa estrutura, a balada é tida como uma manifestação pré-dramática.


C -

CACO - Gíria. Pequena improvisação verbal feita pelo ator durante o espetáculo. O caco pode visar ao efeito cômico ou simplesmente superar uma falha de memória. Um exemplo divertido dessa segunda modalidade é o contado por Paulo Autran (1922-2007) na entrevista concedida a Simon Khoury, publicada em Atrás da máscara (vol. 2, p. 169): "Aconteceu na época do TBC em que aos sábados a peça era realizada três vezes, eram três sessões. Quando chegava na terceira sessão, o Ziembinski, coitado, exausto, muitas vezes misturava português com polonês, quando não cochilava! A pesonagem que a Cacilda fazia, depois de se preparar toda, chega perto do marido e diz que vai dar um passeio. O Ziembinski, então, chama o empregado, papel feito por Josef Guerreiro, e deveria dizer: 'Atrele os cavalos que madame vai sair'. Em vez disso, ele falou: 'Atrele os cachorros que madame vai sair'. Na mesma hora o Josef Guerreiro respondeu: 'Madame vai de trenó?'"


D -

DAMA-CARICATA - No Brasil do século XIX, nome dado à Personagem-Tipo feminina de meia-idade, de natureza cômica, muito comum na Comédia de Costumes. Também chamada simplesmente de "caricata".


E -

EKKIKLEMA - Recurso cenográfico usado no antigo Teatro Grego. Literalmente, significa "sobre rodas", o que faz supor tratar-se de um praticável móvel que entrava e saía de cena com objetos ou pesonagens.


F -

FLASHBACK - Artifício de narrativa dramática que consiste na apresentação de acontecimentos pertencentes ao passado dos personagens. O objetivo do flashback é tornar conhecida a Ação Interior, ou seja, informar sobre acontecimentos ocorridos antes do início da peça.


G -

GELATINA - Folha de material transparente flexível - poliéster, policarbonato ou outro - que é colocada junto à lente do refletor para produzir efeitos de cor nos focos de luz.


H -

HISTRIÃO - Palavra derivada do etrusco através do latim histrione. No antigo Teatro Romano, era o nome dado aos mimos, jograis ou comediantes que representavam farsas. Também sinônimo de ator.


I -

ILUMINADOR - Aquele que idealiza, projeta e supervisiona a execução da iluminação de um espetáculo. Difere do eletricista por não ser, necessariamente, um técnico em eletricidade, mas sim um criador de efeitos visuais de luz.


J -

JORNADA - Nome dado a cada uma das partes em que se dividia o drama religioso na Idade Média. O intervalo entre duas jornadas podia variar entre uma e 24 horas.


K -

KATHAKALI - Gênero de teatro praticado na Índia considerado de origem divina. Trata-se de uma mistura de dança, mímica, canto e texto dramático, cujos temas são extraídos do Mahabharata.


L -

LENAIA - No antigo Teatro Grego, o festival realizado em janeiro em honra ao deus Dionisos. A competição dramática incluía inicialmente apenas o gênero comédia, mais tarde incorporando também o da tragédia.


M -

MERDA - Gíria usada entre os atores, na França e no Brasil, para desejar sorte antes do início do espetáculo. Corresponde à expressão norte-americana break a leg.


N -

NAU CATARINETA - Narrativa popular portuguesa sobre as aventuras e desventuras dos descobridores na travessia do oceano Atlântico. O tema reaparece no Brasil na forma do Fandango nordestino.


O -

ORESTEIA - Trilogia de Ésquilo (525-456 a. C.) composta pelas tragédias Agamêmnon, As Coéforas e As Eumênides, apresentada pela primeira vez em Atenas em 458 a. C. A Oresteia é o único exemplo completo de como as tragédias concorriam na Grande Dionisíaca.


P -

PANELÃO - Grande rebatedor em forma quadrangular feito de folha que contém um certo número de lâmpadas. Serve para iluminar superfícies planas ou as entradas de cena, oferecendo luz intensa e difusa.


Q -

QUADRO VIVO - Conforme o próprio nome indica, trata-se de uma cena apresentada por um grupo de pessoas como se fosse um quadro, isto é, sem movimento. Muito usado em representações colegiais, em cenas históricas, bíblicas ou alegóricas.


R -

ROTUNDA - Cortina, geralmente de cor preta, que cobre todo o fundo da Caixa Cênica, delimitando o espaço do palco. Conjugada a três ou quatro rompimentos, forma um espaço cênico que é a representação mais próxima possível da neutralidade.


S -

SAÍDA FALSA - Tipo de marcação muito usada na comédia. Trata-se do movimento em que o ator para ou volta atrás após haver feito menção de sair.


T -

TIRANO - No Brasil do século XIX, nome dado à personagem que coloca em risco a honra e as boas intenções do Herói na Comédia de Costumes e no Melodrama. Também chamado de "cínico". Trata-se, na organização do conflito dramático, do principal agente de oposição, o Vilão.


U -

URDIMENTO - Em termos gerais, nome dado à parte da Caixa Cênica localizada acima do palco. Especificamente, grade resistente de madeira ou de ferro que se estende sobre toda a área do palco, acima deste, e que serve de apoio para toda operação de funcionamento dos efeitos cênicos.


V -

VOMITÓRIA - No Teatro Romano, cada um dos corredores laterais que serviam de acesso ao Pulpitum. Acima de cada vomitória havia um camarote que era utilizado pelos magistrados que supervisionavam as festividades ou por outra personalidade importante.


Z -

ZANNI - Termo genérico que designa o grupo de personagens da Commedia Dell' Arte ao qual petencem os criados cômicos. O nome resulta de uma corruptela de Gianni ou Giovanni em dialeto veneziano. Outra teoria liga o termo à palavra grega sannos, que quer dizer bobo, ou ao latim sannio, que é o nome do ator de pantomimas. O zanni é geralmente esperto, malicioso, bonachão ou estúpido, mas sempre glutão. Usa meia-máscara de couro, barba descuidada, chapéus de abas largas e uma adaga de madeira sem fio no cinto. Provavelmente, o mais conhecido zanni, na atualidade, seja o Arlequim.

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