Teatro/CRÍTICA
"Ato de comunhão"
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Meticulosa frieza de um canibal
Lionel Fischer
Um menino de oito anos comemora seu aniversário. Mas a festa o traumatiza, pois é logo eliminado num jogo de videogame envolvendo carros de fórmula 1. Anos mais tarde, em sua juventude, acompanha o enterro da mãe, assistido apenas por dois coveiros e um pastor anglicano. Essa cerimônia também o traumatiza. Finalmente, já formado em engenharia e freqüentador assíduo de chats de encontro na internet, recebe em sua casa um homem que conhecera navegando e literalmente o devora, com total aprovação daquele que decidira morrer.
Baseado na história real de Armin Meiwes (ocorrida em 2001), que ficou conhecido como o canibal alemão, "Ato de comunhão" está em cartaz Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto. De autoria do argentino Lautaro Vilo, a montagem chega à cena protagonizada e dirigida por Gilberto Gawronski, com codireção assinada por Warley Goulart.
Se fosse psicanalista, talvez pudesse encontrar uma explicação, ainda que parcial, para a conduta do personagem em função dos traumas por ele sofridos e acima mencionados. Não o sendo, posso apenas supor que ele já possuía uma natureza patológica, quem sabe perversa, e que aflorou de forma aterradora graças à sua obsessão em navegar por chats freqüentados por masoquistas ou transgressores, tanto no que se refere ao sexo como a uma vasta gama de tabus.
Seja como for, o que nos é apresentado é uma história densa, contada pelo personagem diretamente para a platéia juntamente com sua voz em off, não raro ao mesmo tempo - em alguns momentos, o personagem se cala e sua voz gravada traduz pensamentos não explicitados.
E a forma como a narrativa chega até o público impressiona pela frieza e meticulosidade do protagonista, que mantém quase sempre o mesmo tom de voz e a mesma cadência rítmica, tanto nas passagens mais horripilantes quanto naquelas em que o humor predomina, sendo tais passagens muitas vezes ilustradas por vídeos, operados pelo personagem.
Tendo como cenografia uns poucos elementos (basicamente uma cadeira de barbearia, um espelho, um cabideiro e um tripé com uma câmera), a encenação valoriza ao máximo o instigante texto de Lautaro Vilo, interpretado de forma irrepreensível por Gilberto Gawronski. E neste particular, cabem algumas considerações.
Um observador pouco atento pode acreditar, erroneamente, que Gawronski realiza um trabalho sem maior relevância, isento de desafios, posto que, como já foi dito, mantém quase sempre o mesmo tom de voz e a mesma cadência rítmica. Ocorre, porém, que são justamente tais opções que enfatizam o caráter doentio do personagem, que jamais se arrependeu do ato que cometeu e chega até mesmo a considerá-lo um ato de caridade, já que o homem que vai à sua casa desejava morrer.
Em resumo: estamos diante de um espetáculo curto, inquietante, levado à cena de forma primorosa e que, ao que imagino, poderá servir como material de reflexão sobre os tempos atuais, cada vez mais apoiados na virtualidade do que no real da vida.
Com relação à equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo a ótima tradução de Amir Harif e os excelentes vídeos de Jorge Neto, sem dúvida fundamentais para o êxito do presente espetáculo.
ATO DE COMUNHÃO - Texto de Lautaro Vilo. Tradução de Amir Harif. Atuação e direção de Gilberto Gawronski, com Warley Goulart respondendo pela codireção da montagem. Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto. Quinta a sábado, 19h. Domingo, 16h.
quinta-feira, 5 de maio de 2011
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Gawronsky foi meu professor de na CAL em 1996 e fizemos a peça de formatura "O Concílio do Amor" de Oskar Panizza. Foi uma das maiores experiências da minha vida que me fizeram uma pessoa muito melhor hoje. Não tenho trabalhado como ator ultimamente, mas sou ator pra sempre pelo que Gilberto Gawronsky passou pra mim com sua maestria e sensibilidade. Um grande abraço pra ele, do seu amigo, Anderson Rocha.
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