quinta-feira, 26 de maio de 2011

Teatro/CRÍTICA

"Loucura - um autoelogio desconcertante"

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Ótima versão de um clássico


Lionel Fischer


Nascido Desidério Erasmo, mas conhecido como Erasmo de Rotterdam (1467-1536), o pregador do evangelismo filosófico ingressou na ordem dos agostinianos e tornou-se padre, e pouco depois aceitou o cargo de secretário do bispo de Combai, na França. Em Paris, estuda teologia e em 1499 viaja pela primeira vez à Inglaterra, onde toma contato com o movimento humanista e conhece aquele que seria seu melhor amigo, Thomas More.

Autor de vasta e diversificada obra, uma delas despertou acirrada polêmica: "Elogio da Loucura" (dedicada a Thomas More), onde apresenta a loucura como uma deusa que conduz as ações humanas. Identifica a loucura no casamento, na guerra, na formação das cidades, na manutenção de governos, na religião e na justiça. Além disso, critica muitas virtudes humanas, em especial a mediocridade e a hipocrisia.

Narrado na primeira pessoa pela Loucura, "Elogio da Loucura" está em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim. Brunna Napoleão assina a direção da montagem, estando a cargo de Paula Goja a adaptação e a interpretação da única personagem.

Sendo Erasmo de Rotterdam um gênio, nada mais natural que suas reflexões sejam mais do que pertinentes, ainda que passíveis de contestação - como já dito, a obra gerou acirradíssimas polêmicas. Mas é simplesmente brilhante, cabendo ressaltar a veia satírica do autor e sua espantosa capacidade de detectar absurdos tanto na filosofia como na fé e no comportamento humano, de uma maneira geral. 

Por tratar-se de uma adaptação, é evidente que nem todo o livro foi encenado. Mas diante do material apresentado, o espectador que porventura desconheça a presente obra e/ou as demais escritas pelo autor, certamente terá acesso a algumas das principais ideias e pensamentos do imortal filósofo holandês.

Quanto ao espetáculo, ainda que estruturado de forma confessional, o mesmo transcorre pleno de teatralidade, pois a diretora Brunna Napoleão imprimiu à cena uma dinâmica que, valendo-se de muitos e encantadores elementos, permite à Loucura  explicitar seus pensamentos sempre de uma forma teatral.

Na pele da protagonista, Paula Goja exibe performance totalmente convincente, tanto no que diz respeito ao texto articulado quanto à expressividade corporal. A mesma eficiência se faz presente na encantadora cenografia de Márcia Breves e na sensível iluminação de Wilson Reis, cabendo ainda destacar a ótima direção de movimento de Isabel Chavarri.

LOUCURA - UM AUTOELOGIO DESCONCERTANTE - Texto de Erasmo de Rotterdam. Direção de Brunna Napoleão. Adaptação e atuação de Paula Goja. Casa de Cultura Laura Alvim. Terça e quarta, 21h.

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