Encontro com um estranho
de Cherie Vogestein
Tradução:
Renata C. Bottino
Personagens:
Paula - 29 anos
Clark - 31
Executivo - 40 anos
Cenário: um bar
(Um jantar típico de Manhattan: Paula mordisca um bolinho enquanto olha de rabo de olho para Clark, sentado a dois bancos de distância dela. Clark, constrangido, lê Minha Mãe, Meu Modelo, e quando pode, lança olhares furtivos para Paula. No fim do balcão, um executivo lê, impassível, o The Wall Street Journal)
Paula (Estica o braço pela frente de Clark na hora de pegar o açúcar) - Dá licença.
Clark (Sorri e passa o açúcar para a moça) - Não, não, pode pegar.
Paula - Eu gosto muito, muito mesmo de botar bastante açúcar no meu café. (Clark ri e Paula também. Nervosa, continua despejando açúcar) E agora isso vai ficar horrível! (Ambos riem e Clark volta ao livro) Sabe, eu estava vendo você virar todas essas páginas. E fiquei aqui pensando comigo mesma: “Será que ele está realmente lendo esse livro?”
Clark - Bem, é o que eu sempre digo: quando a pessoa está lendo, para quê fingir, não é?
Paula - Tem gente que diz isso sobre orgasmos, mas…
Clark - Mas?!
Paula - Ah, meu Deus! Como foi que… estou tão envergonhada… não sei o que dizer!
Clark - Sabe sim, ora … quem sou eu? Um estranho, ninguém, nada… fala pra mim!
Paula - Tá bem, mas e se a gente saísse para jantar no Ernie's, por exemplo, onde a gente podia comer salada, pão, massa verde com amêndoas e…
Clark - Tenho alergia a amêndoas.
Paula - É mesmo? Sou alérgica a lactose! Que engraçado!! De qualquer maneira, a gente pegaria um táxi para ir para casa, entraríamos no apartamento às escondidas, nos beijaríamos na boca como dois adolescentes e talvez você tivesse dificuldade em desabotoar meu sutiã…
Clark - Como é que você sabe?!
Paula - Bem, se a gente, você sabe, fizesse aquilo, agora que eu te disse que, você sabe, que eu finjo ter orgasmos, você ia ficar preocupado, achando que eu estava fingindo o tempo todo.
Clark - Não, mesmo! Por que eu ia ligar para isso?
Paula - Você não liga?
Clark - Bem, não, eu ligo, ligo mesmo. Mas entenda, se eu te dissesse que ligava, você ia ficar com vergonha de fingir e eu quero que você se sinta à vontade para fingir. Quero que você tenha muito prazer em fingir, entende?
Paula - Entendo, sim. Você... não é bissexual não, né?
Clark - Quem, eu? Pera aí, eu pareço…
Paula - Não, é que…
Clark - Eu não sou…
Paula - É que… você é tão sensível…
Clark - Bem, eu gostei do seu jeito de tomar a iniciativa…
Paula - O quê?! Então, era isso que você pensou que eu estava fazendo?
Clark - Não era essa a sua intenção?
Paula - Não que parecesse que eu estava fazendo isso…
Clark - Ah, bem, não pareceu não. Foi só a minha intuição feminina.
Paula - Que história é essa de intuição feminina, hein, cara?
Clark - Nada. Eu só quis dizer que… Eu tenho um lado feminino muito forte.
Paula - Ih, eu também!
Clark - O que não quer dizer que eu não seja um homem de verdade. Mas ainda assim eu leio livros como Minha Mãe, Meu Modelo, porque eu ligo para isso.
Paula - Você… você sente atração por mim?
Clark - Por quê? Você sente atração por mim?
Paula - Eu perguntei primeiro.
Clark - É, mas eu perguntei logo depois de você, bem rápido.
Paula - É, mas pra você é muito importante que você se sinta um caçador, senão… pã, pã, pã… Meu Deus, eu adoro pês e palavras que começam com p. Você consegue pensar em algumas? Porta, ping-pong, pênis, pudim… estou embromando…eu me sinto vulnerável com esse papo de atração. Você não me respondeu, você não quer me responder… polícia, pomba, presépio…
Clark - Olha, eu quero muito te responder e, acredite, vou fazer isso, mas antes eu quero te dizer uma coisa primeiro e vou fazer isso agora: eu posso me sentir sendo milhões de coisas, mas definitivamente eu não me vejo como um caçador, ok?
Paula - Obrigada, é bom saber disso. (Engole alguns comprimidos, sorri)
Clark - Você fica bonita quando sorri.
Paula - E quando eu não estou sorrindo?
Clark - Você continua bonita.
Paula - Qual a intensidade da minha beleza?
Clark - Você é muito bonita.
Paula - Mais bonita, digamos, que a sua última namorada?
Clark - Ah, sim, eu diria que sim.
Paula - Diz.
Clark - Você é mais bonita do que a minha última namorada.
Paula - Ah, você só está falando por falar. Bem, eu não acho que a minha aparência é a coisa mais importante do mundo, sabe.
Clark - Que bom!
Paula - Como assim?
Clark - Bom, a beleza é superficial.
Paula - Papo furado, cara. Jura pela vida da sua mãe que eu sou mais bonita.
Clark - Com prazer. Eu odeio a minha mãe.
Paula - O que você está querendo dizer, droga?
Clark - Ela realmente sabe como me deixar louco… sabe, você me fez lembrar dela de um jeito engraçado.
Paula - Da sua mãe?
Clark - Não, da minha ex-namorada.
Paula - Ah! Pior ainda!
Clark - Por que?
Paula - Bem , é o seguinte: você quis se casar com essa mulher?
Clark - Não mesmo.
Paula - Não? Não mesmo?
Clark - Bem…
Paula - Olha: você terminou com ela ou ela terminou com você?
Clark - Na verdade, eu não sei bem como explicar…
Paula - Que tal responder que ela te jogou fora como se você fosse um trapo velho?
Clark - Isso! Foi assim mesmo!
Paula - Que lindo!
Clark - Eu não estou entendendo!
Paula - Como você acha que eu estou me sentindo? Você ainda tá com a maior dor de cotovelo por causa dela, meu Deus.
Clark - Não.
Paula - Detesto me sentir como a substituta. Se ela te quisesse, você ainda estaria com ela e não comigo. Quer dizer, era só o que me faltava!
Clark - Por favor, escuta. Você não precisa se preocupar com isso. Eu estava louco para terminar com ela mesmo. Quer dizer, as consultas dela aumentaram muito!
Paula - As consultas?
Clark - Ela era minha terapeuta.
Paula - Você fazia sexo com a sua terapeuta?
Clark - Bem, claro. No final, a gente não tinha mais o que falar, entende?
Paula - É claro que eu não sei disso não.
Clark - Ah, é lógico que não. Você não poderia entender mesmo. A verdade é que você é totalmente diferente dela. Você é mais bonita. E não olha para o relógio. Você é mesmo muito especial! Eu juro.
Paula - E na primeira vez que me viu, você sentiu um troço?
Clark - Um troço?
Paula - Sabe, aquela sensação de que toda a sua energia está indo para a sua cueca… Você sentiu isso comigo?
Clark - Ah, tá, eu senti isso sim. E ainda estou sentindo. (Chega mais perto) Oi, eu me chamo Clark.
Paula - É esse o seu nome? Clark? Adorei...“Clark.” Eu nunca tinha conhecido um Clark antes. É tão extravagante! (Dá um gole no café) “Clark.” Adoro dizer seu nome: “Clark, Clark.” É como usar dentaduras de um jeito bonito. (Novo gole) “Clark.” Eu podia ficar falando o dia todo. “Clark, Clark, Clark...”
Clark - É, você engoliu essa, mas, escuta, será que eu posso ser franco com você?
Paula - Ah, meu Deus! Eu gostei tanto de você se chamar Clark…
Clark - Não, não, eu estou falando do café. Você tem que largar isso.
Paula - Tenho? Tá certo. (Paula joga a xícara de café por cima do ombro)
Executivo - Que diabo…
Clark - É, esse é o centro de tudo: o sacrifício.
Paula - É! Você é judeu?
Clark - Agora é você que quer saber? Não. E você?
Paula - Na verdade, sou judia sim. Me envolvo bastante com a minha religião.
Clark - Ah! Você é muito envolvida com isso?
Paula - Sou tão envolvida que eu nunca me casaria com alguém que não fosse judeu.
Clark - Mesmo? Isso não é nada bom.
Paula - Está bem. Olha, talvez eu me case. Não sou fanática, sabe.
Clark - Que bom!
Paula - Ah, Clark, não seria ótimo se a gente pudesse pular todas as formalidades e ir logo dividir o mesmo apartamento, nos envolvendo e nos esforçando de verdade para que dê certo?
Clark - Seria, mas você ainda não me disse o seu nome.
Paula - Adivinha.
Clark - Ah, gostei. Diferente.
Paula - Não. É para você adivinhar o meu nome.
Clark - Ah, tá. (Pensa) Debbie?
Paula - Acertou.
Clark - Mentira?! Eu acertei? Não acredito que adivinhei na primeira tentativa. Isso é incrível! Mas eu sabia, sabe? Você tem cara de Debbie. Eu sabia que você tinha que se chamar Debbie.
Paula - Que engraçado. Meu nome não é Debbie. Eu estava só te testando. Meu nome é Paula.
Clark - Oh, você é uma pessoa muito complicada, não é Paula?
Paula - Michelle. É engraçado você achar que eu sou complicada, pois durante toda a minha vida, as pessoas vivem comentando como é incrível eu ser tão frívola.
Clark - Que engraçado! Mas eu acho que eu quis dizer que você é tão frívola que eu achei que isso era muito complicado já que eu mesmo sou complicado de algum modo.
Paula - Você é complicado, é? Ou será que você não é só um grande bufão com mania de grandeza?
Clark - Ih, oh…
Paula - Pára com isso, Annete. Estou muito brava comigo mesma. Quer dizer, é assim que eu destruo todos os meus relacionamentos. Por quê? Por que eu tenho que me proteger às suas custas, Ken?
Clark - Clark.
Paula - Isso! Por que será que eu tenho tanto medo de me envolver? Quer dizer, por que será que eu não deixo de ser tão recatada com você e não fico nua na sua frente e te amo de corpo e alma, meu Deus?
Clark - Essas suas perguntas são boas.
Paula - Às vezes, eu sonho que moro numa comunidade judaica em Varsóvia e a minha vida é tão simples: sei qual é o meu lugar, tenho o que comer e vivo em paz. Até que, é claro, os cossacos chegam e espancam o meu pai e o jogam numa vala e estupram as minhas irmãs a toda hora… é, isso seria bom.
Clark - Escuta, você é real mesmo, não é? Você é louca de achar que está lá.
Paula - Onde?
Clark - Aqui. Na verdade, você está aqui.
Paula - Meu Deus, você sabe onde eu realmente estou.
Clark - Olha só: eu vendo títulos pra pessoas que querem ser sócias de academias de ginástica. É isso que eu faço.
Paula - Ah!
Clark - Você ficou chocada.
Paula - Ah, agora você vai dizer que nós, judias, só estamos interessadas em dinheiro e sucesso, não é? É como a minha mãe me avisou, no fim das contas isso sempre acontece, não é? Os góis sempre acabam chamando os judeus de nojentos.
Clark - Olha, eu vou te xingar de muitos nomes odiosos, abomináveis, repugnantes, podres, horrorosos, feios, mas judia nojenta não está entre eles.
Paula - Ah, Clark, me conta todos os seus pecados.
Clark - Pra quê?
Paula - Para que eu me sinta superior a você.
Clark - É isso mesmo que você quer? Eu não devia ter dito…
Paula - Antes de mais nada, meu amor…
Clark - Desculpa eu ter te acusado, eu…
Paula - Desculpa eu ter dito aquilo, eu…(Os dois riem)
Clark - Nossa primeira briga! Foi inevitável!
Paula - Foi legal.
Clark - Nos aproximou mais.
Paula - Tem um negócio no seu nariz.
Clark - Ahá! Você está tentando se afastar de você mesma. Você não é assim, Michelle…
Paula - Annete.
Clark - Susan.
Paula - Janet.
Clark - Paula.
Paula - Isso! Meu Deus! Como você me conhece bem!
Clark - Muito bem.
Paula - Bota bem nisso. Clark! Nova York é tão aterrorizante! Nós estamos aqui, tão íntimos quanto dois humentaschen numa mesma travessa e você pode estar bolando o meu assassinato enquanto a gente conversa.
Clark - Acredite, não é isso que eu estou bolando.
Paula - É mesmo? O que você está bolando?
Clark - Nem queira saber.
Paula - Eu quero saber.
Clark - Eu estava tendo umas fantasias malucas.
Paula - São nojentas?
Clark - Bobas.
Paula - Obscenas?
Clark - Irreais.
Paula - Tem a ver com animais?
Clark - Não.
Paula - Então me conta.
Clark - Eu estava imaginando você usando uma roupa branca, delicada e com umas ondinhas.
Paula - Um jaleco de hospital?
Clark - Não, é um… um vestido de noiva.
Paula - Ah, Clarky, gostei!
Clark - E eu estou usando um chapéu preto de pele e essas costeletas grandes que os adeptos do Chassidismo usam. Como é o nome disso?
Paula - Hassidismo.
Clark - O quê?
Paula - Não é Chassidismo, é Hassidismo.
Clark - Não, eu estava falando das costeletas. Qual é o nome dessas costeletas?
Paula - Olha, eu não leio pensamentos.
Clark - Eu não sou judeu.
Paula - Eu não sou terapeuta.
Clark - Eu não sou cleptomaníaco!
Paula - Xeque-mate. (Tira o saleiro da bolsa e o recoloca no balcão) Continua.
Clark - Não consigo pensar em mais nada.
Paula - Tá. Eu estava pensando no que eu ia dizer enquanto você estava falando.
Clark - Tá legal. Eu pensei no que eu ia dizer enquanto você estava falando.
Paula - Ah, por favor, tenta não fazer mais isso. Assim você fere meus sentimentos. Ou seja, a gente está à beira do altar e… pera aí, Clark, você é circuncidado?
Clark - Bem…
Paula - Quer dizer que você ainda tem o seu prepúcio?
Clark - Não tenho isso não.
Paula - Então se converte.
Clark - Ah, é um grande passo.
Paula - Então faz isso pelo bebê.
Clark - Pelo bebê?
Paula - Eu estou grávida.
Clark - Mesmo?
Paula - É uma fantasia.
Clark - Esse filho é meu?
Paula - É claro, quem você pensa que eu sou?
Clark - Olha, eu não sou muito bom com crianças. É bom você ficar sabendo disso também.
Paula - Eu não acredito em você.
Clark - Pode crer.
Paula - Como é que você sabe?
Clark - Eu sei.
Paula - Mas como é que você sabe?
Clark - Porque eu sei, Paula. Não quero discutir isso não!
Paula - Ei! Eu acho que a gente devia conversar um pouquinho sobre o assunto. O que você acabou de levantar não é um probleminha insignificante. Você veio com a bomba… Acho que eu tenho o direito de saber!
Clark - Tá bem, tá bem. Eu não sou bom em esconder as coisas. Dez anos de terapia, sete dias por semana, inclusive nos feriados, destruíram minha capacidade de esconder as coisas. Não posso esconder isso de você. Parece que eu não consigo esconder nada de você. Eu sou estéril, Paula. Sou um meio homem. Nem isso. Três sete avos.
Paula - Ah, Clark, meu Deus. Estou estarrecida. Me desculpa mesmo. Eu não queria…
Clark - Você não queria o quê? Ficar chocada? Me olhar de um jeito diferente? Deixar de me amar? Era isso que você estava querendo dizer? Então fala. Sejamos categóricos, sem ficar fazendo rodeios. Vamos falar as coisas como elas são, não é, Paula? Aquele troço sexual que você sentiu sumiu agora, não foi? Não foi?
Paula - Será que eu tenho mau hálito?
Clark - Por quê? Eu tenho?
Paula - Escuta, sinto muito pela sua… impotência.
Clark - Eu não sou impotente! Eu sou estéril! (O Executivo levanta a cabeça, interessado, e vira a página)
Clark - Para dizer a verdade eu não sou estéril… Eu estava brincando.
Paula - Ah, Clark…
Clark - Ah, Paula! Tem gente que é tão amarga, mas eu não, não dá. Eu sento aqui e escuto tantas histórias sentimentais que eu acabo tendo a impressão de que a minha vida é melhor do que realmente é. Bem melhor. Meu Deus. Eu só queria que a minha vida fosse um pouco melhor. A minha vida é uma droga! Ah, não, na verdade não é tão ruim assim…
Paula - Sei como você se sente. Meu marido trata muitas pessoas como você.
Clark - O seu marido?! Você é casada?
Paula - Com um médico!
Clark - Ah, meu Deus… bem… que bom.
Paula - Mas o que é que tem de bom nisso?
Clark - Se você está feliz, isso é bom. É ótimo…
Paula - Eu pareço feliz?
Clark - Eu descobri que as pessoas nem sempre são o que parecem, Annete. Você, por exemplo, parecia ser solteira.
Paula - O que você está querendo dizer com isso, droga?
Clark - Por que você ficou me perguntando tanto se eu te achava bonita se você é casada?
Paula - Eu ainda aprecio a sua opinião, Clark. Você é uma pessoa muito importante na minha vida.
Clark - Por que você me deixou ficar falando sobre o nosso casamento? Por que você disse que estava esperando o nosso filho?
Paula - Eu estava só puxando conversa.
Clark - Ah, meu Deus, eu pensei que…
Paula - Eu sei.
Clark - Estou me sentindo usado. Um idiota.
Paula - Estou me sentindo mal. Uma ordinária.
Clark - Está?
Paula - Na verdade, não. Estou me sentindo poderosa, estou me sentindo sexy. Senti que você começou a me a amar tão rápido.
Clark - Rápido? Você acha que 310 anos é rápido? Eu acabei de me lembrar de como a gente tirou água do poço da cidade velha juntos. Eu vi a gente cruzando o Iowa numa carroça imunda. Um dos nossos cavalos quebrou a perna e tivemos que sacrificá-lo.
Paula - Oh, Clark.
Clark - Eu adorava aquele cavalo…(Repara na mão dela) Ei, se você é casada, cadê a sua aliança?!
Paula - Eu não sou casada.
Clark - Ah, graças a Deus!
Paula - Eu só disse isso porque eu pensei que isso seria menos doloroso para você do que ser rejeitado por causa da sua esterilidade.
Clark - Paula, eu menti.
Paula - Você está querendo dizer que…você não é mesmo estéril?
Clark - Não. Eu menti quando falei que estava brincando. Eu sou estéril. (O Executivo torna a levantar a cabeça. Clark berra) É isso aí! Eu sou estéril! Eu sou estéril! (O Executivo balança a cabeça, não gostando do que ouve e volta a ler o jornal)
Paula - Bem, não se gabe disso. Olha: eu preciso ter filhos. Eu não ia conseguir viver com um homem que…mas aí eu olho para as suas pupilas dilatadas e para o seu membro saliente e penso…ele merece algo mais.
Clark - Então pode ser que você consiga viver com um homem estéril?
Paula - Não. Mas pelo menos eu acho que você merece algo mais.
Clark - Meu Deus! Estou tendo a impressão de que estou te vendo pela primeira vez.
Paula - E o que é que você está vendo?
Clark - Que você tem um nariz enorme…
Paula - Clark! [Eles se levantam ao mesmo tempo)
Clark - … que você está gorda…e que você é uma vagabunda barata, sádica e manipuladora.
Paula - É verdade. (Senta)
Clark (Começa a andar em volta dela) - Ela se senta ali tão altiva e poderosa como se tivesse se livrado do açúcar do bolinho, da gordura do cheesecake e do colesterol da manteiga, meu Deus! Eu pensava que tinha problemas, mas me comparando a você eu sou um modelo de saúde!
Paula - Me diz o nome de alguém que não é assim.
Clark - E pensar que…
Paula - Foi só aquele troço.
Clark - Não! Eu pensei que fosse algo mais do que um troço! Muito mais!
Paula - O que mais poderia ser além de um troço?
Clark - Um troço poderoso, poderoso!
Paula - Está bem, está certo, mas ainda sim…
Clark - Não, não, ainda assim digo eu, menina, porque eu aprendi muito sobre mim mesmo com você. Eu aprendi que não preciso de mulheres que só precisam ter filhos, que não preciso ter filhos que só precisem desse tipo de mulher, que eu não preciso de Prozac e principalmente, Margaret, que eu não preciso de você!
Paula - Estou sentindo uma certa hostilidade no ar, cara.
Clark - Geralmente é assim que tudo acaba, sua piranha metida.
Paula - Ah, então você está dizendo que está tudo terminado?
Clark - Não seja boba. Nós nem fizemos nada e só falamos que você finge ter orgasmos.
Paula - Mas isso significou algo mais, não foi? Ah, Clark, nós vivemos bons momentos juntos, não foi?
Clark (Sentando, abatido) - Isso serve para te mostrar que a gente só conhece as pessoas quando…
Paula - Quando o quê?
Clark - Quando já as encontrou.
Paula - Eu …eu não acredito que isso está acontecendo com a gente.
Clark - Eu sei... eu sei.
Paula - Nós parecemos…dois estranhos…
Clark - Ah, Paula…
Paula (Para o cara do jornal) - Com licença, você está lendo esse jornal?
Executivo - Este que eu estou segurando?
Clark - O que é que você está fazendo?
Paula (Com o cara) - É. Será que eu…
Clark - O que é que você está tentando afanar aqui?
Paula - ...estou atrapalhando? Será que…
Clark - Você está agindo como se nem me conhecesse.
Paula - … você poderia me emprestar uma parte do…
Clark - Na minha frente? E você faz isso bem na minha frente?
Paula (Para Clark) - Estou querendo tocar a minha vida! (Para o cara) Passa o sal, por favor.
Clark (Consigo mesmo) - Também foi assim que a gente…(Para o cara) Não faz isso, cara, não faz isso! Ela vai roubar seu coração e …
Paula - Saia da minha vida!
Executivo - Não estou lendo a seção sobre a cidade. Você quer?
Clark - Eu não vou agüentar isso. Não vou! Não dá! Não vou! (Pega o refrigerante e o livro e vai para o banco no fundo do balcão. O Executivo então vai para o lugar onde Clark estava sentado antes)
Paula (Para o Executivo) - Eu só lia o resumo das notícias na primeira página, mas…
Executivo - Mas? (Ele chega mais perto dela quando as luzes se apagam)
FIM
_________________________
A carreira de Cherie Vogestein deslanchou quando ela estava na sexta série e escreveu My Kingdom for a Hammestashen (Meu Reino por um Hamestashen) para a festa do Purim. Cherie recebeu o Hobson Award da Universidade de Jonhs Hopkins, prêmio dado aos melhores da dramaturgia; foi indicada para receber uma bolsa , a Rhodes Scholarship, e é Mestre em Artes pela Faculdade de Dramaturgia da Universidade de Columbia. Suas peças foram produzidas com sucesso em Nova York, Baltimore e Los Angeles.
Em 1991, Vogelstein ganhou o concurso de novos talentos da Warner Bros na modalidade da Comédia e foi uma das fundadoras do Aural Stage, uma associação teatral de dramaturgos, atores e diretores com sede em Nova York. Cherie também chefiou o departamento de dramaturgia do National Handicapped Theater Workshop, criou uma linha de cartões (a Noah's Art, da Microsoft) e foi contratada pelo New York Teen Theater como autora e roterista. O musical Lost and Found, escrito por Cherie, está em turnê nos EUA.
No verão de 1993, sua peça Misconceptions, lotou os teatros quando foi encenada off- Broadway. Atualmente, Cherie Vogelstein está elaborando seu primeiro roteiro para o cinema e mora em Nova York com o marido Eric e Zachary Tov, o filho recém-nascido do casal.
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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
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