segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Teatro/CRÍTICA

"Dorian"

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Séria adaptação de obra-prima


Lionel Fischer


Poeta, novelista e autor dramático irlandês, Oscar Wilde (1856-1900) estudou em Dublin e em Oxford, onde, sob a influência do Simbolismo francês, desenvolveu suas idéias "decadentistas". Defensor da arte pela arte, amoral e antiburguês, encabeçou o movimento "fim de século" inglês. Dentre suas peças mais famosas destacam-se "Salomé", "Uma mulher sem importância", "O marido ideal" e "A importância de ser honesto".

No entanto, o presente projeto da Companhia de Teatro Íntimo é uma adaptação teatral do único romance escrito por Wilde: "O retrato de Dorian Gray". Em cartaz no Teatro Glaucio Gill, a montagem leva a assinatura de Renato Farias, estando o elenco composto por Augusto Garcia (Dorian), Thiago Mendonça (Basil Hallward), Rafael Sieg (Lord Wotton), Letícia Cannavale (Sybil Vane), Caetano O'Maihlan (Jim Vane), Fernanda Boechat (Lady Wotton e outros) e Hugo Resende (Adrian e outros).

"O retrato de Dorian Gray" causou escândalo e controvérsia na Inglaterra vitoriana. Dorian é um homem rico que vende sua alma em troca da juventude eterna. A passagem do tempo não altera sua aparência, mas sim a de seu retrato mágico, que não apenas envelhece, mas sobretudo revela sua decadência interior. Expressando as preocupações estéticas e os paradoxos morais de Wilde, a narrativa constitui uma reflexão sobre o envelhecimento, o prazer, o crime e o castigo.

Trata-se, sob todos os pontos de vista, de uma obra-prima, e a presente adaptação não deixa de exibir méritos. No entanto, é sempre muito difícil converter literatura em teatro, pois este pressupõe ação, embate entre personagens, o que implica em renunciar a muitas e pertinentes reflexões empreendidas pelo autor. Seja como for, a montagem certamente faculta ao espectador uma aproximação séria e digna com o romance de Wilde.

Ainda assim, cumpre ressaltar que, por mais que tenha me esforçado, não consegui entender as razões que levaram o diretor Renato Farias a fazer com que os atores estabeleçam uma permanente e direta relação com o público, incluindo a distribuição de frutas e de bebidas. Esta forma de inclusão me pareceu gratuita e desnecessária, mesmo que compensada por marcações inventivas e expressivas.

Com relação ao elenco, todos os atores se entregam com paixão aos personagens que interpretam, e o resultado geral é quase sempre  convincente. Mas me permito sugerir que prestem mais atenção aos finais de frase, muitas vezes incompreensíveis.

Na equipe técnica, Thiago Mendonça responde por irretocáveis figurinos, desenhos e pinturas, sendo de excelente nível a iluminação de Rafael Sieg e a cenografia de Melissa Paro.

DORIAN - Texto de Oscar Wilde. Direção de Renato Farias. Com a Companhia de Teatro Íntimo. Teatro Glaucio Gill. Sábado, domingo e segunda às 21h.   

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