Teatro/CRÍTICA
"Os datilógrafos"
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Texto fraco minimiza tema relevante
Lionel Fischer
"Silvia e Darson trabalham num mesmo setor comercial de uma pequena empresa, e tem como função preparar a mala direta. Silvia sonha com um bom casamento e em cuidar de uma família e ter estabilidade social. Darson, que já constituiu família, está estudando Direito, mas sente que sua realização na vida é largar tudo para uma viagem de aventura. Ela é diferente, já foi promovida a supervisora do setor e controla a situação. Ele, na falta de oportunidade melhor, tentará se encaixar numa função para a qual não está preparado - a de datilógrafo. Incapazes de escapar da jaula de ferro da vida burocrática, alimentam-se da imagem fantasiosa que têm de si mesmos".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo de "Os datilógrafos", do dramaturgo norte-americano Murray Schisgal. Celso Nunes assina a direção da montagem, em cartaz no Centro Cultural Solar de Botafogo. No elenco, Paula Campos e Henrique Manoel Pinho.
Valendo-se de uma estrutura narrativa original (os personagens trabalham 50 anos na mesma sala, mas a história se passa em apenas um dia de expediente), o autor objetivou retratar o quanto uma rotina burocrática e enfadonha contribui para anular vidas que, ao menos em princípio, teriam outra dimensão desde que não escravizadas a um cotidiano desprovido de pulsação e criatividade. Sem dúvida, um tema mais do que pertinente.
Ocorre, no entanto, um grande descompasso entre as pretensões do autor e o que efetivamente escreveu. Tchecov, por exemplo, abordou um tema semelhante em "Tio Vânia", ainda que em contexto diverso - a ação se passa numa propriedade rural. Só que, na qualidade de gênio, criou personagens magníficos, cujas relações evidenciam o quanto um ambiente mesquinho e a inexorável passagem do tempo são capazes de amesquinhar todos os sonhos, projetando-os num futuro remoto que jamais se materializará.
Ou seja: falou sobre a mediocridade, a mediania, a falta de coragem e o tédio sem, contudo, escrever uma obra tediosa. E é o que acontece em "Os datilógrafos". A peça, como já foi dito, aborda temas relevantes, mas os personagens carecem de maior interesse e algumas ações que empreendem não se justificam - não compreendi, por exemplo, a razão que leva, em dado momento, a ação ser interrompida para que os personagens se dirijam diretamente à platéia para falar sobre seu passado, rompendo uma estrutura narrativa que, a meu ver, não comporta esse tipo de quebra.
Seja como for, o espetáculo dirigido por Celso Nunes evidencia os sérios e dignos propósitos do grande encenador, mas ainda assim insuficientes para conferir maior interesse a um texto que, em minha opinião, não transcende a mediania que pretendia questionar. A mesma seriedade se faz presente nas corretas atuações de Paula Campos e Henrique Manoel Pinho, assim como nas colaborações de toda a equipe técnica - Renato Icarahy (tradução), Kalma Murtinho (figurinos), José Dias (cenografia) e Daniela Sanchez (iluminação).
OS DATILÓGRAFOS - Textro de Murray Schisgal. Direção de Celso Nunes. Com Paula Campos e Henrique Manoel Pinho. Centro Cultural Solar de Botafogo. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h30.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
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