NELSON RODRIGUES
Em 2012 comemoramos os 100 anos de nascimento de Nelson Rodrigues, nosso maior dramaturgo. E atendendo a alguns pedidos, coloco em seguida um resumo de sua obra e trajetória artística. (LF)
Infância e Adolescência
Nascido no Recife a 23 de agosto de 1912 e quarto dos quatorze filhos do jornalista Mário Rodrigues e de Maria Esther Falcão, aos quatro anos Nelson foi morar no Rio de Janeiro para onde seu pai se mudara para trabalhar no Correio da Manhã de Edmundo Bittencourt. Em suas Memórias ele diz que seu grande laboratório de escritor foi a infância vivida na Zona Norte. Dos anos passados na rua Alegre (atual Almirante João Cândido Brasil), bairro de Aldeia Campista, saíram para sua obra situações alimentadas pela moral da classe média dos primeiros anos do século XX.
Sua infância foi marcada por este clima e pela personalidade retraída do menino que lia um romance atrás do outro. Nesta época ocorreu a descoberta do futebol, paixão que conservaria por toda a vida. Em 1925 Mário Rodrigues fundou A Manhã após romper com Edmundo Bittencourt e foi neste jornal que Nelson começou sua carreira jornalística como repórter policial, aos 13 anos de idade. Os crimes passionais e pactos de amor e morte entre casais incendiavam a imaginação do adolescente romântico que utilizaria o cenário dessas histórias em suas peças.
O poeta seria o criador da grande dramaturgia brasileira, mas sua obra fundamenta-se no drama bíblico que ele parodia ou parafraseia adaptando-o à realidade brasileira: não nos esqueçamos de que para casar Mário Rodrigues teve de fazer-se pastor por imposição dos pais da noiva, que eram batistas praticantes numa Recife dominada pelo catolicismo, daí a presença da religião na vida de Nelson, questão à qual se refere quando em suas crônicas fala das tias católicas e protestantes que o obrigavam a frequentar igrejas e templos.
Entretanto, desde criança seu gênio, ao qual nunca faltou o humor, resistiu a essa lavagem cerebral derrotando a visão reacionária do Evangelho para apresentá-lo de forma revolucionária em suas peças. Quando o pai de Nelson conseguiu atingir uma situação financeira confortável ele levou a família para Copacabana, então um arrabalde luxuoso da orla carioca. Apesar da bonança, Mário Rodrigues perderia para o sócio o controle acionário de A Manhã. Porém, em 1928 funda Crítica.
Como cronista esportivo Nelson escreveu para este jornal textos antológicos sobre o Fluminense, seu clube do coração, embora a maioria tenha sido publicada no Jornal dos Sports de Mário Rodrigues Filho, o primogênito de Mário Rodrigues. Junto com ele Nelson foi fundamental para que o Fla-Flu conquistasse seu prestígio tornando-se um dos maiores clássicos do futebol brasileiro.
Juventude e Maturidade
Nelson seguiu seus irmãos Mário, Milton e Roberto integrando a redação de Crítica. Ali continuou a escrever na página de polícia, enquanto Mário cuidava dos esportes e Roberto, um talentoso desenhista, fazia as ilustrações. O jornal era um sucesso de vendas, misturando apaixonada cobertura política com relatos sensacionalistas de acontecimentos sociais.
Em 26 de dezembro de 1929 a sua primeira página deu a manchete da separação do casal Sylvia Serafim e João Thibau Jr. Ilustrada por Roberto e assinada pelo repórter Orestes Barbosa, a matéria provocou uma tragédia. Sentindo-se difamada, Sylvia invadiu a redação de Crítica armada de revolver para matar seu dono, mas como este não estivesse ela atirou no filho Roberto. Nelson testemunhou o crime e a agonia do irmão, que morreu dias depois. Deprimido com a perda do filho, Mário Rodrigues faleceu poucos meses após a tragédia.
Finalmente, durante a Revolução de 30 a gráfica e a redação do diário são empasteladas e ele deixa de existir. Sem seu chefe e sem fonte de sustento a família Rodrigues mergulha em decadência financeira. Foram anos de fome e dificuldades para todos. Pouco afinados com Getúlio Vargas, os Rodrigues demorariam anos para se recuperarem. Ajudado por Mário Filho, amigo de Roberto Marinho, Nelson passa a trabalhar em O Globo, mas pouco tempo depois descobre que estava tuberculoso e para tratar-se passa longas temporadas no sanatório de Campos do Jordão. Seu tratamento é custeado por Marinho que, com isso, conquistou a eterna gratidão de Nelson.
Recuperado, ele volta e assume a seção cultural do jornal passando a fazer crítica de ópera. Em 1940 casou-se com Elza Bretanha, sua colega de redação. A partir de 1941 Nelson divide-se entre o emprego em O Globo e a criação de peças teatrais. No final deste ano ele escreve A mulher sem pecado, que estreou um ano depois no Teatro Carlos Gomes ficando em cartaz apenas três semanas. Em seguida a esse mal sucedido começo ele cria Vestido de noiva, estreado com estrondoso sucesso no final de 1943 no Teatro Municipal, sob a direção de Ziembinski.
Em 1945 abandona O Globo passando a trabalhar nos Diários Associados. Em O Jornal, um dos veículos de propriedade de Assis Chateaubriand, começa a escrever Meu destino é pecar, seu primeiro folhetim que assinou como Susana Flag. O sucesso alavancou as vendas do jornal e estimulou o dramaturgo a escrever sua terceira peça, Álbum de família, que foi proibida pela censura e só liberada em 1965. Em 1946 criou Anjo negro que, após dura batalha com os censores, estreou dois anos depois, lhe possibilitando adquirir sua casa do Andaraí. Em 1947 escreve Senhora dos afogados, que só foi à cena nove anos depois, e Dorotéia, em 1949, que estreou no ano seguinte unicamente porque escrita sob pseudômino.
Em 1950 passa a trabalhar na Ultima Hora, jornal de Samuel Wainer, onde começa a escrever as crônicas de A vida como ela é..., seu maior sucesso jornalístico. De 1952 a 1957 tem um caso com Yolanda Camejo, que lhe dá três filhos: Maria Lúcia, Sônia e Paulo César. Na década seguinte separa-se de Elza e vai morar com Lúcia Cruz e Lima com quem teria Daniela, nascida cega. Nelson trabalha na recém-fundada TV Globo participando da Grande Resenha Facit, primeira mesa-redonda sobre futebol da televisão brasileira e em 1967 passa a publicar suas Memórias no Correio da Manhã, onde seu pai trabalhara 50 anos antes.
Velhice
Nos anos 70, consagrado como poeta dramático e jornalista, a saúde de Nélson começa a baquear. Durante a ditadura militar, que só retoricamente apoiou porque na verdade usou seu prestígio para proteger e libertar vários perseguidos pelo regime, seu filho Nelson Rodrigues Filho torna-se militante clandestino, sendo preso e torturado. Depois do fim de seu casamento com Lúcia, Nelson ainda manteve rápido caso com sua secretária Helena Maria antes de reatar com Elza. O maior poeta dramático de língua portuguesa, ao lado do renascentista luso Gil Vicente, faleceu de complicações cardíacas e respiratóliras aos 68 anos numa manhã do domingo de 21 de dezembro de 1980. Dois meses depois, Elza atendia ao pedido do marido de ainda em vida gravar seu nome ao lado do dele na lápide de seu túmulo no cemitério São João Batista: Unidos para além da vida e da morte.
TEATRO
A mulher sem pecado (1941)
Vestido de noiva (1943)
Álbum de família (1945)
Anjo negro (1946)
Senhora dos Afogados (1947)
Dorotéia (1949)
Valsa nº 6 (1951)
A falecida (1953)
Perdoa-me por me traíres (1957)
Viúva, porém honesta (1957)
Os sete gatinhos (1958)
Boca de ouro (1959)
O beijo no asfalto (1960)
Bonitinha, mas ordinária (1962)
Toda nudez será castigada (1965)
Anti-Nélson Rodrigues (1974)
A serpente (1978)
ROMANCES
Meu destino é pecar (1944)
Escravas do amor (1944)
Minha vida (1944)
Núpcias de fogo (1948)
A mulher que amou demais (1949)
A mentira (1953)
O homem proibido (1959)
Asfalto selvagem (1959)
O casamento (1966)
CONTOS
Cem contos escolhidos (1972)
Elas gostam de apanhar (1974)
O homem fiel e outros contos (1992)
A dama do lotação e outros contos (1992)
A coroa de orquídeas (1992)
Pouco amor não é amor (2002)
CRÔNICAS
Memórias de Nelson Rodrigues (1967)
O óbvio ululante: primeiras confissões (1968)
A cabra vadia (1970)
O reacionário: memórias e confissões (1977)
Fla-Flu...e as multidões despertaram (1987)
O remador de Ben-Hur (1992)
A cabra vadia - Novas confissões (1992)
A pátria em chuteiras - Novas Crônicas de Futebol (1992)
A menina sem estrela - memórias (1992)
À sombra das chuteiras imortais - Crônicas de Futebol (1992)
A mulher do próximo (1992)
Nelson Rodrigues, o Profeta Tricolor (2002)
Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo (2002)
TELENOVELAS
A morta sem espelho - TV Rio (1963)
Sonho de amor - TV Rio (1964)
O desconhecido - TV Rio (1964)
O homem proibido - TV Globo 1982 (baseada na obra de Nelson)
Meu destino é pecar - TV Globo 1984 (idem)
Engraçadinha, seus amores e seus pecados - TV Globo 1995 (idem)
A Vida como ela é - TV Globo 1996 (idem)
FILMES (baseados na obra de Nelson)
Somos dois (1950), direção de Milton Rodrigues
Meu destino é pecar (1952), direção de Manuel Pelufo
Mulheres e milhões (1961), direção de Jorge Ileli
Boca de ouro (1963), direção de Nelson Pereira dos Santos
Meu nome é Pelé (1963), direção de Carlos Hugo Christensen
Bonitinha, mas ordinária (1963), direção de J.P. de Carvalho
Asfalto selvagem (1964), direção de J.B. Tanko
A falecida (1965), direção de Leon Hirzman
O beijo no asfalto (1966), direção de Flávio Tambellini
Engraçadinha depois dos trinta (1966), direção de J.B. Tanko
Toda nudez será castigada (1973), direção de Arnaldo Jabor
O casamento (1975), direção de Arnaldo Jabor
A dama do lotação (1978), direção de Neville d'Almeida
Os sete gatinhos (1980), direção de Neville d'Almeida
O beijo no asfalto (1980), direção de Bruno Barreto
Bonitinha, mas ordinária (1981), direção de Braz Chediak
Álbum de família (1981), direção de Braz Chediak
Engraçadinha (1981), direção de Haroldo Marinho Barbosa
Perdoa-me por me traíres (1983), direção de Braz Chediak
Boca de ouro (1990), direção de Walter Avancini
Traição (1998), direcão de Arthur Fontes, Cláudio Torres e José Henrique Fonseca
Gêmeas (1999), direção de Andrucha Waddington
Vestido de noiva (2006), direção de Joffre Rodrigues
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quinta-feira, 26 de abril de 2012
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