Teatro/CRÍTICA
"Sinfonia sonho"
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Montagem imperdível no Sérgio Porto
Lionel Fischer
"Sinfonia sonho apresenta a história de Kevin, uma criança de nove anos que de súbito se torna alvo de um desejo: o de se tornar música, por conta de uma peça teatral que começa a ensaiar em sua escola. Inspirado nos recentes acontecimentos envolvendo o massacre de crianças em espaço escolar na cidade do Rio de Janeiro, o espetáculo visa trazer a tona um olhar mais atento e responsável sobre a infância e, por extensão, também sobre o futuro".
Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza algumas das premissas que motivaram a criação de "Sinfonia sonho", quarto espetáculo da companhia carioca Teatro Inominável, em cartaz no Espaço Cultural Sérgio Porto. Diogo Liberano assina texto e direção, estando o elenco formado por Adassa Martins, Andrêas Gatto, Dan Marins, Flávia Naves, Gunnar Borges, Laura Nielsen, Márcio Machado, Natássia Vello e Virgínia Maria.
Inspirado nas obras "O anti-Édipo", de Félix Guattari e Gilles Deleuze, e no romance "Precisamos falar sobre o Kevin", da escritora norte-americana Lionel Shriver, o texto de Diogo Liberano surpreende não apenas pelas pertinentes reflexões que empreende sobre temas como infância, futuro, relações familiares e diversificadas perversões, dentre outros, mas também pela forma com que os trabalha.
Desde logo fica claro que a montagem renuncia totalmente ao realismo, a começar pelo fato de que um ator (talvez o próprio Diogo Liberano) apresenta os personagens e lê algumas rubricas. Postados lado a lado, sentados em cadeiras e olhando fixamente a platéia, os atores sugerem estar imobilizados numa foto, congelados no tempo em algo que remete a um álbum de família.
Pouco a pouco, escapam dessa moldura - ainda que a ela retornem com freqüência - e se materializam na cena. Mas não o fazem como personagens cotidianos, mas sim impregnados de uma espécie de partitura física que traduz a essência de suas personalidades. E não raro pode-se constatar que, mesmo aqueles que não estão participando diretamente de uma cena, nem por isso permanecem estáticos, como ocorre no início do espetáculo, mas continuam expressando seus sentimentos, anseios ou dúvidas através de um esmerado universo gestual.
Isto posto, acredito ser impossível o espectador não se envolver totalmente com uma montagem que, tendo a motivá-la um texto belíssimo, exibe deslumbrante teatralidade. São tantos os signos e símbolos exibidos que torna-se impossível esmiuçá-los. E mesmo que alguns deles permitam múltiplas interpretações ou possam eventualmente soar um tanto obscuros, o que importa ressaltar é que estamos diante de um espetáculo que, dada a sua natureza, coloca o espectador no único lugar possível, ou seja, o lugar do desconforto.
Ao longo da montagem, e sobretudo depois que a mesma se encerrou, me ocorreram muitas perguntas. Mas não me preocupei nem um pouco em tentar achar respostas, digamos, razoáveis, racionais, pois aí estaria negando as emoções vividas, estaria apenas tentando nomear o que muitas vezes não precisa - nem deve - ser nomeado. O fundamental, para mim, foi constatar que tive um fortíssimo encontro com este espetáculo, o que equivale a dizer que tive um fortíssimo encontro comigo mesmo. Assim, só me resta agradecer a todos a oportunidade que me facultaram de me conhecer um pouco mais.
Quanto ao elenco, tenho por hábito não particularizar interpretações quando o trabalho é feito por um grupo, pois sei que o resultado, mesmo que eventualmente evidenciando talentos mais apurados do que outros, depende sobretudo da total cumplicidade e capacidade de entrega do conjunto. E, salvo monumental engano de minha parte, imagino que os integrantes desta jovem e talentosa companhia caminharam de mãos dadas ao longo de todo o processo criativo. Portanto, a todos parabenizo e desejo que os sempre caprichosos deuses do teatro continuem abençoando a companhia carioca Teatro Inominável.
Com relação à equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo as participações de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Eleonora Fabião (orientação de direção), Caroline Helena (maravilhosa direção de movimento), Philippe Baptista (direção musical), Leandro Ribeiro (cenário), Ronald Teixeira (orientação de cenário), Isadhora Müller e Marina Daldalarrondo (figurino e visagismo), Desirée Bastos (orientação de idumentária), Davi Palmeira e Thaís Barros (iluminação), José Henrique Moreira (orientação de iluminação) e Verônica Machado (preparação vocal).
SINFONIA SONHO - Dramaturgia e direção de Diogo Liberano. Com a companhia Teatro Inominável. Espaço Cultural Sérgio Porto. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h.
terça-feira, 17 de abril de 2012
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Vida longa ao Teatro Inominável! Obrigada :)
ResponderExcluirÉ isso aí, amiga!
ResponderExcluirVida longa àqueles que enfeitam a nossa!
Beijos,
Eu