terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Teatro/CRÍTICA

"O santo inquérito"

...............................................
Seriedade e austeridade no Sesc


Lionel Fischer


Quando Dias Gomes escreveu o presente texto, o Brasil vivia os horrores da ditadura militar, que tinha como um de seus "braços seculares" a famigerada censura. Esta vetava todas as obras de arte - em especial as teatrais - que pudessem, ainda que vagamente, contrariar seus espúrios interesses. Assim, os dramaturgos só tinham como alternativa valer-se de metáforas para tentar escapar das proibições e fazer com que seus textos chegassem a ser encenados. E foi exatamente o que o autor fez.

Aproveitando-se de uma história supostamente real, criou uma obra em que uma jovem, totalmente inocente no que concerne aos "crimes" que acabam por lhe ser imputados, termina por ser queimada viva na fogueira por ordem da Santa Inquisição - que de santa, diga-se de passagem, não tinha nada. Ao mesmo tempo, Dias Gomes ressalta que o abominável castigo imposto pela Igreja teve, em sua origem, a paixão de um padre jesuíta pela dita jovem - não sendo correspondido, começa a urdir uma trama que desemboca em um trágico desfecho.

Eis, em resumo, o enredo de "O santo inquérito", atual cartaz do Espaço Sesc. Amir Haddad assina a direção da montagem, estando o elenco formado por Marianna Mac Niven (Branca Dias), Claudio Mendes (Padre Bernardo), Jitman Vibranovski (Simão Dias, pai de Branca), Karan Machado (Augusto Coutinho, noivo de Branca), Arnaldo Marques (Visitador), Daniel Barcelos (Notário) e Gustavo Arthidoro (Guarda).

Sendo Dias Gomes um excelente autor, é obvio que seu texto exibe muitas qualidades, dentre elas personagens muito bem estruturados e uma trama permeada por embates de idéias da mais alta pertinência. Ainda assim, julgamos que a obra poderia ter sido um pouco enxugada, pois assim a ação ficaria mais ágil e tensa, possibilitando um maior envolvimento por parte dos espectadores.

Seja como for, o espetáculo dirigido por Amir Haddad prima pela seriedade e austeridade, conseguindo materializar na cena todos os conteúdos propostos pelo autor. E isto também se deve à segura participação de todo elenco, cabendo destacar as performances de Marianna Mac Niven (jovem atriz de muito talento) e Claudio Mendes (ator já bastante experiente, impecável na pele do Padre Bernardo).

Na equipe técnica, consideramos corretos os trabalhos de todos os profissionais envolvidos - Fernando Mello da Costa e Rostand Albuquerque (cenário), Bia Salgado (figurinos), Aurélio de Simoni (iluminação) e Alessandro Persan (trilha sonora).

O SANTO INQUÉRITO - Texto de Dias Gomes. Direção de Amir Haddad. Com Marianna Mac Niven, Claudio Mendes e outros. Espaço Sesc. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h30.

Nenhum comentário:

Postar um comentário