segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Temporada Teatral de 2009
Destaques

Lionel Fischer


Ao invés de repetir o esquema que adotamos no ano passado ao fazer a retrospectiva de 2008, quando estabelecemos vários destaques por categoria (autor, diretor, ator, atriz etc.), desta vez nomearemos os cinco espetáculos mais marcantes de 2009. Isto não significa que outras montagens não tenham despertado nossa admiração, mas nossa opção recai sobre aquelas que, por razões diversas, nos geraram um impacto maior.

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"In On It"

A partir do ótimo texto do canadense Daniel Macivor, cuja estrutura narrativa mescla a todo momento o presente (dois atores ensaiando uma peça escrita por um deles, raramente se entendendo quanto ao rumo que deve tomar o espetáculo) e o passado dos personagens que tentam materializar, o diretor Enrique Diaz impôs à cena uma dinâmica precisa, moderna, divesificada e muito inventiva, valorizando ao máximo todos os conteúdos propostos pelo autor. Além disso, conseguiu extrair atuações deslumbrantes de Fernando Eiras e Emílio de Mello, ambos exibindo enorme capacidade de entrega e fantástica contracena.


"Espia uma mulher que se mata"

Por muitos considerada a melhor peça de Tchecov, "Tio Vânia" foi encenada pelo argentino Macelo Subioto de forma absolutamente diversa, com os climas bucólicos e habituais pausas sendo substituídos por um ritmo quase sempre vertiginoso, sendo o álcool utilizado como uma espécie de mola propulsora de todos os conflitos, na medida que permite um progressivo relaxamento de todas as defesas, assim facilitando o aflorar de verdades fadadas a permanecerem ocultas. Cabe também destacar o ótimo rendimento do elenco, encabeçado por Roberto Bomtempo.


"Viver sem tempos mortos"

Tendo como matéria-prima cartas e apontamentos autobiográficos da escritora, pensadora e ensaísta francesa Simone de Bouvoir, o despojado espetáculo de Felipe Hirsch possibilitou ao espectador pelo menos dois fantásticos privilégios: entrar em contato com pensamentos e reflexões de uma das mulheres mais extraordinárias do século XX e também testemunhar o antológico desempenho de Fernanda Montenegro. Sempre sentada numa cadeira e sob um único foco de luz, a magnífica intérprete de 80 anos evidenciou estar na plenitude de seus vastíssimos recursos expressivos, promovendo inesquecível encontro entre palco e platéia.


"A máquina de abraçar"

Inspirado no relato de uma autista, José Sanchis Sinisterra escreveu um texto que, salvo engano de nossa parte, valeu-se da doença para convetê-la em poderosa e assustadora metáfora dos tempos que correm, dominados por banqueiros, empresários, empreiteiros e especuladores que, a exemplo dos autistas, não estabelecem com os demais mortais nenhum tipo de comunicação, carecem de uma mínima capacidade de escuta e apenas se empenham em materializar seus próprios interesses. Primeira - e ótima - direção da atriz Malu Galli, a montagem tinha como maior destaque a primorosa atuação de Mariana Lima, sem dúvida a melhor de sua carreira.


"O despertar da primavera"

Contendo personagens otimamente estruturados, diálogos impregnados de dramaticidade e lirismo, e uma narrativa que prende a atenção do espectador desde o início, esta obra-prima de Frank Wedekind voltou ao cartaz 30 anos após sua estreia no Rio de Janeiro, com o Pessoal do Despertar, direção de Paulo Reis. Só que agora como um musical, com texto e letras de Steven Sater e músicas contemporâneas de Ducan Sheik. E mais uma vez a dupla Charles Möeller (direção) e Claudio Botelho (versões das letras e direção musical) dá um show de ousadia e criatividade, obtendo ótimo rendimento de jovens com idades entre 18 e 25 anos.

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