segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

                            "ShakesParque":
                   os guarda-chuvas se abriram,
                   e abriram-se todos os corações

                                                                        Lionel Fischer

          Ontem estava programada a última exibição de "ShakesParque", que cumpriu belíssima temporada no Parque Lage. Faltando 15 minutos para o início do espetáculo, imprevistos pingos de chuva começaram a cair de um céu sinistro e logo se converteram numa espécie de pranto cheio de remorso. Todo o espaço ficou alagado e tudo levava a crer que a apresentação teria que ser cancelada.

          No entanto, e talvez porque a platéia se recusasse a ir embora, aos poucos a chuva foi se tornando menos intensa e o espetáculo começou. Muitos espectadores abriram seus guarda-chuvas, outros protegeram-se com colchonetes e alguns colocaram-se nas laterais da magnífica construção e permaneceram de pé.

          Passados uns poucos minutos, novamente o céu fez desabar sua invejosa cólera. Mas aí já era tarde: os que ali estavam, ali permaneceram. Pessoas de todas as idades, desde criancinhas de berço até idosos. Creio mesmo ter visto o fabuloso bardo passeando pelo espaço, incrédulo com a insistência de tanta gente em usufruir a beleza de seus textos e a interpretação dos atores, mesmo que em condições tão adversas.

          Finalmente, uma vez encerrado o espetáculo, grande parte do numeroso elenco jogou-se na piscina, ainda trajando os figurinos, enquanto a banda relembrava músicas do espetáculo criadas em cima de sonetos do maior dramaturgo da História!

          Foi uma verdadeira celebração, um encontro que jamais será esquecido por todos aqueles que o vivenciaram. Atores e espectadores irmanados pelo mesmo sentimento e pela mesma alegria, como se todos fizessem parte de uma mesma e única irmandade. Lágrimas e sorrisos se mesclavam, abraços e beijos eram trocados por pessoas que não se conheciam, numa sadia orgia de almas imprevistamente irmanadas.

           Quanto a mim, que choro até com "Malhação", naturalmente que carpi como uma lavadeira grega. E não apenas porque conheço quase todos os integrantes do projeto e deles me orgulhei por haverem decidido fazer o espetáculo, quando o mais natural seria que o tivessem cancelado: o fundamental, para mim, foi a inenarrável emoção de constatar que só o teatro é capaz de promover um encontro tão emocionado entre quem faz e quem assiste.

          Assim, só me resta desejar que, no próximo verão, "ShakesParque" volte a ser exibido, seja sob um céu ornamentado de estrelas, seja sob intempestivo temporal. Isso pouco importa. O essencial é que seja ratificada uma premissa cada vez mais desprezada: a de que todos nós, atores e espectadores, somos feito da mesma matéria: a matéria dos sonhos!

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2 comentários:

  1. você também chora com malhação?
    hahahahhaha. lindo texto.

    abs, rodrigo nogueira.

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  2. Isso sim foi uma experiência estética! Deveríamos esperar isso de todos os espetáculos.. esse envolvimento. È o que devemos perseguir!!

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