domingo, 6 de fevereiro de 2011

Teatro/CRÍTICA

                               "Shakesparque"

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Delicioso tributo ao fabuloso bardo


Lionel Fischer


No início dos anos 80, um jovem grupo (Pessoal do Despertar) apresentou no Parque Lage uma versão deslumbrante de "A tempestade", de Shakespeare, dirigida por Paulo Reis. No entanto, e contrariando todas as expectativas, após este evento tão bem sucedido o espaço foi praticamente desativado no tocante ao teatro. Mas este retorna agora e, ao que tudo indica, para se perpetuar. Ao menos no que diz respeito ao presente espetáculo.

Inspirado no Shakespeare in the Park, que acontece anualmente no Central Park, em Nova York, Paulo Reis assina a concepção e direção geral de "Shakesparque", que reúne cenas de sete obras imortais do fabuloso bardo (direção de José Roberto Mendes), o mesmo número de pequenos esquetes que as introduzem (escritos por Rodrigo Murat e dirigidos por Claudio Baltar) e sonetos (de autoria de Shakespeare, naturalmente) interpretados pela Banda do Bardo, comandada por Fernando Berditchevsky. A tradução das cenas ficou a cargo de Barbara Heliodora e a dos sonetos, de Teresa Cristina.

No elenco principal, temos Lorena da Silva e Jandir Ferrari ("Ricardo III"), Tereza Seiblitz e André Mattos ("A megera domada"), Cristina Flores e Rodrigo Nogueira ("Romeu e Julieta"), Cláudia Alencar e Antônio Pedro ("Sonho de uma noite de verão"), Samara Felippo e Alexandre Barillari ("Hamlet"), Angela Rebello e Otto Jr. ("Macbeth") e Amir Haddad ("A tempestade").

Vivendo os Saltimbancos, encarregados dos esquetes, Beto Vandesteen, Isabel Mello, Marcio Januário, Maria Julia Garcia, Rafa de Martins e Raul Vianna, estando a Banda do Bardo formada por Danilo Afonso, Duda Barbosa, Hugo Baptista, Leonardo Baptista e Ricardo Barberane.

Dentre todos os méritos do presente evento, talvez o mais importante seja o de formação de platéia, em especial no que diz respeito ao público jovem que, em sua maioria, jamais ouviu falar de Shakespeare. E se levarmos em conta que a crítica do Globo, Barbara Heliodora, dará palestras todas as sextas-feiras abordando Tragédias, Comédias, Peças Históricas e a Vida do Bardo, o pacote está completo. Ou seja: informação e fragmentos da obra do maior dramaturgo da História. É de se supor, portanto, que os ditos jovens - ou espectadores de todas as idades pouco familiarizados com a obra de Shakespeare - não hesitarão em ir ao teatro quando alguma de suas peças entrar em cartaz. Isto posto, vamos ao avento em si.

Embora dividido em três momentos (as cenas, os esquetes e a performance da banda), é evidente que temos que olhar o espetáculo como um todo. E ele é sem dúvida muito atraente, em que pese um único reparo. Este diz respeito aos sonetos musicados.

Se por um lado é maravilhosa a idéia de Fernando Berditchevsky de musicar os belíssimos sonetos (no programa não fica muito claro se as canções são de sua autoria ou se ele ficou apenas responsável pela direção musical), elas acabam não cumprindo sua finalidade como seria o desejado, já que as músicas são muito parecidas e, em muitos casos, não permitem a correta apreensão dos textos - caso Berditchevsky julgue procedente esta opinião, não vejo o menor problema em que ele dê uma mexida nas canções.

No tocante aos esquetes, interpretados com segurança e alegria pelos Saltimbancos, estes cumprem plenamente sua finalidade que, como já foi dito, é a de introduzir as cenas, resumindo-as e contextualizando-as em relação à obra - e aqui cabe ressaltar que essas intervenções poderiam ser chatíssimas, se apenas didáticas, o que não ocorre dada a teatralidade imposta às informações.

Com relação às cenas, estas foram dirigidas de forma segura e vigorosa por José Roberto Mendes, e sua simplicidade formal me parece inteiramente adequada à proposta, pois o que está em causa é a beleza do texto e a performance dos intérpretes. E todos mostram-se à altura dos personagens que interpretam - é claro que eu, como qualquer outro espectador que já tenha assistido às peças em questão, poderia eventualmente preferir uma linha diferente para um determinado papel, mas isto é  totalmente irrelevante, pois os personagens criados por Shakespeare, maravilhosos e complexos como são, permitem infinitas leituras.

Com relação à equipe técnica, José Dias responde por uma cenografia em total sintonia com o contexto, o mesmo aplicando-se aos figurinos assinados por Márcia Pitanga e à iluminação a cargo de Rogério Emerson, que muito contribuem para o sucesso de um espetáculo que, esperamos, seja um marco não apenas deste verão, mas de muitos outros que se seguirão.

SHAKESPARQUE - Concepção e direção geral de Paulo Reis. Grande elenco e a Banda do Bardo. Parque Lage. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h.  

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