segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Teatro/CRÍTICA

"R&J de Shakespeare - Juventude    Interrompida"

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Imperdível versão de um clássico


Lionel Fischer


"O ponto de partida é inusitado: em uma escola católica extremamente conservadora, quatro estudantes exploram Romeu e Julieta como uma fuga da repressão em que vivem, e através disso exploram suas próprias sexualidades. Eles começam a ler - e depois a 'viver' propriamente - todos os diálogos e emoções do clássico. Sem trocas de roupas ou de cenário, a tragédia se desenrola basicamente através das atuações e do jogo cênico proposto por Colarco, com a peça dentro da peça".

O trecho acima, extraído do ótimo release que me foi enviado, sintetiza a proposta do presente texto, grande destaque da temporada inglesa de 1977, tendo arrebatado a crítica e recebido os mais importantes prêmios daquele ano.  

Após cumprir bela temporada no Espaço Sesc, a montagem dirigida por João Fonseca volta a ser apresentada às terças e quartas, às 21h, no Teatro Gláucio Gill - nesta semana, só haverá espetáculo na quarta. De autoria de Joe Calarco e contando com ótima tradução de Geraldo Carneiro, "R&J de Shakespeare - Juventude Interrompida" tem elenco formado por João Gabriel Vasconcellos, Rodrigo Pandolfo, Pablo Sanábio e Felipe Lima.

Não tenho autoridade para afirmar ser esta a mais inventiva e brilhante adaptação já feita de "Romeu e Julieta". No entanto, reluto em acreditar que uma outra a tenha suplantado, posto que toda a poesia e tragicidade do original foram não apenas mantidas, mas perfeitamente encaixadas na contemporaneidade - a ação se passa nos anos 80, num colégio interno inglês. E isto só faz demonstrar que certos temas são eternos, ainda que variadas as suas manifestações.

Com relação ao espetáculo, este talvez seja o mais impactante já realizado por João Fonseca. Através de marcas diversificadas,  imprevistas e plenas de imaginação, de notável manipulação dos tempos rítmicos e de uma disciplina cênica que, ao contrário do que se possa imaginar, propicia enorme liberdade aos intérpretes, ao invés de os aprisionar, Fonseca reafirma aqui seu enorme talento, cabendo registar a ovação que presenciei quando assisti a  montagem - ovação esta, diga-se de passagem, nascida espontaneamente de um público leigo, e não de convidados.

No tocante ao elenco, otimamente dirigido, estamos diante de um quarteto de grande talento, mas que, ainda assim, merece uma avaliação diversificada. Se por um  lado é inegável que João Gabriel Vasconcellos e Felipe Lima cumprem com vigor e segurança os papéis que interpretam, por outro não há como negar que Rodrigo Pandolfo e Pablo Sanábio estão num estágio superior.

Quanto a Pandolfo, o conheço desde os 18 anos, quando foi meu aluno no Tablado e já naquela época (passaram-se, talvez, uns sete ou oito anos) tive absoluta certeza de que, se abençoado pelos sempre caprichosos deuses do teatro, haveria de trilhar uma belíssima carreira. E felizmente minha previsão vem se confirmando, pois a cada novo trabalho Pandolfo demonstra ter nascido para o palco - tem presença, carisma, ótima voz e grande expressividade corporal, afora notável capacidade de entrega e igualmente notável propensão a fazer escolhas que fogem ao previsível.

E o mesmo se aplica a Pablo Sanábio, que no presente espetáculo exibe avassaladora presença cênica, seja qual for o personagem que está interpretando. Sem dúvida, outro "abençoado", que reúne todas as condições para, num breve futuro, tornar-se um dos melhores atores deste país - desde que, naturalmente, continue estudando, praticando ao máximo e sobretudo permanecendo atento ao fato de que abraçou uma carreira sujeita a múltiplos riscos e imprevistos. 

No complemento da equipe técnica, Nello Marrese responde por uma cenografia despojada, mas ainda assim altamente expressiva, a mesma expressividade presente nos figurinos de Ruy Cortez, na iluminação de Luiz Paulo Nenen e na trilha sonora de João Bittencourt e André Aquino, que muito contribuem para o sucesso deste espetáculo que certamente será um marco na atual temporada.

R&J DE SHAKESPEARE - JUVENTUDE INTERROMPIDA - Texto de Joe Calarco. Tradução de Geraldo Carneiro. Direção de João Fonseca. Com João Gabriel Vasconcellos, Rodrigo Pandolfo, Pablo Sanábio e Felipe Lima. Em cartaz no Teatro Gláucio Gill, às terças e quartas, às 21h, durante o mês de fevereiro.

Um comentário:

  1. Gostei muito do que o senhor falou da peça R& J porque eu penso o mesmo.Conheço o Pandolfo ha 1 ano e pouco e ele me envolve com sua limpeza de atuação! Também sou atriz e ele me ensina sempre a ser uma grande atriz.Felipe Lima faz seus personagens com categoria,o Pablo é divino: Ele da uma quebra no drama pra fazer a comedia,representando a ama!
    Belissimos!

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