terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Teatro/CRÍTICA

                       "Temporada de gripe"

...............................................................
Texto incompreensível e enfadonho


Lionel Fischer


Fundada em Curitiba, em 1993, por Felipe Hirsch e Guilherme Weber, a Sutil Companhia de Teatro já levou à cena 30 espetáculos, firmando-se como uma das mais interessantes do país. Agora, ao atingir sua "maioridade", o grupo está em cartaz no Rio de Janeiro (Espaço Tom Jobim) com três espetáculos. Um já exibido aqui, em 2008: "Não sobre o amor". E os outros dois inéditos: "Thom Pain / Lady Grey" e "Temporada de gripe". A presente crítica refere-se ao último. 

"É uma peça sobre a paixão. A gripe é isso: estar apaixonado. Os doutores da peça tratam a paixão com distância: são profissionais. Além disso, o texto trata da desconstrução da criação de uma história de amor", afirma o diretor Felipe Hirsch no release que me foi enviado, constando ainda do referido release a informação de que "...no palco, dois narradores, Prólogo e Epílogo, contam, esclarecem, comentam e até confundem o romance entre um homem e uma mulher internados em um hospital psiquiátrico".

De autoria do norte-americano Will Eno, "Temporada de gripe" chega à cena com direção de Hirsch e elenco formado por Erica Migon, Guilherme Weber, Jorge Amil, Leandro Daniel Colombo, Leonardo Medeiros e Sara Antunes.

Antes de mais nada, permito-me discordar da comparação feita por Felipe Hirsch entre paixão e gripe - a menos que o talentosíssimo diretor esteja se referindo a uma gripe avassaladora, do tipo que nos atira na cama, provoca febre altíssima e intensa dor nos ossos. Não sendo assim, não estamos diante de paixão alguma - no máximo, uma leve e fugaz atração. Mas vamos ao texto.

Das informações prestadas, certamente é verdade que a peça é "comandada" por dois narradores, também autores, que se denominam Prólogo e Epílogo. E também é certo que a ação se dá num hospital psiquiátrico e que dois pacientes tentam esboçar uma história de amor. Quanto a tudo o mais, me senti como alguém que,  desavisado, tivesse entrado numa festa para a qual não foi convidado.

Sim, pois excetuando-se algumas frases e eventuais pensamentos,  não consegui apreender os conteúdos propostos pelo autor e tampouco estabelecer com os personagens um mínimo de identificação ou empatia. Se, como afirma Hirsch, uma das premissas básicas do espetáculo era a "desconstrução da criação de uma história de amor", para mim ela se deu de forma absoluta, ou seja, "descontruiu" toda e qualquer possibilidade de me envolver com o que ocorre em cena.

É evidente que poderia tecer inifinitas conjecturas, sair formulando  diversificadas hipóteses - afinal, escrevo sobre teatro há 22 anos e julgo possuir um mínimo de domínio sobre as palavras e também no que concerne ao fenômeno teatral. Mas estaria sendo falso e a parecer "inteligente", prefiro assumir minha ignorância. Para mim, "Temporada de gripe" é um texto incompreensível e enfadonho -  mas trata-se apenas de uma opinião e, como tal, sujeita a todos os enganos.

Quanto ao espetáculo, este é muito inferior a todos que assisti da Sutil Companhia de Teatro, que já levou à cena diversas montagens brilhantes e inesquecíveis, marcadas por soluções de altíssima criatividade e inquestionável originalidade. 

No tocante ao elenco, estão em cena excelentes profissionais, todos eles com vasta experiência e relevantes serviços prestados à nobre e dificílima arte de representar. Assim, em nada me surpreende que  exibam performances seguras e convincentes, ainda que apoiadas em personagens confusos e mal estruturados.

Na equipe técnica, Daniela Thomas assina uma cenografia asséptica e expressiva, a mesma expressividade presente na iluminação "gelada" de Beto Bruel. Verônica Julian responde por figurinos corretos.

TEMPORADA DE GRIPE - Texto de Will Eno. Direção de Felipe Hirsch. Com a Sutil Companhia de Teatro. Espaço Tom Jobim. Sábado e domingo, 21h.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário