Teatro/CRÍTICA
"Me salve, musical!"
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Deliciosa e desvairada comédia
Lionel Fischer
George Simas é um diretor de musicais, quase todos (senão todos) realizados a partir de idéias roubadas de outros autores/diretores. Em resumo, um plagiador. Sua esposa Alma Duran é uma atriz dramática cuja interpretação de "Medéia" a marcou de tal forma que nunca mais recebeu convites para representar. O casal está no Aeroporto Tom Jobim à espera de um vôo para Nova York, onde George, como de hábito, pretende assistir a musicais que possa plagiar, enquanto ela encara a viagem como uma possibilidade de "discutir a dor da relação".
No entanto, o aeroporto é fechado em função de uma inesperada e desconhecida epidemia, cujos sintomas não cabe aqui revelar, pois isto privaria o espectador de deliciosas e bizarras surpresas. E outras "vítimas" vão surgindo: uma aeromoça (ex-amante de George), um empresário latino, autor de um livro intitulado "Como influenciar as pessoas sem que elas percebam", um psicanalista apaixonado por Alma, uma garota dark e uma funcionária da Cia Aérea.
Eis, em resumo, o contexto de "Me salve musical!", mais recente produção da Zeppelin Cia. Pedro Brício assina o texto e a direção da montagem, em cartaz no Oi Futuro. No elenco, Gustavo Gasparani (George), Susana Ribeiro (Alma), Fernando Alves Pinto (Psicanalista), Isabel Cavalcanti (Aeromoça), Celso André (Empresário), Keli Freitas (Garota dark) e Juliana Medella (Funcionária da Cia. Aérea).
Segundo o autor e diretor Pedro Brício, o espetáculo "...é como um musical que fracassa, porque o caos interfere nos sonhos de felicidade. Porque os personagens não cantam e nem dançam muito bem, porque rompantes trágicos parecem invadir a cena e a trama é contaminada pelo absurdo. E é nesse fracasso que o espetáculo se constrói".
Tal avaliação está em total consonância com o que é exibido em cena. E a idéia da súbita contaminação de todos os personagens é realmente um achado, pois a seqüência de sintomas - que também não cabe aqui revelar - é comum a todos eles, valendo registrar o caráter deliciosamente bizarro do misterioso vírus, que produz efeitos que nada têm a ver com qualquer tipo de "doença".
Enfim...estamos diante de um texto engraçadíssimo, que mesmo priorizando o humor não deixa de abordar questões, digamos, mais sérias. Contendo ótimos personagens, diálogos fluentes e uma ação que a todo momento envereda por caminhos insuspeitados, "Me salve, musical!" recebeu ótima versão cênica de Pedro Brício.
Valendo-se de marcas tão diversificadas quanto criativas, explorando todo o potencial absurdo do texto, Brício constrói uma encenação que cativa o espectador desde o início. Mas tal mérito, evidentemente, em muito se deve à ótima atuação do diretor junto ao elenco.
Sem exceção, todos os intérpretes exibem performances maravilhosas, um irretocável tempo de comédia, uma contagiante alegria de estar em cena. Assim, seria injusto destacar algum desempenho individual, dada a coesão do conjunto. De qualquer forma, e partindo-se da premissa de que eventuais injustiças são inerentes à espécie humana, me permito explicitar meu enorme prazer em rever Susana Ribeiro, uma das melhores atrizes de sua geração e que deveria, para o bem do teatro carioca, com ele se comprometer a nunca mais deixar de fazer ao menos uma peça por ano.
Na equipe técnica, Rui Cortez responde por impecável direção de arte, sendo irretocáveis a iluminação de Tomás Ribas, a música original e direção musical de Lucas Marcier, Fabiano Krieger e Felipe Rocha (este último também responsável pelas canções) e a preparação corporal de Cristina Moura.
ME SALVE, MUSICAL!" - Texto e direção de Pedro Brício. Com Gustavo Gasparani, Susana Ribeiro, Fernando Alves Pinto, Isabel Cavalcanti, Celso André, Keli Freitas e Juliana Medella. Oi Futuro. Sexta a domingo, 19h30.
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
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