terça-feira, 9 de julho de 2013

Teatro/CRÍTICA

“Um dia qualquer”

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Inusitados e instigantes encontros


Lionel Fischer


“Um executivo, uma professora de inglês, um ator que trabalha com animação de festas e uma enfermeira de pacientes terminais, encontram-se num banco de praça, em plena semana de trabalho na correria do Centro do Rio. O público se torna cúmplice das confissões e histórias destes estranhos que nunca haviam se visto antes, e esse encontro inusitado faz com que revelem suas dores, seus amores e sua vida. Os personagens falam também diretamente com o público, dividindo seus pensamentos e se contradizendo com as suas ações”.

Extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o contexto e a trama de “Um dia qualquer”, de Julia Spadaccini, em cartaz no Espaço Sesc. Alexandre Mello assina a direção da montagem, estando o elenco formado por Anna Sant’Ana (Renata, professora de inglês), Dida Camero (Ana, enfermeira),  Leandro Baumgratz (José, o executivo)  e Rogério Garcia (ator animador de festas).

Dizem os sábios que, dentre todos os encontros possíveis, os inusitados são aqueles que possuem maior potencial de transformação, justamente por sua natureza imprevisível. E com tais sábios concordo, e me parece que a autora também. E talvez por isso escreveu uma peça que, partindo do encontro fortuito entre a professora de inglês e o executivo, e mais adiante agregando o animador de festas e a enfermeira, criou uma trama que revela, de forma alternadamente dramática e cômica, todo um universo de carências e desejos, fazendo aflorar tudo aquilo que, em condições normais, permaneceria oculto.

Bem escrito, contendo bons personagens e diálogos fluentes, “Um dia qualquer” recebeu segura e criativa versão de Alexandre Mello, cabendo destacar a habilidade do encenador no tocante às quebras de ritmo e nas passagens em que os personagens se dirigem inesperadamente à platéia – nesses momentos, os outros personagens “congelam” ou reagem ao solo, de uma maneira geral assumindo posturas de quem discorda do que está sendo dito. Um texto original, sensível e muito divertido, que prende a atenção do espectador desde o início.

Com relação ao elenco, todos os atores valorizam ao máximo os personagens que interpretam, numa atuação tão homogênea que seria injusto apontar algum destaque. Mas gostaria ainda de salientar a ótima contracena que exibem e a evidente felicidade por estarem fazendo um texto em que acreditam totalmente.

Na equipe técnica, considero irretocáveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta oportuna empreitada teatral – Renato Machado (iluminação), Daniele Geammal (cenografia), Ticiana Passos (figurinos) e Leandro Baumgratz (trilha sonora).

UM DIA QUALQUER – Texto de Julia Spadaccini. Direção de Alexandre Mello. Com Anna S’ant’Ana, Dida Camero, Leandro Baumgratz e Rogério Garcia. Espaço Sesc. Quinta a sábado, 20h30. Domingo, 18h30.
 



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