segunda-feira, 23 de março de 2009

Teatro/CRÍTICA

"O santo e a porca"
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Boa versão de um clássico
Lionel Fischer
Autor de um belo romance ("Romance da pedra do reino"), adaptado com grande sucesso para a televisão, e um dos mais importantes dramaturgos nacionais, Ariano Suassuna escreveu peças deliciosas, dentre elas "Uma mulher vestida de sol", "O casamento suspeitoso", "A farsa da boa preguiça", "A pena e a lei", "Auto da compadecida" e "O santo e a porca". E é justamente esta última, montada pela primeira vez no Rio há 50 anos, que agora volta ao cartaz, após cumprir ótima temporada em 2008.
Em exibição no Teatro Villa-Lobos, "O santo e a porca" é uma produção da Cia. Limite 151 e chega à cena com direção de João Fonseca e elenco formado por Élcio Romar (Euricão), Gláucia Rodrigues (Caroba), Armando Babaioff (Dodó), Marcio Ricciardi (Eudoro Vicente), Nilvan Santos (Pinhão), Duaia Assumpção (Benona) e Janaína Prado (Margarida).
Embora se trate de um texto muito conhecido, é possível que alguns o desconheçam. Então, reproduzimos a seguir a "sinopse" do texto, por sinal muito bem escrita pela assessora de imprensa Ana Gaio:
"A avareza doentia de Euricão vai deixá-lo pobre e solitário, como ele se dizia ser e vivia para evitar os fantasmagóricos 'ladrões' que o assediavam. Caroba, criada por Euricão para se casar com Pinhão, que trabalha para o milionário Eudoro, arquiteta um mirabolante, audacioso, confuso e hilário plano. Todos se deixam envolver tendo de um lado os 'oprimidos' de todas as espécies e, de outro, os supostos opressores Euricao e Eudoro".
Estamos, evidentemente, diante de uma comédia, mas certamente impregnada de saborosas críticas a determinados valores, sobretudo os inerentes ao dinheiro - e aqui a questão é colocada de forma muito engraçada, pois Euricão enfiou dentro de um cofre, com formato de porca, tudo que ganhou na vida, ao mesmo tempo simulando ser muito pobre. No final, porém, é forçado a constatar a patética inutilidade de seu hábito...
Bem escrita, repleta de humor e contendo ótimos personagens, ainda assim acreditamos que "O santo e a porca" poderia ser uma peça ainda mais contundente se fosse um pouco mais curta, pois em sua metade há passagens que poderiam perfeitamente ser abreviadas ou simplesmente excluídas, já que só contribuem para ralentar a narrativa. E este problema torna-se evidente no espetáculo.
Este começa de forma esfusiante, alegre, com marcações muito criativas e divertidas. Mas quando atinge sua metade, dada a prolixidade do texto, o ritmo cai e, consequentemente, o interesse do espectador diminui. Mas não a ponto de lamentar ter comparecido ao Villa-Lobos, não só pelas razões já apontadas como também pelo ótimo desempenho do elenco.
Indicada ao Prêmio Shell de Melhor Atriz do ano passado, Gláucia Rodrigues constrói uma Caroba irrepreensível - maliciosa, debochada, astuta e extremamente sensual. Élcio Romar também exibe ótima performance na pele de Euricão, o mesmo aplicando-se a Duaia Assumpção, que valoriza ao máximo o relativamente curto papel de Benona. Os demais integrantes do elenco atuam com segurança e grande vitalidade.
Na equipe técnica, o grande destaque vai para os divertidos e criativos figurinos de Ney Madeira, também indicado ao Shell de 2008. Nello Marrese assina uma cenografia totalmente adequada ao contexto, sendo corretas a música original e direção musical de Wagner Campos, e a iluminação de Rogéio Wiltgen.
O SANTO E A PORCA - Texto de Ariano Suassuna. Direção de João Fonseca. Com Élcio Romar, Gláucia Rodrigues, Armando Babaioff, Marcio Ricciardi, Nilvan Santos, Duaia Assumpção e Janaína Prado. Teatro Villa-Lobos. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 20h.

Um comentário:

  1. Valeu, Lionel! Este Suassuna é um presente para os atores, adoramos fazer e divertir o público!
    Vou colocar um link para seu blog no meu.
    Um abraço, Duaia

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