sábado, 18 de abril de 2009

LIVRO/CRÍTICA

Vísceras expostas

Lionel Fischer

Em certa ocasião, Chico Buarque declarou que a velhice “é uma tragédia”. É provável que nosso maior compositor vivo estivesse se referindo à inexorável e progressiva diminuição da capacidade de nosso corpo de responder a estímulos a ele inerentes. Neste sentido, não há o que contestar. Em contrapartida, quando somos jovens e, portanto, nossos corpos respondem sem hesitação a tudo que lhes é solicitado, nem por isso nossa juventude seja imune a outras “tragédias”. Uma delas, por exemplo, reside no fato de que a maioria dos jovens recusa-se a pensar, o que levaria Descartes a vaticinar que não existem.
No entanto, estamos aqui diante de um jovem que, com 25 e 26 anos, dedicou grande parte de seu tempo não apenas ao ato de pensar, mas de converter seus pensamentos em poesia. E em poesia que foge por completo ao previsível, já que o autor fala de si mesmo através de sua relação com cineastas, poetas, escritores, músicos e filósofos, dentre outros. Mas não se trata, apenas, de múltiplos tributos – embora estes não deixem de existir – mas também de contestações apaixonadas e apaixonantes, e invariavelmente impregnadas de sons e fúrias, como diria o fabuloso bardo, com quem nos desculpamos por utilizar suas imortais palavras no plural.
“Pequenas Biografias Não-autorizadas” é o primeiro livro do gaúcho Leonardo Marona, que hoje terá 28 anos, ao que imaginamos. E a julgar por essa primeira amostra, estamos diante não de um jovem e promissor poeta, mas de alguém que domina a escrita com maestria, cria poderosas e surpreendentes imagens, e sobretudo tem muito a dizer. E o formato que escolheu para sua primeira obra, sem dúvida muito original, é o que menos importa, já que a originalidade, em si, não quer dizer nada. O que nos impressionou foi a capacidade de Marona de expor suas vísceras, de buscar as palavras em suas entranhas, de nos dar a sensação de que não poderia continuar vivendo sem colocar no papel todas as suas perplexidades perante o ato de viver. Salvo monumental engano de nossa parte, Leonardo Marona veio para ficar.

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“Pequenas Biografias Não-autorizadas” (poesia, 86 páginas – Editora 7 Letras, Rio de Janeiro, 2009). Lançamento: Bar Bukowski, 09 de maio, a partir de 19h.

2 comentários:

  1. Lionel, te agradeço imensamente pelo texto, tão generoso. quando Rose me disse que vc havia escrito alguma coisa, sendo o crítico de teatro que é, me deu um frio na barriga.

    que bom que o livro te serviu para alguma coisa. um grande abraço do amigo, Leo Marona.

    www.omarona.blogspot.com

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  2. Deve ser uma bela obra poetica.

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