Teatro/CRÍTICA
"Friziléia"
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Banalidades e contradições no Vanucci
Lionel Fischer
De acordo com o release que nos foi enviado, estamos diante de números impressionantes: "267 mil espectadores, sendo 152 mil provenientes de teatros de 33 cidades e 115 mil em praças de 21 cidades". É com este cacife que chega ao Rio de Janeiro a peça "Friziléia", em cartaz no Teatro Vanucci. Camilo Áttila assina o texto, Luís Arthur Nunes a direção e Elizabeth Savala defende a única personagem do monólogo, que ainda conta com as participações em vídeo de Marcelo Escorel (esposo de Friziléia) e Maria Esmeralda (sua sogra).
A abundância numérica acima apresentada não deixa margem a nenhuma dúvida: "Friziléia" vem cumprindo uma carreira de inegável sucesso. No entanto, uma dúvida nos acossa: a que atribuir tamanho êxito?
Senão, vejamos: a personagem é repleta de contradições, pois se por um lado somos informados de que quase se formou em psicologia, se apaixonou por um líder estudantil e chegou a ser torturada, mais adiante, para se vingar do marido que a está traindo, veste-se de forma supostamente sedutora, vai para a Avenida Atlântica e faz sinal para o motorista de uma Brasília, sob o pretexto de lhe pedir uma carona. É óbvio que o tal motorista só pode vê-la como uma prostituta, mas Friziléia fica assombrada, como também se assombra quando o tal homem lhe propõe pagar um boquete, que ela - ex-universitária, presa política etc. - não sabe o que significa!?
E quanto à descrição das mazelas de seu dia-a-dia, nada do que é dito evidencia um olhar minimamente original sobre um casamento fracassado, filhos rebeldes e uma sogra invasiva e insuportável. É certo que eventualmente a personagem faz uma observação engraçada ou empreende uma breve reflexão sobre um dos muitos temas que a atormentam. Mas é muito pouco para uma hora e meia de espetáculo, que dá a sensação de não ter para onde ir, porque o texto se limita a um falatório interminável e desprovido de um foco capaz de motivar qualquer tipo de ação que escape às confissões que a protagonista faz todo o tempo à platéia.
Luís Arthur Nunes é um excelente diretor, assim como Elizabeth Savalla uma atriz tatentosa e com muitos trabalhos relevantes, em especial na televisão - mas gostaríamos de destacar sua ótima participação no filme "Pra frente Brasil" (1983), de Roberto Farias. E ambos tentam de forma abnegada conferir algum interesse a "Friziléia", mas lamentavelmente o material dramatúrgico não o permite.
Na equipe técnica, Rosa Magalhães assina uma cenografia pobre em termos imaginativos, mas certamente muito prática no tocante a viagens. Os figurinos de Biza Vianna são inconvincentes - Friziléia, quando está em casa, parece vestida para uma festa, e quando vai para a "nigth" torna-se uma caricatura. Rogério Wiltgen ilumina a cena de forma burocrática.
FRIZILÉIA - Texto de Camilo Áttila. Direção de Luís Arthur Nunes. Com Elizabeth Savalla. Teatro Vanucci. Sextas e sábados, 21h30. Domingo, 20h.
sábado, 25 de abril de 2009
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