quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Teatro/CRÍTICA

"Chave de cadeia"

.............................................
Deliciosa ode à dor de cotovelo


Lionel Fischer


"Chave de Cadeia é um espetáculo musical sobre a paixão, a insatisfação, o exagero amoroso e sua conexão inevitável com o sofrimento. O termo que dá título ao espetáculo refere-se a perigo iminente, complicação, baixaria. O amor, inspiração primeira para obras-primas da música popular brasileira, será cantado com humor, sensibilidade e sofisticação. Em cena, a atriz e cantora Ana Baird e Rene Rossano contam a história de uma crooner decadente, uma apaixonada terminal. Uma amante descontrolada, submissa, escandalosa e por isso mesmo risível. Uma abordagem irônica e refinada sobre a compulsão amorosa e o desequilíbrio emocional a que estamos expostos, em maior ou menor grau, pelo exercício da arte do amor".

Este trecho, extraído do release que me foi enviado, retrata com exatidão a proposta do presente espetáculo, cabendo ressaltar o seguinte detalhe: a protagonista é uma crooner, ou seja, em alguma instância uma personagem, pois do contrário estaríamos diante de uma apresentação apenas musical. E o fato de sua personalidade ter sido descrita justificaria não somente sua postura em cena, mas a forma como interpreta as 19 canções selecionadas, criadas por renomados compositores nacionais e estrangeiros, todas elas fazendo uma espécie de ode à dor de cotovelo. Em cartaz na Sala Tônia Carrero do Teatro do Leblon, "Chave de cadeia - Uma comédia musical de bolso" chega à cena com direção, cenografia, figurinos e interpretação a cargo de Ana Baird, acompanhada ao violão e guitarra por Rene Rossano.

Para fugir da estrutura de um recital, como já foi dito, estamos diante de uma personalidade definida, e que portanto canta e age em sintonia com a mesma. Assim, por exemplo, a parte inicial da montagem (por sinal muito engraçada) nos mostra a cantora estirada num divã, adormecida, que só acorda para o espetáculo após o guitarrista emitir sons cada vez mais altos e estridentes. Então ela se levanta, meio trôpega, vai até sua bolsa - driblando uma infinidade de garrafas de bebidas alcoólicas espalhadas pelo chão - e dela retira mais garrafas, cigarros, produtos de maquiagem etc. Finalmente, começa a cantar, já estando então bastante claro o contexto da apresentação.

Ana Baird é uma ótima atriz e como cantora exibe a mesma excelência. E a mescla desses dois dotes permite ao espectador tanto se divertir com a forma como canta algumas canções como também se emocionar com aquelas em que a tristeza predomina. Além disso, como a intérprete possui forte presença cênica, grande carisma e irretocável preparo corporal, o resultado não poderia ser outro: uma divertida e emocinada noitada músico-teatral, que sem dúvida haverá de ser acolhida com grande entusiasmo pelo público carioca. E tal sucesso deve também ser em muito creditado à performance de Rene Rossano, tanto pelo virtuosismo que exibe nos dois instrumentos como também pela beleza dos arranjos, cujas dissonantes harmonias contribuem de forma decisiva para ressaltar as dissonâncias inerentes à paixão.

Com relação à equipe técnica, Ana Baird responde por ótima cenografia e um figurino totalmente em sintonia com a personalidade que encarna, cabendo destacar a expressiva luz de Paulo César Medeiros, em geral soturna e depressiva, bem de acordo com a atmosfera do espetáculo. Finalmente, um último registro: parabenizamos a maravilhosa atriz que é Louise Cardoso por ter acreditado nesta deliciosa proposta e tê-la produzido.

CHAVE DE CADEIA - Espetáculo musical idealizado e protagonizado por Ana Baird, que divide a cena com o músico Rene Rossano. Teatro do Leblon. Terças e quartas, 21h.

Nenhum comentário:

Postar um comentário