terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Olha o fogo!

         O uso de tochas acesas na iluminação ou como adereços tem sempre um forte impacto cênico e visual, mas a confecção e a manipulação desses artefatos requerem o máximo de cuidado e técnica. Em princípio, qualquer chama acesa no palco deve ser evitada. Quando for imprescindível ao espetáculo, no entanto, a presença de tochas em cena proporciona risco menor se algumas precauções forem tomadas.
            A fabricação da tocha é feita com um cabo de vassoura de comprimento suficiente para que a mão do ator não fique muito próxima à chama (cerca de 40 cm). O material empregado na “cabeça” é manta de amianto, que não se despedaça facilmente sob a ação do fogo. Este produto é vendido em lojas de artigos de segurança para o trabalho ou de juntas para motores, em tiras de larguras e espessuras variadas. Para a confecção das tochas, utilizam-se tiras de 2” (5cm) de largura por 1/16” (1,6mm) de espessura. Devido à sua alta toxicidade, o amianto deve ser manipulado com luvas e em local arejado.
            O fogo é alimentado por combustível líquido. Se a utilização for em espaço ao ar livre, pode ser querosene, que queima lentamente. Caso contrário, uma mistura em partes iguais de gasolina e álcool não produzirá tanta fumaça, embora a chama dure bem menos tempo. Como o querosene tem densidade bem diferente da gasolina e do álcool, não adianta tentar qualquer mistura intermediária procurando conciliar durabilidade e pouca fumaça, pois não se obterá solução uniforme.
            Uma tira de 50cm de comprimento de amianto é pregada e enrolada numa das extremidades do cabo de vassoura. Quando estiver completamente enrolada, a ponta solta é novamente pregada e amarra-se o rolo de amianto com arame, bem apertado, garantindo que se mantenha inteiro durante a combustão. Deve-se lembrar de arrematar bem os “nós” do arame, para evitar arranhões no manuseio da tocha ainda apagada. O comprimento da tira de amianto pode variar, determinando um número maior ou menor de voltas em torno do cabo e, conseqüentemente, absorvendo mais ou menos combustível, outro fator de alteração da duração da chama.
            Minutos antes da utilização, a “cabeça” das tochas é embebida num balde do combustível, com cuidado para não molhar a madeira nem deixar a solução escorrer pelo cabo. Recomenda-se que o ator que manipula a tocha vista luvas de amianto (luva especial, não é exatamente do mesmo material que a manta, nem é tóxica!), que resistem ao calor, ou luvas de pedreiro (em couro ou tecido grosso) embebidas de água. Por precaução, um cobertor molhado deve ser mantido nas proximidades, dobrado em “sanfona”, para apagar as tochas ao final da cena.
            É possível adquirir, em comércio especializado no exterior, tochas fabricadas para o uso em espetáculos teatrais e circenses. Estes artigos, porém, além do custo elevado, não resistem a mais de cinco minutos de chama acesa antes que a “cabeça”, também feita de amianto, comece a se estragar.

Este artigo foi extraído do jornal Galharufa - soluções alternativas em tecnologia teatral (galharuf@rio.com.br). Contou com a colaboração de Renato Coelho, técnico em pirotecnia e efeitos especiais. A publicação, coordenada e redigida por José Henrique Moreira, constitui projeto conjunto de pesquisa do programa de pós-graduação em teatro do Centro de Letras e Artes da UNI-Rio e do Departamento de Métodos e Áres Conexas da Escola de Comunicação da UFRJ. E convida a todos para enviarem suas sugestões. O presente artigo foi publicado na revista Cadernos de Teatro nº 155.

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