Teatro/CRÍTICA
"Barba Azul, a esperança das mulheres"
...........................................
Texto confuso e prolixo
Lionel Fischer
"A partir da fábula do Barba Azul a dramaturga alemã Dea Loher apresenta seu olhar sobre as experiências amorosas no mundo de hoje. Na peça, o Barba Azul chama-se Henrique, um homem comum, morador de uma grande cidade que trabalha como vendedor de sapatos femininos. Ao longo da narrativa nosso anti-herói vive encontros amorosos com sete mulheres diferentes: Júlia, seu primeiro amor; Ana, uma amiga; uma mulher Cega; Judite, a insone; Tânia, a prostituta; Eva, a mulher que casou sete vezes; e Cristiana, a audaciosa. A partir desses encontros, como num caleidoscópio de imagens, o espectador assiste a fragilidade, a solidão e o descaminho de pessoas que circulam pelas grandes cidades. A peça é uma fábula cômica que aponta os traços ainda pouco explorados da sensibilidade feminina na contemporaneidade".
O trecho acima, que consta do release que me foi enviado, é a sinopse da peça. E sua leitura sugere que o espectador não terá maiores dificuldades para apreender os conteúdos propostos pela autora, já que não constitui nenhuma novidade a fragilidade, a solidão e o descaminho de pessoas que circulam pelas grandes cidades. Mas não é exatamente o que ocorre e muito menos podemos encarar o texto como uma fábula cômica que aponta traços ainda pouco explorados da sensibilidade feminina na contempporaneidade. Ao longo das linhas que se seguem, tentarei justificar minha opinião, ressaltando, como sempre, que trata-se apenas de uma opinião e, como tal, sujeita a todos os enganos.
Em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim, "Barba azul, a esperança das mulheres" chega à cena com tradução de Carola Saavedra, direção de Fábio Ferreira e elenco formado por Márcio Vito, Raquel Iantas, Marcelle Sampaio, Teresa Hermany, Mona Vilardo e Laura Becker.
A primeira questão em relação ao texto é a seguinte: por que o dito sapateiro mata as mulheres? Trata-se de um serial killer? De um psicopata que não consegue refrear seus impulsos assassinos? Se assim fosse, teríamos que conhecer suas patológicas motivações. Mas como não chegamos a conhecê-las, é possível que a autora tenha se valido do protagonista apenas como uma espécie de metáfora da violência contemporânea. Ou o tenha criado por razões que não cheguei a compreender - poderia, evidentemente, formular dezenas de conjecturas, mas nenhuma delas seria fruto de uma real sensação por mim vivida enquanto assistia ao espetáculo.
Quanto aos traços ainda pouco explorados da sensibilidade feminina na contemporaneidade, que traços seriam esses? Os que me foram exibidos, já os vi em dezenas de peças ou filmes, portanto nada têm de "pouco explorados". A única diferença fica por conta da forma que a autora elegeu para materializá-los, quase sempre partindo de uma situação gratuita e injustificada. Ainda assim, cabe reconhecer a pertinência de algumas observações, mas estas acabam perdendo sua eventual contundência em face da extensão do texto e de sua confusa estrutura narrativa.
Em resumo: trata-se de uma obra que só consegue ser assistida com um mínimo de interesse graças à encenação de Fábio Ferreira, ao trabalho do elenco e de toda a equipe técnica. Sendo um excelente diretor, Fábio Ferreira impõe à cena uma dinâmica sombria e expressiva, valendo-se de marcas em sintonia com o contexto - quanto aos eventuais momentos cômicos, eles de fato existem, mas são em quantidade mínima se comparados ao tom geral da montagem. E todo o elenco defende com vigor e sensibilidade os personagens que interpretam, a mesma eficiência presente nos trabalhos da equipe técnica - Fábio Ferreira (cenografia), Ticiana Passos (figurinos), José Luis Rinaldi (direção musical), Renato Machado (iluminação) e Marcelle Sampaio (preparação corporal).
BARBA AZUL, A ESPERANÇA DAS MULHERES - Texto de Dea Loher. Direção de Fábio Ferreira. Com Márcio Vito, Raquel Iantas, Marcelle Sampaio, Teresa Hermany, Mona Vilardo e Laura Becker. Casa de Cultura Laura Alvim. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 20h.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário