terça-feira, 11 de agosto de 2009

Relações nem sempre delicadas...

Lionel Fischer


Em todas as palestras que já dei sobre Crítica Teatral ao longo dos últimos 20 anos, além da clássica e inevitável pergunta "Qual o papel da crítica na atualidade?", uma outra sempre me é feita: "Como você se relaciona com a classe teatral?". Bem, a primeira implicaria numa resposta por demais extensa, mas a segunda é breve: tenho com a classe teatral - em todos os seus segmentos - o melhor relacionamento possível. E por uma razão muito simples, ou melhor, duas razões: minha paixão absoluta pelo teatro e meu total respeito pelos profissionais das artes cênicas.

No entanto, às vezes ocorrem alguns malentendidos. No meu caso, foram apenas dois: um quando escrevia no Globo e outro na Tribuna da Imprensa (Tribuna BIS). O do Globo já não tenho mais guardado, mas o da Tribuna achei outro dia, numa pasta em que não poderia estar. Enfim...coisas de alguém que prima pela organização, como eu. E tudo aconteceu em função de um pequeno equívoco por mim cometido, involuntariamente, que motivou a seguinte carta enviada à Tribuna e publicada na íntegra, em 15/05/2003 - em seguida, vem a minha resposta.
E antes que me esqueça: os títulos de ambas as cartas são de minha autoria e acho condizentes com o conteúdo das mesmas.

GRAVES CONSIDERAÇÕES

Solicitamos a publicação desta carta no espaço do leitor
do jornal Tribuna da Imprensa

Ao abrirmos o caderno Tribuna BIS, na página em que foi publicada a crítica de Lionel Fischer sobre a peça "Elogio da Loucura" - em cartaz no Teatro III do CCBB - nos deparamos com erros que consideramos graves para um profissional de jornalismo que tem um compromisso com a classe artística - que abre as portas do teatro para que ele possa realizar seu trabalho - e com o público leitor, que compra o jornal na banca. O crítico Lionel Fischer afirma em seu texto que Roger Mello realizou a adaptação, direção e cenografia, além de atuar no espetáculo. Gostaríamos de esclarecer que Roger Mello assina a adaptação do texto e cenografia do espetáculo. Quem está em cena e dirige a peça é Marcelo Mello, que nem sequer é citado na crítica. Essas informações encontram-se no release que nossa divulgação enviou ao crítico, no banner e nos cartazes que estão na bilheteria e por todo o CCBB e no programa que é distribuído ao público; programa este que Lionel Fischer poderia ter utilizado como excelente material de consulta - pelo menos no que diz respeito aos dados da ficha técnica. Lamentamos que erros assim aconteçam, nos levando a suspeitar de pouco cuidado da crítica com relação ao seu objeto de análise. Sugerimos que seja publicada uma errata, pois o público deve ficar ciente de que erros desta natureza ocorrem, mesmo no jornal que ele escolhe para ler. Precisa e tem o direito de saber que o crítico também pode errar, seja num dado objetivo - como é o caso de um nome na ficha técnica - seja na sua avaliação geral sobre a encenação. Reconhecer o erro é um dever ético e pode contribuir muito para a credibilidade do veículo. Agradecemos a atenção e esperamos que as devidas providências sejam tomadas.
Atenciosamente, a Produção do espetáculo "Elogio da Loucura".


OPORTUNOS ESCLARECIMENTOS

Quando a editora do BIS, Paula Cabral de Menezes, me entregou a solicitação da produção de "Elogio da Loucura" - só da produção ou ela envolveria um anseio de todos os envolvidos no projeto? - perguntei se ela achava conveniente publicar uma resposta. Ela disse que sim, mas não na forma de uma simples "errata" e no espaço solicitado (Espaço do Leitor, 1º Caderno), mas no próprio BIS, onde supostos e gravíssimos erros teriam sido por mim perpetrados. Pois bem, vamos a ela.

De fato, atribuí a Roger Mello não apenas a adaptação e cenografia da montagem, mas também a direção e um dos papéis. Por este equívoco, quem sabe fruto de os dois profissionais terem o mesmo sobrenome, peço sinceras desculpas a Marcelo Mello. Quanto aos demais erros, quais seriam? Julguei séria e bem intencionada a tentativa de adaptar uma obra que só por milagre poderia funcionar no palco. Será que me equivoquei e a empreitada não era séria e bem intencionada? E quanto ao elenco, cuja atuação achei correta, mas fiz questão de frisar que todos conseguem estabelecer maior empatia com a platéia nas passagens em que o humor predomina? Teria aqui novamente me enganado e a performance coletiva estaria abaixo do correto, e menos ainda no tocante ao humor?

Com relação à equipe técnica, elogiei o cenário (ainda que errando seu autor), os figurinos de Ney Madeira, a luz de Renato Machado (que acaba de ganhar o Prêmio Shell, do qual tenho a honra de ser jurado), a preparação vocal (Rose Gonçalves), a preparação corporal (Frederico Paredes) e a trilha sonora (Ricardo Rente). Mais uma coleção de enganos?

Para encerrar, gostaria de agradecer à produção o fato absolutamente inusitado de ter aberto as portas do teatro para mim, pois em caso contrário teria muita dificuldade de assistir ao espetáculo. Quanto à suspeita de "pouco cuidado da crítica com relação ao objeto de análise", trata-se de suspeição tão injusta que não me darei ao trabalho de comentá-la. E no tocante a um possível erro de avaliação da montagem, não explicitado no delicado fax que nos foi enviado, gostaria muitíssimo de conhecê-lo - o que sem dúvida me será de grande utilidade no ofício que exerço há 14 anos - e para tanto me coloco à inteira disposição da produção, bastando que fique acordado local e horário.

Atenciosamente,
Lionel Fischer

OBS: estou até hoje aguardando o proposto encontro, inutilmente.

Um comentário:

  1. Resposta simples, e, como tudo que é simples: perfeita!!! Parabéns pela elegância!!!

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