segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Teatro/CRITICA

"Moby Dick"

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Corajosa empreitada no Poeira

Lionel Fischer


Verdadeiros tratados já foram escitos sobre o romance "Moby Dick", de Herman Melville (1819-1891), cuja ação está toda centrada na obsessão do capitão Ahab em vingar-se do cachalote que lhe arrancou uma perna. A bordo do baleeiro Pequod, ele persegue o "monstro" até os confins do mundo, quando então se materializa seu esperado e trágico destino. Mas os muitos ensaístas que se detiveram na análise da obra sempre priorizaram seus aspectos filosóficos, existenciais, religiosos e metafísicos, pois tanto o capitão quanto a baleia se prestam a múltiplas metáforas.

Seja como for, o que nos importa aqui é a adaptação para o palco do monumental romance, feita por Aderbal Freire-Filho, também responsável pela direção. Em cartaz no Teatro Poeira, a peça tem elenco formado por Chico Diaz (Capitão Ahab), Isio Ghelman (Starbuck), Orã Figueiredo (Stubb) e André Mattos (Flaks), que além de interpretarem os mencionados pesonagens, encarnam muitos outros e também se dividem na narração.

Como todos sabemos, o brilhante diretor Aderbal Freire-Filho tem, dentre suas muitas qualidades, a de propor a si mesmo imensos desafios. No presente caso, trata-se talvez do maior deles, posto que a obra em questão, a par de todas as reflexões que propõe, é essencialmente um livro de aventura. Como fazer, então, para conciliar os dois aspectos?

Segundo o release que nos foi enviado, Aderbal "re-trabalhou dramaticamente o texto e escreveu cenas". E certamente deve ter tido muito trabalho - e enorme prazer, certamente - até chegar ao resultado final. Mas este não chega ser totalmente satisfatório, pois o volume de palavras é de tal ordem que os atores, na maior parte do tempo, são obrigados a enunciá-las em ritmo por demais acelerado, além de fazê-lo num tom de voz muito alto, assim comprometendo suas performances - mas nas poucas passagens em que o ritmo é menos vertiginoso, aí sim podemos usufruir o talento dos quatro excelentes intérpretes, assim como apreender alguns dos principais conteúdos em jogo.

Mas é claro que Aderbal, sendo um encenador de ponta, consegue muitas vezes criar soluções de grande teatralidade, explorando com criatividade a expressiva cenografia de Fernando Mello da Costa e Rostand de Albuquerque. E também extrair do elenco, ao menos nas passagens mais "calmas", como já foi dito, atuações à altura de seus predicados artísticos. E aqui cabe ressaltar a vigorosa e riquíssima performance de Chico Diaz, em especial quando monologa e quando "dialoga" com a baleia, interpretanto os dois personagens.

No complemento da ficha técnica, julgamos irrepreensível o trabalho de todos os profissionais envolvidos nesta corajosa empreitada - Kika Lopes (figurinos), Maneco Quinderé (iluminação) e Tato Taborda (músicas e direção musical).

MOBY DICK - Texto de Herman Melville. Direção e adaptação de Aderbal Freire-Filho. Com Chico Diaz, Isio Ghelman, Orã Figueiredo e André Mattos. Teatro Poeira. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h.

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