Sergio Britto:
um homem de teatro
Sendo a mais libertária e possivelmente a mais complexa dentre todas as manifestações artísticas, a arte teatral parece inesgotável em sua capacidade de nos enriquecer e emocionar. E uma das maiores emoções possíveis, em nosso entendimento, é a de se deparar com um artista que dedicou toda a sua vida fundamentalmente ao teatro, atuando com o mesmo brilho em muitos de seus segmentos. É o caso de Sergio Britto que, aos 85 anos de idade, continua com o mesmo fôlego e entusiasmo, tendo protagonizado, em 2008, um espetáclo que lhe rendeu todos os prêmios como ator: "A última gravação de Krapp / Ato sem palavras nºI". Mas a maioria dos jovens estudantes de teatro desconhece por completo a trajetória deste homem de teatro exemplar. Portanto, o que se segue - extraído de pesquisa feita por uma equipe do Prêmio APTR, que homenageou Sergio Britto em 2007 - certamente servirá para suprir esta lacuna. (Lionel Fischer)
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Sérgio Pedro Corrêa de Britto (Rio de Janeiro, 1923). Ator, diretor e produtor. Um dos fundadores do Teatro dos Sete nos anos 50, pariticipa ativamente de importantes realizações cênicas dos anos 60 e 70. Nos anos 80, torna-se um dos sócios do Teatro dos Quatro e, nos 90, realiza uma série de espetáculos musicados à frente do Teatro Delfim.
Forma-se em Medicina, em 1948, mas não exerce a profissão. Em 1945, faz sua primeira experiência teatral, interpretanto Benvólio na montagem de "Romeu e Julieta", de Shakespeare, no Teatro Universitáriio (TU), dirigido por Esther Leão. Em 1948, no Teatro do Estudante do Brasil (TEB) faz Horácio na histórica encenação de "Hamlet", de Shakespeare, que consagra Sergio Cardoso no papel-título.
Em 1949, profissionaliza-se, fundando, com Sergio Cardoso, o Teatro dos Doze que, durante sua fugaz existência, tem Ruggero Jacobbi e Hoffmann Harnisch como diretores. Em 1950 vai para uma companhia paulista encabeçada por Madalena Nicol, onde atua em "Eletra" e "Os fantasmas", de Eugene O'neill, entre outros desempenhos, e realiza sua primeira experiência de direção, montando, em parceria com Carla Cibelli, "O homem, a besta e a virtude", de Luigi Pirandello. Em 1952, excursiona com o elenco do Teatro Popular de Arte (TPA), atuando em "Manequim", de Henrique Pongetti, com direção de Eugênio Kusnet, entre outras.
Em 1953, participa do primeiro elenco profissional do Teatro de Arena atuando em "Esta noite é nossa", de Stafford Dickens, direção de José Renato; e dirigindo "Judas em Sábado de Aleluia", de Martins Pena. Em 1954, ainda no Arena, tem um elogiado desempenho em "Uma mulher e três palhaços", de Marcel Achard. Volta, em 1955, à companhia de Sandro Polloni agora denominada Teatro Maria Della Costa (TMDC), para uma série de desempenhos decisivos, em cinco espetáculos dirigidos por Gianni Ratto, mestre que influencia sua evolução artística: "O canto da cotovia", de Jean Anouilh; "Com a pulga atrás da orelha", de Georges Feydeau; "Mirandolina", de Carlo Goldoni; "A moratória", de Jorge Andrade; e "A ilha dos papagaios", de Sérgio Tofano.
Em 1956, transfere-se para o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), já na fase de declínio da companhia, em que atua em "A casa de chá do luar de agosto", de John Patrick, com direção de Mauride Vaneau, em 1956; no ano seguinte, "Rua São Luís, 2- - 8º andar", de Abílio Pereira de Almeida, encenação de Alberto D'Aversa; e "Um panorama visto da ponte", de Arthur Miller, outra direção D'Aversa, sua última incursão no conjunto.
Em 1959, junta-se a Gianni Ratto, Fernanda Montenegro, Fernando Torres e Ítalo Rossi, dissidentes da companhia paulista, e fundam o Teatro dos Sete, que vem a ser uma das mais importantes companhias filhotes do TBC. Sob a direção de Ratto, atua em "O mambembe", de Artur Azevedo e José Piza, 1959; "A profissão da senhora Warren", de Bernard Shaw, 1960; no mesmo ano, "O Cristo proclamado", de Francisco Pereira da Silva; e "Festival de Comédia", 1962, que lhe vale todos os principais prêmios do ano, pela composição de papéis estilisticamente diferenciados em peças curtas de Cervantes, Molière e Martins Pena.
Fora da companhia, ainda sob o comando de Gianni Ratto, faz "Meu querido mentiroso", de Jerome Kilty, 1964, um virtuosístico dueto de câmara com Nathália Timberg, que a mesma dupla retomará 24 anos depois, numa remontagem de 1988; e "Santa Joana", de Bernard Shaw, com direção de Flávio Rangel, 1965. No mesmo ano, volta ao Teatro dos Sete para o espetáculo de despedida do conjunto, "Mirandolina", de Carlo Goldoni.
Com o fim do Teatro dos Sete, associa-se a Fernando Torres e Fernanda Montenegro para bem-sucedidas montagens como "O homem do princípio ao fim", de Millôr Fernandes, e "Volta ao lar", de Harold Pinter, 1968.
Desfeita também esta companhia, funda, no Teatro Senac, a sua própria empresa, a Sergio Britto Produções Artísticas. Ali, através de três espetáculos dirigidos por Amir Haddad, o ator mergulha nas novas tendências de representação e encenação, e dá uma guinada em sua carreira, rumo ao contemporâneo. É premiado pela atuação em "Tango", de Slawomir Mrozek, 1972. Co-produz e protagoniza a versão carioca de "Missa Leiga", de Chico de Assis, 1973. Destaca-se como um dos intérpretes de "A gaivota", de Anton Tchecov, dirigida pelo argentino Jorge Lavelli, demonstrando maturidade interpretativa, em 1974. No mesmo ano, parte para outra colaboração com um consagrado diretor franco-argentino: sob a direção de Victor Garcia, ensaia a adaptação de "Os Autos Sacramentais", de Calderón de la Barca, numa produção de Ruth Escobar, onde, aos 51 anos, aparece pela primeira vez nu em uma cena; e durante seis meses percorre o mundo, apresentando-se no Irã, em Londres, Lisboa e Veneza, mas não consegue mostrar o espetáculo no Brasil, que vive os anos de censura da ditadura militar.
Em 1975, atua em "A noite dos campeões", de Jason Miller, encenação de Cecil Thiré. Dirige a atriz Renata Sorrah, em parceria com Walter Scholiers, em "Afinal...uma mulher de negócios", de Rainer Werner Fassbinder, em 1977. No ano seguinte, associado a Paulo Mamede e Mimina Roveda, inaugura o teatro próprio da sua nova companhia, o Teatro dos Quatro, que se transforma numa trincheira de um repertório de alto nível e de produções bem cuidadas. Sergio dirige o espetáculo inaugural do conjunto, "Os veranistas", de Máximo Gorki, 1978; faz o papel-título em "Papa Higuirte", de Oduvaldo Vianna Filho, tendo como diretor Nelson Xavier, 1979; dirige o polêmico sucesso "Os órfãos de Jãnio", de Millôr Fernandes, 1980; protagoniza "Rei Lear", de Shakespeare, encenação de Celso Nunes, 1983. Em 1985, está em "Assim é...se lhe parece", de Luigi Pirandello, com direção de Paulo Betti; no mesmo ano, atua ao lado de Rubens Corêa e Ítalo Rossi em "Quatro vezes Beckett", que marca o início da trajetória do diretor Gerald Thomas no Brasil. Trabalha em "A cerimônia do adeus", texto e direção de Mauro Rasi, 1987, onde faz o papel de Sartre, e em "O jardim das cerejeiras", de Tchecov, 1989, como Gaiev. Fora do Teatro dos Quatro, dividindo o palco com Tônia Carrero, e sob a direção de Gerald Thomas, que influencia a fase mais recente do seu trabalho como ator, faz "Quartett", de Heiner Müller, 1986.
Paralelamente à carreira teatral, que soma quase 90 espetáculos, Sergio Britto diversifica suas atividades. No início da carreira trabalha em diversas funções no cinema. Na TV, é pioneiro do teleteatro, como um dos fundadores, diretores e principais intérpretes do Grande Teatro, que produz cerca de 450 peças. Participa de novelas, miniséries e especiais. Dirige algumas óperas, inclusive uma polêmica "Traviata", 1974. É, também, um dos fundadores da escola de formação Casa das Artes de Laranjeiras, CAL. Em 1989, assume a direção artística do Centro Cultural Banco do Brasil, CCBB. Na TV Educativa, escreve, dirige e apresenta um programa dedicado ao teatro e à arte de representar.
Durante a década de 90, à frente do Teatro Delfim, realiza, com sucesso, uma série de espetáculos musicais, assinando, em parceria com Clovis Levi, textos em que abora períodos definidos da história e da música brasileiras, como "Ai, ai, Brasil", montagem em comemoração dos 500 anos do descobrimento, em 2000. No ano anterior, convida a jovem diretora Nehle Franke, conhecida em Salvador pela veemência e pessoalidade de sua linguagem, para dirigi-lo em "Poder do hábito", de Thomas Bernhard.
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quinta-feira, 9 de julho de 2009
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Contava eu com os meus quase 16 anos (1973) quando assisti Sérgio Britto em MISSA LEIGA. Sem qualquer sombra de dúvida esta é a memória mais viva que tenho das minhas antigas incursões teatrais.
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