Teatro/CRÍTICA
"Por um fio"
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Uma celebração à vida
Lionel Fischer
Curiosamente, no espaço de duas semanas estrearam no Rio de Janeiro dois ótimos textos com o mesmo tema: a morte. O primeiro, "As meninas", de Maitê Proença e Luiz Carlos Góes (Casa de Cultura Laura Alvim). E agora, "Por um fio", de Drauzio Varella, baseado em seu livro homônimo. Mas enquanto o primeiro possuía natureza ficcional, ainda que possivelmente calcado em fatos reais, o segundo é totalmente real - em seu livro Drauzio Varella relata sua relação com pacientes terminais. E o que se assiste no palco do Sesc Ginástico é uma seleção desses relatos, sem maiores interferências da direção no sentido de adaptá-los.
Apos cumprir excelente temporada em São Paulo, com casas invariavelmente lotadas, "Por um fio" chega ao Rio com a mesma equipe: direção de Moacir Chaves, atuação de Regina Braga e Rodolfo Vaz, cenário de J.C.Serroni, figurino de Verônica Julian, iluminação de Aurélio de Simoni e música de Tato Taborda.
Como todos sabemos, a morte é um tema extremamente delicado, ainda que se possua uma crença em uma vida futura. Mas o que merece ser aqui ressaltado são as múltiplas e divesificadas posturas dos pacientes diante do inexorável. E embora o texto contenha passagens amargas e dolorosas, como não poderia deixar de ser, em muitas outras chegamos não apenas a sorrir, mas fundamentalmente a compreender que o que importa não é o tempo que nos resta, mas sim o que faremos com ele. E mais do que isso: o texto nos demonstra a possibilidade de empreendermos significativas mudanças em nossas vidas, sempre para melhorá-las, o que provavelmente não faríamos na ausência de uma doença incurável.
Muito bem escrito, impregnado de humanidade e de outros sentimentos tão raros hoje em dia - como compaixão e solidariedade -, o texto de Drauzio Varella é, em essência, uma celebração à vida, um apelo para que a valorizemos ao máximo ao invés de nos queixarmos de coisas que, não raro, carecem de maior importância. Assim, não temos a menor dúvida de que "Por um fio" repetirá aqui o estrondoso sucesso obtido em São Paulo.
Mas é claro que outros fatores contribuem para o êxito desta mais do que oportuna empreitada. A começar pela direção de Moacir Chaves, cuja simplicidade nos permite ter acesso a todos os conteúdos propostos pelo autor. Sabiamente, Moacir "não inventa", ou seja, não tenta sobrepor sua encenação ao texto, muito pelo contrário: lançando mão de um desenho cênico isento de dispensáveis firulas formais, conquista a platéia desde o primeiro momento.
Quanto a Regina Braga e Rodolfo Vaz, os dois excelentes intérpretes compreenderam perfeitamente o espírito do projeto, valorizando muito mais a narrativa do que eventuais arroubos interpretativos. Tal proeza só é possível quando os atores, ainda que maravilhosos, se convencem de que o prioritário não é a exibição de seus dotes interpretativos, mas sim utilizá-los, como no presente caso, com a devida parcimônia. E é por isso que "Por um fio" consegue estabelecer uma relação tão visceral com a platéia.
No que diz respeito à equipe técnica, J.C.Serroni cria uma cenografia muito expressiva, composta apenas de árvores secas e alguns bancos, sugerindo uma atmosfera outonal - que, diga-se de passagem, um autor como Tchecov em muito a apreciaria. Verônica Julian responde por figurinos discretos, em perfeita sintonia com a proposta da direção. Aurélio de Simoni, como de hábito, ilumina a cena conseguindo ressaltar as muitas nuances de atmosferas, sendo igualmente irreprensível a música de Tato Taborda.
POR UM FIO - Texto de Drauzio Varella. Direção de Moacir Chaves. Com Regina Braga e Rodolfo Vaz. Teatro Sesc Ginástico. Quinta a domingo, 19h.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
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