Teatro/CRÍTICA
"Os altruístas"
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Embates insanos e hilariantes
Lionel Fischer
"Sydney é uma estrela de novela à beira de um ataque de nervos. Tão famosa quanto desequilibrada, ela comete uma atitude extrema após conviver e sustentar um grupo de jovens engajados em causas sociais, todos amigos de seu namorado. Intensa, politicamente incorreta e verborrágica, Sydney, após uma crise de ciúmes com o namorado Tony, pede ajuda ao irmão Ronald, homossexual exagerado e uma espécie de líder deste grupo de radicais, que acaba de se apaixonar perdidamente pelo michê Lance. Do grupo também faz parte a explosiva lésbica Vivian".
O trecho acima, extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, sintetiza o enredo de "Os altruístas", do norte-americano Nicky Silver, autor de "Pterodátilos", recente sucesso nos palcos cariocas. Guilherme Weber assina a adaptação do texto e direção do espetáculo, que tem elenco formado por Mariana Ximenes, Kiko Mascarenhas, Miguel Thiré, Jonathan Haagensen e Stella Rabello.
Na opinião do diretor Guilherme Weber, com a qual concordo inteiramente, as peças de Nicky Silver são "festivais alucinados de brutalidade, velocidade e humor negro. Em 'Os altruístas', relações amorosas em decomposição são as arenas escolhidas por ele para cultivar a raiva e a decepção das quais sua obra se alimenta".
Mas a esta pertinente avaliação acrescentaria o seguinte: o autor rompe por completo com as premissas inerentes a uma narrativa linear, cria personagens que estão sempre (ou quase) vivendo uma situação-limite e em nenhum momento vale-se de elementos psicológicos para justificar as ações que empreendem. De certa forma, é como se estivéssemos diante de espectros que realizam orgias sobre a campa das próprias sepulturas. Nada pode ser definido com clareza, já que o autor prioriza não a comodidade, mas o desconforto. E por isso é tão instigante e perturbador.
Quanto à montagem, o excelente ator Guilherme Weber (fundador, junto com Felipe Hirsch, da brilhante Sutil Companhia de Teatro, que ora completa 18 anos) impõe à cena, nesta que é sua primeira direção, uma dinâmica em total sintonia com o contexto delirante e insano proposto pelo autor. E aqui não me refiro apenas à originalidade e virulência das marcações, mas também ao riquíssimo universo gestual, executado pelos atores de forma exemplar - propositadamente exagerado, beirando a histeria, quase operístico e invariavelmente muito engraçado.
Com relação ao elenco, antes de mais nada gostaria de parabenizar Mariana Ximenes pela coragem de sua escolha. Estrela da TV, poderia retornar aos palcos com uma peça, digamos, bem comportada, incapaz de pôr em risco sua imagem, quase sempre atrelada a personagens que nos cativam por sua doçura. Aqui, pelo contrário, a atriz se entrega de forma visceral a uma personagem ao mesmo tempo sórdida e carente, amorosa e frustrada, violenta e insana, enfim, uma mulher plena de contradições cujo furor, em dados momentos, em tudo se assemelha ao das grandes tempestades. E, em outros, nos provoca incontroláveis gargalhadas. Em resumo: uma atução simplesmente magnífica.
Na pele de Ronald, o irmão gay de Sydney, Kiko Mascarenhas também exibe uma performance extraordinária, tanto no que concerne ao texto articulado quanto ao que diz respeito à expressividade corporal, realmente irrepreensível. E o mesmo se aplica a Miguel Thiré (Tony, namorado de Sydney), Jonathan Haagensen (Lance, o michê) e a Stella Rabello (Vivian, a lésbica incendiária), que valorizam ao máximo os personagens que interpretam e contribuem de forma decisiva para o êxito absoluto da presente empreitada teatral.
Na equipe técnica, Daniela Thomas assina uma cenografia sombria e desolada, que, em alguns momentos, sugere a atmofesra de um necrotério. Também de excelente nível os figurinos de Emilia Duncan e Antonio Frajado, a claustrofóbica e expressiva iluminação de Domingos Quintiliano e a ótima trilha sonora criada por Guilherme Weber.
OS ALTRUÍSTAS - Texto de Nicky Silver. Adaptação e direção de Guilherme Weber. Com Mariana Ximenes, Kiko Mascarenhas, Miguel Thiré, Jonathan Haagensen e Stella Rabello. Espaço Tom Jobim. Sexta e sábado, 20h30. Domingo, 20h.
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
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