quarta-feira, 3 de abril de 2024

 

Teatro/CRÍTICA

“A poltrona escura”

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Ótima adaptação de três novelas de Pirandello

 

Lionel Fischer

 

Precursor do Teatro do Absurdo, Luigi Pirandello (1867-1936) deixou uma obra extraordinária, com destaque para “Assim é se lhe parece”, “Seis personagens à procura de um autor” e “Esta noite se improvisa”. Mas Pirandello também escreveu várias novelas, três delas extraídas do volume “A poltrona escura”, mesmo título da montagem em cartaz no Teatro Poeira. Roberto Bacci assina a direção, estando a interpretação a cargo de Cacá Carvalho.

Em “Os pés na grama”, tudo gira em torno do progressivo isolamento de um pai que acabou de ficar viúvo, com predominância de um clima sombrio. “O carrinho de mão” exibe uma inquietante reflexão sobre a condição humana, sendo a figura central um famoso advogado que passa por séria crise de identidade e apenas se permite um inusitado prazer – aqui a atmosfera é tragicômica. Finalmente, em “O sopro” o autor cria uma espécie de comédia metafísica, cabendo ao protagonista o bizarro papel de matar pessoas com um simples sopro.

Sendo Pirandello um dramaturgo e escritor de primeiríssima linha, nada mais natural que as três novelas aqui reunidas exibam uma escrita impecável, personagens otimamente estruturados e idéias mais do que pertinentes. A dificuldade, no entanto, residiria na transposição das obras para o palco. Mas este teórico empecilho é aqui suplantado com notável brilho, tanto por parte do encenador como do ator.

Roberto Bacci impõe à cena uma dinâmica que, valendo-se apenas de poucos elementos – uma poltrona, dois paletós, um par de chinelos e um par de sapatos – cria um universo expressivo que não apenas traduz todos os conteúdos propostos pelo autor, mas também estimula ao máximo a imaginação do espectador.

Possuidor de vastíssima gama de recursos, que inclui uma voz poderosa capaz de infinitas modulações, e um corpo que poderíamos definir como uma “massa expressiva”, Cacá Carvalho reúne ainda outros fantásticos predicados: uma aparentemente inesgotável capacidade de impor ao texto surpreendentes variações rítmicas, uma permanente valorização (e revalorização) de todas as palavras articuladas e uma inacreditável sensibilidade de valorizar o silêncio. Trata-se, sem a menor dúvida, de uma exibição irretocável da complexa arte de representar.

Na equipe técnica, Márcio Medina assina cenário e figurinos irrepreensíveis, o mesmo aplicando-se à tradução de Silvia Pasello (com a colaboração de Anna Mantovani) e à luz de Domingos Quintiliano, determinante para a valorização dos muitos climas emocionais em jogo.

A POLTRONA ESCURA – Textos de Pirandello. Direção de Roberto Bacci. Com Cacá Carvalho. Teatro Poeira.

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