quinta-feira, 17 de maio de 2012

Teatro/CRÍTICA

"Amerika"

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Deliciosa crítica à alienação


Lionel Fischer


"O espetáculo apresenta uma sucessão de situações cotidianas em que uma lente de aumento é colocada sobre o absurdo do comportamento humano. O consumo de alimentos, ítens de higiene, cosméticos, bebidas, medicamentos e toda uma sorte de produtos cresce junto com a carência e a histeria dos personagens, chegando ao limite do surreal. Montanhas de lixo são produzidas ao longo das cenas, cercando o palco cada vez mais, até que se transformem num mar de lixo".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o contexto em que se dá "Amerika", em cartaz no Espaço Cultural Sérgio Porto. Inserida no projeto "Trilogia da matéria", do qual fazem parte "Paisagem nua" e "Manifesto Ciborgue", "Amerika" é uma criação do Grupo Dragão Voador Teatro, integrado por Carolina Ferman, Cris Larin, Dulce Penna de Miranda, Joelson Gusson, Leonardo Corajo, Lucas Gouvêa e Raquel Rocha. O presente espetáculo tem argumento original, dramaturgia e direção assinadas por Joelson Gusson, estando o elenco formado por Lucas Gouvêa, Leonardo Corajo, Raquel Rocha e Cris Larin.

Diante do exposto no parágrafo inicial, torna-se evidente que o grupo não pretende contar uma história linear, estruturada em moldes convencionais. O que parece estar em causa também não se atrela a supostos conflitos entre personagens, dos quais resultaria a ação dramática. Salvo engano de minha parte, acredito que o grupo pretendeu, fundamentalmente, criar uma montagem cujo tema central seria a alienação, expressa através do desvairado consumo de produtos em detrimento das relações humanas, supostamente tão deterioradas quanto os produtos que os personagens consomem e logo descartam.

Tendo sido esta a premissa fundamental, não há como negar que o grupo alcançou plenamente seus objetivos. A partir de um texto extremamente engraçado e de alto teor crítico, o diretor Joelson Gusson impõe à cena uma dinâmica refinada e expressiva, com deliciosas pitadas de absurdo, cabendo também ressaltar sua coragem na manipulação dos tempos rítmicos - há cenas sem falas, pausas imensas, mas tudo sempre preenchido por conteúdos perfeitamente apreensíveis. 

Quanto ao elenco, Lucas Gouvêa, Leonardo Corajo, Raquel Rocha e Cris Larin evidenciam grandes recursos expressivos, e um tipo de contracena que só existe quando os atores não apenas sabem exatamente o que estão fazendo no palco, mas também demonstram enorme prazer em representar juntos. A todos, portanto, parabenizo com o mesmo entusiasmo.

Na equipe técnica, Paulo César Medeiros responde por uma iluminação diversificada e expressiva, a mesma expressividade presente nos divertidos e críticos figurinos de Patricia Muniz. Quanto à "paisagem sonora" assinada por Siri, não tenho a menor idéia do que venha a ser isso - seria o equivalente a trilha sonora? Caso seja, é de ótimo nível. No complemento da ficha técnica, merecem ser destacadas as contribuições de Dani Calazans (preparação vocal), Renato Linhares (preparação corporal), Vanessa Andrea (visagismo) e Flavio Nascimento (adereços) - estes últimos, simplesmente maravilhosos.

AMERIKA - Texto, concepção e direção de Joelson Gusson. Com Lucas Gouvêa, Leonardo Corajo, Raquel Rocha e Cris Larin. Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h. 

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