quarta-feira, 9 de maio de 2012

Teatro/CRÍTICA

"Obsessão"

...........................................................
Paixões e vinganças no Glaucio Gill


Lionel Fischer


"A trama mostra do que uma ex-amiga é capaz ao tentar de todas as formas, e ainda contar com algumas armadilhas do destino, para se vingar de uma traição. Livia e Marina são amigas inseparáveis, confidentes, inúmeras afinidades, com um belo futuro pela frente. A amizade começa a desandar quando Livia se apaixona por Marcelo e engatam o namoro. Marina torna-se testemunha ocular da felicidade da amiga. E, de tanto ouvir Livia enaltecer as qualidades do rapaz, descobre-se também apaixonada por ele".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o enredo de "Obsessão", em cartaz no Teatro Glaucio Gill. De autoria de Carla Faour, o texto chega à cena com direção de Henrique Tavares e elenco formado por Ana Baird (Livia), Antonio Fragoso (Marcelo), Carla Faour (Marina), Celso Taddei (Arthur) e Daniel Belmonte (Leo).

Em certa ocasião, Oscar Wilde afirmou que "...nada pode acontecer de pior a um homem do que ser alvo dos comentários de três mulheres ao mesmo tempo". Sem dúvida, pobre daquele que se encontra em tal situação. Mas acredito que as mulheres podem ser ainda mais cáusticas quando disputam o mesmo homem e, no caso de perdê-lo para outra, vingativas a ponto de empreender maquinações que nem Maquiavel seria capaz de arquitetar. E é exatamente o que ocorre aqui, e ao longo de toda uma vida.

Com pitadas de melodrama e folhetim, e lançando mão de uma narrativa épica, Carla Faour escreveu um texto delicioso, engraçadíssimo, recheado de mágoas e ofensas, frustrações e anseios, através dos quais aborda temas mais do que pertinentes  sobre o universo amoroso. Contendo ótimos personagens, exibindo diálogos fluentes e uma trama que mantém a platéia fascinada ao longo de todo o espetáculo, "Obsessão" é sem dúvida uma das melhores peças da atual temporada.

Responsável pela direção do espetáculo, Henrique Tavares impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico. Valendo-se de marcas tão criativas quanto imprevistas, e impondo à montagem um ritmo eletrizante, Tavares exibe o mérito suplementar de ter conseguido extrair ótimas atuações do elenco, ainda que poucas ressalvas possam ser feitas em alguns momentos.

Tais ressalvas limitam-se a algumas partes narradas, sobretudo no início, feitas por Celso Taddei e Daniel Belmonte. Talvez devido a um certo nervosismo (normal numa estréia) ou ao fato de que as ditas passagens são narradas no fundo do palco, o fato é que algumas palavras se perdem. Em contrapartida, quando interpretam seus personagens, os dois atores estão muito bem, sobretudo à medida que a montagem se desenrola.

Quanto a Carla Faour e Ana Baird, as duas atrizes estão absolutamente impecáveis em suas personagens, tanto nas partes mais densas quanto naquelas em que o humor predomina. No que se refere a Antonio Fragoso, estamos diante de um comediante simplesmente notável que, por razões que a razão desconhece, me parece ainda não ter tido o reconhecimento que merece. Mas espero que a presente montagem o coloque no patamar que há muito já deveria ocupar.

Na equipe técnica, Aurélio de Simoni responde por uma iluminação brilhante, em total sintonia com os climas emocionais em jogo, a mesma excelência presente nos figurinos de Clara Rocha e na despojada cenografia de Henrique Tavares, cujo apropriado tom vermelho ressalta as turbulentas paixões que animam os personagens.

OBSESSÃO - Texto de Clara Faour. Direção de Henrique Tavares. Com Clara Faour, Ana Baird, Antonio Fragoso, Celso Taddei e Daniel Belmonte. Teatro Glaucio Gill. Sexta a segunda, 21h.       





Nenhum comentário:

Postar um comentário