quarta-feira, 16 de março de 2011

                           Deborah Secco:
                           maravilhoso drop interpretativo

                                                                                                                        Lionel Fischer

          Antes de mais nada, gostaria de esclarecer aos queridos parceiros deste blog que meu objetivo não é fazer uma crítica do filme do momento, "Bruna surfistinha", posto que nada entendo de cinema - desconheço por completo como se fazem enquadramentos, movimentos de câmera, estabelecimento de planos, utilização de lentes etc. Em termos cinematográficos, sou um modesto apreciador deste poderoso veículo expressivo.

          No entanto, suponho deter algum conhecimento no tocante à arte da interpretação, ainda que consciente de que o trabalho de um intérprete no cinema é completamente diverso do executado no teatro, que não necessita de qualquer tipo de intermediação. Isto posto, vamos ao que interessa.

          Já li muitas críticas sobre o filme, muitos artigos assinados por renomados colunistas e recolhi opiniões ao acaso. E o que tem me espantado é uma certa insistência na afirmação de que o sucesso absoluto do filme se deve, fundamentalmente, a dois fatores: a nudez de Deborah Secco (e as cenas picantes que protagoniza, com o perdão do tocadilho) e seu carisma.

          Quanto ao primeiro quesito, só alguém desprovido de visão ou que padeça de monumental inveja é capaz de negar que Deborah Secco é uma mulher linda, com ou sem roupa - aliás, com um mínimo de imaginação qualquer um pode olhar para qualquer mulher (ou homem) e imaginá-la (o) como veio ao mundo. E no que concerne às mencionadas e picantes cenas, não acredito que as mesmas introduzam alguma novidade que já não era largamente praticada no Antigo Egito há cinco mil anos. E então chegamos ao carisma.  

           No presente caso, e ao contrário do que possa parecer, adjetivar a atriz como sendo "carismática" não passa de um recurso
que visa minimizar sua esplêndida performance. É como se disséssemos: "Ora, sendo ela tão graciosa e possuidora de inegável carisma, já mais do que comprovado através de seus inúmeros papéis na TV, nada mais natural que esteja fazendo tanto sucesso". 

           Diante disto, uma indagação se impõe: desde quando "carisma" leva um intérprete a um nível de atuação como o exibido por Deborah Secco? Um ator pode ser carismático, mas isso não significa que seja um bom ator. E o mesmo se aplica ao inverso: podemos admirar profundamente o talento de um ator e por ele nutrirmos irremediável antipatia.

           Assim, o que realmente importa destacar é que Deborah Secco, ao encarnar a protagonista de "Bruna surfistinha", atinge um patamar de excelência interpretativa que a mim, particularmente, surpreendeu e emocionou em igual medida. Já no início do filme fiquei impressionado com sua composição: andar meio curvado, postura algo desajeitada, um olhar impregnado de desconforto em seu ambiente familiar que já sugeria um sentimento de profunda solidão. 

            Mais adiante, a atriz materializa de forma comovente a ingenuidade da personagem e sua subseqüente indignação ao ser vítima de uma "pegadinha" abjeta de um colega de escola, que sob o pretexto de com ela estudar, a atrai para sua casa e praticamente a força a fazer sexo oral - não contente com a abjeção que perpetrara, o mauricinho crápula filma a cena e a coloca no facebook, orkut ou seja lá que nome tenha essa diabólica forma de tornar público o que deveria permanecer no campo do privado.

          Sem villumbar outra alternativa, humilhada e ofendida, a personagem abandona sua família e começa a se prostituir. E aqui, mais uma vez, uma composição maravilhosa. Nos primeiros programas, Deborah consegue transmitir uma mescla de dor (física e moral), perplexidade e muda revolta, mas aos poucos, como não poderia deixar de ser, endurece seu coração e passa a exercer "a mais antiga das profissões" com uma competência que gera revolta em suas experientes colegas.

          Mas ainda assim, em meio ao sórdido ambiente que é obrigada a freqüentar, mesmo que em muitas passagens deixando-se dominar completamente pelas drogas, mesmo quando participando de orgias com o olhar sonâmbulo de um espectro que buscasse desesperadamente encontrar repouso, em nenhum momento deixamos de perceber que ali ainda existe uma menina, uma réstia de pureza impregnada de humanidade.

           E é justamente por conseguir expor de forma tão visceral as contradições de sua complexa personagem que Deborah Secco, ao menos em minha opinião, demonstra de maneira inequívoca que é muito mais do que uma atriz bonita e/ou carismática: é uma grande atriz. E para aqueles que insistem em aprisioná-la nos dois predicados acima citados, só me resta implorar aos Deuses que deles se compadeçam e, quem sabe, consigam um dia iluminar suas mentes estreitas, preconceituosas e, sobretudo, invejosas. 
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