quarta-feira, 9 de março de 2011

                           Liberdade, liberdade

          Às vezes, no fim de uma batalha, nem se sabe quem venceu; ou o vencedor parece derrotado. Cristo morreu na cruz, mas o cristianismo se transformou na maior força espiritual do mundo. Galileu Galilei cedeu diante da Inquisição, mas a Terra continuou girando ao redor do Sol, e quatro séculos mais tarde, um jovem tenente anunciou da estratosfera que a Terra é azul.

          Anne Frank morreu, mas Israel ressurgiu da cinza dos tempos. Quando Hitler dançou sobre o chão da França, tudo parecia perdido. Mas a cada ato de luta corresponde um passo da vitória. O poeta Brodsky acaba de ser libertado por um movimento de intelectuais. Ainda há homens oprimidos, mas não há mais escravos. Milhões sofrem pressão econômica, mas ninguém pode mais ser preso por dívidas.

          Depois da Segunda Guerra Mundial tornaram-se independentes treze nações asiáticas e trinta e quatro nações africanas. E se a insensatez humana continua a nos ameaçar com a Terra Arrasada, a Ciência, pela primeira vez na História, pode nos dar a Terra Prometida.

          A liberdade é viva; a liberdade vence; a liberdade vale. Onde houver um raio de esperança haverá uma hipótese de luta.

          Gostaria que meu boa noite tocasse vossos corações numa síntese de fé e coragem igual ao boa noite de Wiston Churchill, em 1940, atravessando o Canal da Mancha numa silenciosa e fria madrugada:

          "E agora, boa noite. Durmam a fim de recobrar forças para o amanhã; pois o amanhã virá. E brilhará claro e limpo sobre os bravos, os honestos, os de coração sereno, brilhará sobre todos os que sofrem por esta causa e, mais gloriosamente, sobre a campa dos heróis. Assim será nossa alvorada. Boa noite".
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Últimas palavras ditas por Paulo Autran no espetáculo "Liberdade, liberdade", de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, que estreou no Rio de Janeiro no dia 21 de abril de 1965, produção do Grupo Opinião e do Teatro de Arena de São Paulo. Além de Autran, os muitos papéis foram representados por Nara Leão, Oduvaldo Vianna Filho e Tereza Rachel. A direção ficou a cargo de Rangel. 

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