quinta-feira, 24 de março de 2011

Dicionário de Teatro

Luiz Paulo Vasconcellos


           Já coloquei aqui alguns verbetes desta publicação. Agora, seguem outros, além da recomendação de que adquiram esta obra imprescindível.(LF)

A

AÇÃO Termo usado em teatro em pelo menos duas acepções diferentes. Em Dramaturgia, significa a intenção motivadora do Enredo, ou seja, a força de onde se originam os acontecimentos. Para Aristóteles (384-322 a.C.), a ação é o elemento principal da Tragédia. A tragédia é, pois, a imitação, "não de homens, mas de ações, da vida, da felicidade e da infelicidade (...) sendo o fim que se pretende alcançar, o resultado de certa maneira de agir (Aristóles, Poética, VI). 

O conceito de ação, ao longo do tempo, tem sido matéria passível de variadas interpretações. Aristóteles, de fato, pouco esclarece a respeito do assunto, apenas indica a fonte da ação como o resultado da relação entre Éthos e a Dianoia. Para ele, a ação deve ser completa e dirigir-se da fortuna para o infortúnio em razão de um julgamento feito com base num erro por ignorância, cujo reconhecimento origina a Catástrofe.

A partir desses elementos, os seguidores de Aristóteles, e também seus opositores, trataram de ampliar, esclarecer e, enfim, determinar o significado do conceito de ação dramática, incorporando novos elementos ou reforçando os já conhecidos. Assim, entre muitos outros, uniram-se aos já existentes os elementos "vontade humana" como a principal fonte geradora da ação (John Dryden, Ensaio sobre a poesia dramática, 1668) e Conflito como principal elemento mobilizador da ação (Friedrich Hegel, Poética, 1818-1829).

Assim, podemos dizer que ação é o que resulta da vontade humana em conflito. Para Ferdinand Brunetière (1849-1906), "o que se quer do teatro é o espetáculo de uma 'vontade' que se dirige a um objetivo, consciente dos meios que emprega" (A lei do drama, 1894). Para Pierre-Aimé Touchard (1903-1987), "a ação só existe no presente, quando sob nossos olhos vemos uma situação modificar-se pelas determinações dos personagens" (O amador de teatro, p. 169).

Finalmente, para Francis Fergusson (1904-1986), ação "não significa proezas, eventos ou atividade física: significa a motivação de onde nascem os elementos" (Aristotle 's Poetics, p. 8). A segunda acepção do termo diz respeito justamente à atividade física mencionada por Fergusson. Nesse sentido, fala-se de ação como um sinônimo de comportamento físico, ou seja, o que a personagem "faz" a partir do que "quer" e "sente".

B

BAIXA/ALTA - Designação dada às partes anterior e posterior do Palco à Italiana que são, respectivamente, a mais próxima e a mais afastada do público. A expressão deriva da inclinação ascendente no sentido frente-fundo nos palcos construídos até o século XIX, que favorecia a ilusão da perspectiva.

C

CACO - Gíria. Pequena improvisação verbal feita pelo ator durante o espetáculo. O caco pode visar ao efeito cômico ou simplesmente superar uma falha de memória. Um exemplo divertido dessa segunda modalidade é o contado por Paulo Autran (1922-2007) na entrevista concedida a Simon Khoury, publicada em Atrás da Máscara (vol. 2, p. 169): "Aconteceu na época do TBC em que aos sábados a peça era realizada três vezes, eram três sessões. Trabalhavam Ziembinski e Cacilda Becker. Quando chegava na terceira sessão, o Ziembinski, coitado, exausto, muitas vezes misturava português com polonês, quando não cochilava! A personagem que a Cacilda fazia, depois de se preparar toda, chega perto do marido e diz que vai dar um passeio. O Ziembinski, então, chama o empregado, papel feito pelo Josef Guerreiro, e deveria dizer: 'Atrele os cavalos que madame vai sair!' Em vez disso, ele falou: 'Atrele os cachorros que madame vai sair!' Na mesma hora o Josef Guerreiro respondeu: 'Madame vai de trenó?'".

D

DEIXA - Qualquer indicação visual ou sonora que permite ao ator identificar o momento de entrar, falar ou agir em cena. O tipo mais comum de deixa são as últimas palavras de cada fala do diálogo. Ao memorizar as falas de seu personagem, o ator deve memorizar igualmente as deixas, ou seja, as palavras finais do personagem com quem contracena. Usa-se o mesmo código para indicar os movimentos de luz e de som ou as mudanças de cenário.

E

ENSAIO DE MESA - Tipo de ensaio em que os atores leem o texto e debatem, sob a orientação do diretor, aspectos da evolução dramática e do enredo e as situações, os objetivos e as características dos personagens, além de temas e significados emocionais e intelectuais propostos. Também fazem parte dos ensaios de mesa esclarecimentos sobre os demais recursos de linguagem cênica. Esta etapa é fundamental para estruturar o processo de encenação de uma peça.

F

FIGURANTE/FIGURAÇÃO - Aquele que participa de cenas de multidão preenchendo espaços na composição, criando climas ou compondo a ambientação. O conjunto de figurantes de um espetáculo teatral ou de ópera é também chamado de figuração.

G

GALÃ - Do francês galant. Ator de boa aparência que geralmente representa personagens corajosos e bem-intencionados. Nesse sentido, o termo é usado indistintamente em teatro, cinema e televisão. No Brasil do século XIX, um dos personagens arquetípicos da Comédia de Costumes e do Melodrama, par amoroso da Ingênua ou da Dama-Galã.

H

HISTRIÃO - Palavra derivada do etrusco através do latim histrione. No antigo Teatro Romano, era o nome dado aos mimos, jograis ou comediantes que representavam farsas. 

I

ILUMINADOR - Aquele que idealiza, projeta e supervisiona a execução da Iluminação de um espetáculo. Difere do Eletricista por não ser, necessariamente, um técnico em eletricidade, mas sim um criador de efeitos visuais de luz.

J

JORNADA - Nome dado a cada uma das partes em que se dividia o drama religioso na Idade Média. O intervalo entre duas jornadas podia variar entre uma e 24 horas.

K

KATHAKALI - Gênero de teatro praticado na Índia considerado de origem divina. Trata-se de uma mistura de dança, mímica, canto e texto dramático, cujos temas são extraídos do Mahabharata.

L

LAPINHA - Tipo de manifestação folclórica que consiste na dramatização de pequenas cenas de temática religiosa diante do presépio. Os presépios foram trazidos para o Brasil pelos jesuítas no final do século XVI, mas não se sabe ao certo quando surgiu o hábito das representações diante deles. As lapinhas, hoje quase inteiramente desaparecidas, foram substituídas pelo Pastoril.

M

MAQUINISTA - Operário especializado encarregado de operar a Maquinaria de um teatro. Sua tarefa inclui a montagem e funcionamento do Cenário. Também chamado de cenotécnico, carpinteiro-chefe ou, ainda, chefe do movimento. Responsável pelo material e ferramentas próprias da função.

N

NAU CATARINETA - Narrativa popular portuguesa sobre as aventuras e desventuras dos descobridores na travessia do oceano Atlântico. O tema reaparece no Brasil na forma do Fandango nordestino.

O

OPERADOR - Aquele que opera o quadro de luz ou o equipamento de som durante o espetáculo. Qualifica-se segundo a atividade executada, como nas expressões operador de luz, operador de som etc.

P

PALCO GIRATÓRIO - Tipo de Palco cujo assoalho é construído sobre mecanismos que possibilitam o movimento giratório. Serve basicamente para mudanças rápidas de Cenário. A origem do palco giratório é atribuída ao Kabuki japonês, que o usava desde o século XVII.

Q

QUADRO-VIVO - Conforme o próprio nome indica, trata-se de uma cena apresentada por um grupo de pessoas como se fosse um quadro, isto é, sem movimento. Muito usado em representações colegiais, em cenas históricas, bíblicas ou alegóricas.

R

RECITATIVO - Parte declamada de uma Cantata, Oratório ou Ópera. O recitativo é, geralmente, acompanhado por insturmento musical que marca em ritmo simples a acentuação verbal.

S

SAÍDA FALSA - Tipo de Marcação muito usado na Comédia. Trata-se do movimento em que o Ator para ou volta atrás após haver feito menção de sair.

T

TIRANO - No Brasil do século XIX, nome dado à personagem que coloca em risco a honra e as boas intenções do Herói na Comédia de Costumes e no Melodrama. Também chamado de "cínico". Trata-se, na organização do conflito dramático, do principal agente de oposição, o Vilão.

U

URDIMENTO - Em termos gerais, nome dado à parte da Caixa Cênica localizada acima do Palco. Especificamente, grade resistente de madeira ou de ferro que se estende sobre toda a área do palco, acima deste, e que serve de apoio para toda operação de funcionamento dos efeitos cênicos.

V

VOMITÓRIA - No teatro romano, cada um dos corredores que serviam de acesso ao Pulpitum. Acima de cada vomitória havia um Camarote que era utilizado pelos magistrados que supervisionavam as festividades ou por outra personalidade importante.
_______________
L&PMPOCKET(2009)

Nenhum comentário:

Postar um comentário