Supervisão de espetáculos:
está nascendo uma nova Arte?
Lionel Fischer
Como os queridos parceiros deste modesto blog já devem ter notado, surgiu de uma hora para outra aqui, nesta aprazível cidade, uma nova função dentro do fazer teatral: a de Supervisor de Espetáculos. Quando constatei sua existência num release que me foi enviado, pensei que se tratasse de algo ligado a qualquer coisa relativa à emergência, do tipo: o diretor/diretora não está podendo se dedicar inteiramente à montagem e então solicitou os temporários préstimos de alguém de sua total confiança, que seria, digamos, seu substituto por um breve espaço de tempo.
No entanto, esta função expandiu-se de tal forma que hoje já são inúmeros os casos de espetáculos que contam com um Supervisor - na maioria das vezes, um diretor de prestígio, mas também pode ser um ator/atriz renomados etc. Então, tal qual um Hamlet destituído da caveira, pus-me a cismar. E tal cisma se traduz no que se segue.
Qualquer que seja a natureza de uma Supervisão, ela deixa implícita uma certa autoridade daquele que supervisiona, o que implica na admissão tácita de que o supervisionado não poderia levar a bom termo seu projeto - qualquer que seja ele - sem a ajuda do Supervisor.
Como me parece óbvio, isto é completamente diferente de se chamar alguns amigos para que dêem sua opinião sobre o processo de uma montagem, pois aí estamos completamente livres para aceitar ou não as ponderações ouvidas. Mas no caso de um Supervisor que tem seu nome impresso num release e no programa da peça, é de se supor que pelo menos algumas de suas opiniões prevaleceram e alteraram, ainda que parcialmente, os rumos até então adotados pela direção.
Isto posto, torna-se inevitável formular a seguinte e hamletiana dúvida: a quem finalmente atribuir o sucesso ou o fracasso de um empreendimento teatral que conta com um Supervisor? Sim, pois eu posso perfeitamente supor que Fulano jamais faria aquela maravilha na ausência do tal conselheiro, ou, ao contrário, achar que Fulano jamais colocaria em cena algo tão lamentável não fosse os pertinentes conselhos do "sábio" que contratou.
E na hipótese de um espetáculo ser premiado no quesito "direção"? O troféu e a grana vão apenas para o diretor ou são ambos partilhados com o Supervisor? O dinheiro é dividido obedecendo a percentuais pré-estabelecidos e o troféu fica um tempo na casa de um e depois na do outro?
Enfim...há mais coisas entre o céu e a terra...
Agora, um breve exercício de imaginação, de natureza lúbrica, que acho que pode ser feito sem nos afastarmos do presente tema. Digamos que eu me encante por uma determinada mulher e ela também nutra por mim um sentimento idêntico. Então, um belo dia - ou uma bela noite, cada um tem suas preferências - agendamos um encontro amoroso. Naturalmente que ambos levaremos, a tiracolo, nossos Supervisores, que, impávidos, acomodam-se a pouca distância do leito e passam a "supervisionar" nossa performance.
Então, em dado momento, me ocorre uma dúvida qualquer, do tipo: "Será que dou agora uma leve mordidinha na parte inferior da orelha esquerda de minha parceira?". Então, peço licença à dita, e transfiro minha dúvida ao meu Supervisor. Ele, profundo conhecedor do assunto, me responde, por exemplo: "Não, meu filho, não morde agora não. Espera mais um pouquinho"..., o mesmo se dando com minha adorável companhia, caso qualquer dúvida a acosse: "Supervisora amiga, minha intuição me diz que devo agora propor uma nova posição: acha que devo fazê-lo?", obtendo, dentre muitas respostas possíveis, a seguinte: "Já tinha que ter proposto, minha filha: isso aí tá uma chatisse!".
Em resumo: transaríamos não obedecendo aos nossos próprios impulsos e desejos, e assim assumindo total responsabilidade por nosso êxito ou fracasso. Muito pelo contrário: tentaríamos "nos entender" e atingir o tal almejado prazer em função dos conselhos que recebêssemos de nossos supervisores...
Conclusão: se atingido o orgasmo, de ambas as partes, o crédito caberia não a duas pessoas apenas, mas a quatro...
MISERICÓRDIA!!!
OBS: e ainda existem aqueles que se perguntam por que fazer teatro é tão complicado...
terça-feira, 17 de agosto de 2010
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