sábado, 21 de agosto de 2010

Teatro/CRÍTICA

"Meu caro amigo"

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Um encontro inesquecível


Lionel Fischer


Ao dirigir-se à platéia com o intuito de apresentar-se, tomamos conhecimento de que a personagem se chama Norma, é professora de História no Colégio Pedro II, tem 52 anos e desde os dez é completamente apaixonada por Chico Buarque e sua obra. Como ao fundo vemos um pianista diante de seu instrumento, poderíamos imaginar que o espetáculo se resumiria a um recital. No entanto, nada mais enganoso. À medida que a protagonista conta sua história pessoal, a história do país é também relembrada (de 1964 a 1998), sempre através das imortais criações de um de nossos mais importantes compositores.

Na última sexta-feira, quando assisti o espetáculo, este comemorava cem representações. E diante do encantamento que me gerou, acharia perfeitamente justo que no mínimo mais cem apresentações fossem levadas a efeito, pois o que está em cena no Teatro Sesi é algo absolutamente imperdível, recomendável a pessoas de todas as faixas etárias e em especial àquelas que ainda cultivam o hábito, cada vez mais raro, de se deixar impregnar pela beleza e dar vazão às suas emoções.

Assim, urge comparecer ao mencionado teatro, pelas razões que logo adiante serão expostas. Felipe Barenco assina o texto, Joana Lebreiro a direção e Kelzy Ecard encarna Norma, cabendo ao pianista João Bittencourt acompanhar a protagonista, que entoa dez canções ao vivo, sendo que as outras onze chegam até a platéia na voz do próprio Chico Buarque.

Como já foi dito no parágrafo inicial, o grande achado do texto foi o de fazer correr paralelas duas histórias, tendo como mola propulsora as canções de Chico Buarque. Isto faculta à platéia não apenas o acesso a uma personagem cativante, mas também à relação que ela estabelece com alguns dos principais e diversificados momentos de nossa história recente, como os festivais da canção, a encenação da peça "Roda Viva", a intolerância da censura, a passeata dos cem mil, o movimento "Diretas Já", o livro "1968", de Zuenir Ventura, dentre outros.

A partir do ótimo texto de Felipe Barenco, que consegue informar sem ser didático, e esbanja humor e emoção em doses superlativas, a diretora Joana Lebreiro criou uma encenação simples e despojada, mas nem por isso pouco expressiva, cabendo destacar a forma como estabelece fortes ligações entre a protagonista e os excelentes slides criados por Leonardo Miranda.

Com relação a Kelzy Ecard, antes de mais nada cabe ressaltar seu grande talento de atriz, mais uma vez comprovado com sua brilhante atuação na recente montagem de "Gota d'água". Afora isso, Kelzi canta de forma esplêndida, sempre exibindo ótima afinação e notável capacidade de entrega. Com isto, quero ressaltar o seguinte: as músicas de Chico Buarque não são apenas cantadas de maneira irretocável, mas realmente "vividas", como se estivéssemos diante de textos e poemas convertidos em música. Em resumo: uma experiência teatral e musical que todos aqueles que a testemunharam certamente jamais esquecerão.

No complemento da ficha técnica, destacamos a expressiva e criativa cenografia de Ney Madeira, composta de todas as capas dos discos de Chico Buarque, sendo correto o figurino que também assina. Marcelo Alonso Neves responde por uma direção musical brilhante, sendo excelente a participação ao piano de João Bittencourt - e aqui ressaltamos a criatividades dos arranjos, a beleza das harmonias e a sensível execução do pianista, cuja evidente técnica jamais é exibida como um valor em si, mas está sempre a serviço de promover um delicado e preciso encontro com a protagonista. Destacamos também a ótima iluminação de Paulo César Medeiros, as significativas participações de Pedro Lima (preparação vocal) e Thaís Tedesco (preparação corporal), e o abrangente release que me foi enviado, escrito por Mônica Riani.

MEU CARO AMIGO - Texto de Felipe Barenco. Direção de Joana Lebreiro. Com Kelzy Ecard. Ao piano, João Bittencourt. Teatro Sesi. Quinta a domingo, 19h30.

3 comentários:

  1. Lionel, parabéns por manter aqui um espaço de avaliação e divulgação do teatro. Retomar aqui o tempo em que o teatro tinha importância merecendo muito mais do que um quarto de página de jornal, fortalece a todos que vivem dessa arte ou simplesmente a amam. Parabéns mais uma vez e obrigado pelo olhar sempre carinhoso e disponível que você lança aos que se dedicam ao teatro.
    Iano Salomão
    ianojr@hotmail.com

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  2. A peça é reamlmente maravilhosa, assisti no centro cultural dos correios, acho que vou outra vez. O texto é muito bom!

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  3. Lionel! Que ótimo presente descobrir teu blog através do meu querido amigo Barenco. Vou te seguir! O trabalho de Meu caro amigo é realmente primoroso. Me encontre também, agora estou no www.cadernoteatral.com.br
    Beijos!

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