Teatro/CRÍTICA
"As mulheres da Rua 23"
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Muito humor e pouco foco
Lionel Fischer
Ainda que um pouco "editado", o que se segue é um resumo do enredo do presente texto, extraído do release que me foi enviado: "...sobre a influência do Teatro do Absurdo, a partir da leitura da obra de Eugène Ionesco, a peça conta com humor a história de duas amigas que se encontram todos os dias, no mesmo horário e local, para contar casos da vida. Denominado 'Rua 23' o lugar apresenta uma atmosfera misteriosa que vai sendo desvendada pelas personagens ao longo da trama. Sem nomes definidos, as mulheres utilizam pseudônimos de flores para não serem descobertas no ambiente. A ação acontece em um banco, em meados do século XIX. A história se desenvolve a partir da morte dos respectivos maridos das pesonagens, revelando um final surpreendente ao público".
Como já disse inúmeras vezes ao longo desses 21 anos de crítica teatral, uma boa idéia não garante necessariamente um produto final de qualidade, das mesma forma que uma idéia nada brilhante pode gerar uma peça sublime. Neste último caso, incluo "Hamlet", sem dúvida o melhor texto teatral já escrito. E, curiosamente, sua idéia básica nada tem de especial: logo no início o protagonista é informado pelo fantasma de seu pai de que fora assassinado por seu irmão, que se casou em seguida com a viúva e ocupa o trono; a partir daí, o jovem príncipe leva cinco atos sem saber exatamente como se vingar. No entanto, nas mãos de um gênio como Shakespeare, esse ponto de partida, que nada tem de especial, como já foi dito, assume uma dimensão fantástica, pois o fabuloso bardo consegue criar personagens extraordinários, impor à cena uma ação avassaladora e empreender reflexões da mais alta pertinência sobre múltiplos aspectos da natureza humana.
Assim, e retornando a "As mulheres da Rua 23", sua mola propulsora nada tem de especial - o que não constitui, como espero já ter deixado claro, nenhum problema. A questão se resume em como tudo se desenvolve. E neste quesito alguns senões tornam-se evidentes, ainda que o texto não deixe de exibir qualidades. Em cartaz no Teatro Candido Mendes, "As mulhres da Rua 23" tem autoria assinada por Raphael Miguel e Leandro Bertholini, estando o elenco formado por Bertholini (Jovelina) e Leo Campos (Catharina).
Se por um lado é inegável que a peça exibe passagens engraçadas, algumas tiradas realmente saborosas e observações pertinentes sobre o universo feminino, por outro também é inegável que o texto carece de um objetivo mais definido. Ou seja: as conversas entre as duas mulheres deveriam promover um maior desenvolvimento da ação, mas esta permanece estática, sem que nenhuma das personagens exiba qualquer mudança em função do que é dito. Assim, fica-se com a sensação de que a peça recomeça a todo momento, apenas em função de um novo assunto levantado.
Quanto ao espetáculo, Carlos Alexandre impõe à cena uma dinâmica em sintonia com o texto, explorando com eficiência seu potencial humorístico e também valorizando a já mencionada atmosfera misteriosa, ainda que eu não tenha conseguido detectar as razões de tal mistério. E é também muito boa sua atuação junto ao elenco, pois tanto Leandro Bertholini como Leo Campos exibem presença, bom tempo de comédia e ótima contracena.
Na equipe técnica, são corretos os trabalhos de todos os profissionais envolvidos nesta simpática empreitada teatral - Juçara Pereira (figurinos), Bianca Lage (maquiagem), André Carvalho (iluminação) e Cia. de Teatro Autoral (cenografia).
AS MULHERES DA RUA 23 - Texto de Raphael Miguel e Leandro Bertholini. Com Bertholini e Leo Campos. Direção de Carlos Alexandre. Teatro Candido Mendes. Terças e quartas, 21h.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
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Olá Léo, nem sempre a critica e justa, mas neste caso, voce o foi. As qualidades estão bem colocadas em relação aos ótimos autores / atores.
ResponderExcluirE concordo com a critica em relação ao texto. Deve ser revisto, dando melhor amarração a estória.
Fiquei em duvida ao acompanhar o desenrolar da estória. Era um encontro entre duas amantes ( já que se passa as escondidas )?, era o encontro de duas amigas mortas, no umbral? No final, era o encontro dos maridos, possuídos pela amante e esposa mortas ? Sai na duvida, mas encantada pela presença forte e ao mesmo tempo delicada dos dois autores. Já sou fã.
Plus: deprimida pela morte de minha mãe fui ver a comedia e fiquei estática pelo enredo falar de morte com certo humor. Sai com a sensação de conforto.