quarta-feira, 3 de abril de 2024

 

Teatro /CRÍTICA

 

“Mademoiselle Chanel”

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Montagem imperdível na Maison

 

Lionel Fischer

 

“Mademoiselle Chanel” ficou um ano e mio em cartaz em São Paulo e seu sucesso estrondoso repetiu-se em Portugal e na França. Agora, a impecável produção está em cartaz no Teatro Maison de France. Pois bem: isto significa uma oportunidade imperdível de, mais uma vez, o público carioca ter o privilégio de ver em cena uma das melhores atrizes do planeta: Marília Pêra.

Escrita por Maria Adelaide Amaral e dirigida por Jorge Takla, a peça mostra a genial estilista, aos 88 anos, no final de uma tarde de sexta-feira. Ao mesmo tempo em que retoca vestidos em duas modelos e aprecia outros já acabados, Coco Chanel evidencia seu temor do final de semana (que passará sozinha) e recorda algumas das passagens mais relevantes de sua vida, tanto no que diz respeito às sua criações como no que concerne a amores, amigos e desafetos. E então a platéia tem acesso a uma personalidade fascinante, posto que constituída por contrastes materializados de forma segura e sensível pela autora.

Já tendo encarnado Carmem Miranda, Dalva de Oliveira e Maria Callas, aqui novamente Marília Pêra deixa claro o que separa um bom intérprete de um intérprete genial. Ao dar vida a uma personalidade conhecida, o bom intérprete luta desesperadamente para imitá-la e quando o consegue sempre desperta este tipo de comentário: “Fulano é o máximo, está igualzinho a Sicrano”. Nada mais falso, pois este “igualzinho” significa cópia, quando arte é recriação.

E é exatamente o que Marília Pêra fez com as artistas mencionadas e faz agora com Coco Chanel: não se limita a reproduzir seus aspectos exteriores mais marcantes, mas a eles impõe forte contribuição pessoal, certamente fruto de sua extraordinária capacidade de compreender o ser humano, o que implica na aceitação – sem qualquer espécie de julgamento – de todas as contradições que lhe são inerentes.

Com relação ao espetáculo, Jorge Takla impõe à cena uma dinâmica que sabiamente privilegia o que interessa: a fantástica capacidade de Marília Pêra de fascinar o espectador com um simples olhar, um singelo caminhar, uma imprevisível pausa ou uma desconcertante divisão do texto. Portanto, as marcas são simples, mas sempre elegantes e valorizam tanto as passagens mais engraçadas quanto aquelas em que o humor predomina. E Takla também consegue obter seguras atuações de Laura Wie e Ellen Londero, que interpretam as modelos.

Na equipe técnica, o diretor responde por irretocáveis cenário, iluminação e trilha sonora. Quanto aos figurinos, estes foram criados em Paris pela Maison Chanel. Poderiam ser diferentes do que são, ou seja, absolutamente deslumbrantes?

MADEMOISELLE CHANEL – Texto de Maria Adelaide Amaral. Direção de Jorge Takla. Com Marília Pêra, Laura Wie e Ellen Londero. Teatro Maison de France.

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