Teatro/CRÍTICA
“Minha mãe é uma peça”
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As
agruras de um hilariante arquétipo
Lionel
Fischer
Se existe algo de inquestionável neste nosso mundo,
abundante de questionamentos e contradições, é sem dúvida o amor incondicional
de mãe – embora acredite que amor de pai também seja incondicional. No presente
caso, estamos diante de dona Hermínia, mãe de um casal já crescido, que
simplesmente enlouquece com hábitos e manias típicos da juventude. Mas a
apoplexia da protagonista é ampla e diversificada, incluindo a vizinha
fofoqueira, outra que vive fazendo obras e uma terceira que passa o tempo todo
cantando aos berros – e isso sem falar no ex-marido e em sua atual namorada,
dos quais ela tem profundas queixas, e das várias doenças de que padece, reais
ou imaginárias.
Eis, em resumo, o caótico universo em que vive dona
Hermínia, personagem único de “Minha mãe é uma peça”, texto escrito e
interpretado por Paulo Gustavo. A montagem, em cartaz no Teatro Cândido Mendes,
leva a assinatura de João Fonseca – o espetáculo conta também com a
participação em off de dois atores, não mencionados no programa, e também de
Mariana Baldi que, da cabine de luz e sem ser vista, tem pequena e eficiente
participação.
Como imagino ter ficado claro no parágrafo inicial,
não estamos propriamente diante de um personagem, mas de um arquétipo. Ou seja:
dona Hermínia concentra todas as virtudes e todos os pecados inerentes a esta
figura tão essencial, que é a da mulher que tem filhos e a eles se dedica – e
também atazana – com inimaginável devoção. Mas aqui, como se trata de uma
comédia, o autor fez questão de priorizar os aspectos furiosos, magoados,
maníacos e estressados de dona Hermínia, criando situações muito engraçadas e
que despertam total empatia na platéia.
Diante de tal quadro, João Fonseca teve a sabedoria
de impor à cena uma dinâmica simples e divertida, já que evidentemente o
sucesso da empreitada estaria a cargo do único ator em cena. E Paulo Gustavo se
revela um grande talento, tanto no que diz respeito à impecável composição
física quanto ao apurado domínio vocal – afora o fato de exibir um tempo de
comédia realmente notável, virtude inata e que tudo indica que ainda possa ser
bastante desenvolvida em seus próximos trabalhos.
Com relação à equipe técnica, a cenografia de Nello
Marrese atende a todas as necessidades da montagem, sendo extremamente
apropriados os figurinos assinados por Patrícia Muniz. São igualmente
eficientes a iluminação de Eduardo Nobre, a trilha sonora de Marco Novack e a
maquiagem de Josef Chasilew.
MINHA
MÃE É UMA PEÇA – Texto e interpretação de Paulo Gustavo. Direção de João
Fonseca. Teatro Cândido Mendes.
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