Teatro/CRÍTICA
“Louro, alto, solteiro, procura...”
.................................................
Hilariantes
panes telepáticas
Lionel
Fischer
Autor de alguns dos maiores sucessos de público do
teatro carioca, como “A partilha” e “Como encher um biquíni selvagem”, Miguel
Falabella, em parceria com Maria Carmem Barbosa, escreveu e é o único
intérprete de “Louro, alto, solteiro, procura...”, comédia dirigida por
Jacqueline Laurence em cartaz no Teatro Casa Grande.
Neste monólogo de natureza telepática, tudo acontece
a partir de uma espécie de pane na mente do pai Adamastor, sensitivo que
localiza, a pedidos, pessoas desaparecidas. Entretanto, em virtude de uma
“sapatada cósmica”, desferida por uma senhora que desejava encontrar o marido,
vozes aflitas entram ao mesmo tempo no “circuito”. Daí em diante, pai Adamastor
incorpora múltiplos personagens e se empenha em evitar o caos absoluto.
Falabella sempre se caracterizou como um homem de
teatro essencialmente empenhado em se divertir e divertir o público. Por muitos
considerado um autor superficial, opinião que atribuo a um nem sempre assumido
sentimento de inveja, o fato é que Falabella possui inúmeras e nada
desprezíveis qualidades como dramaturgo, sendo as mais significativas seu acurado
senso de humor – jamais dissociado de uma visão crítica do fato retratado – e
uma excepcional capacidade para criar diálogos ágeis e extremamente engraçados.
E tais virtudes estão presentes em “Louro, alto,
solteiro, procura...”. Embora a peça seja um monólogo, os sucessivos
personagens incorporados por pai Adamastor estão sempre discutindo, trocando
ofensas ou confissões, estabelecendo alianças ou procurando destruí-las. E tudo
é feito com tamanho grau de competência e num ritmo tão vertiginoso que a
platéia mal tem tempo de se recuperar de uma convulsão de riso, pois outra já
se delineia.
A fim de não estragar o fator surpresa, vou me
abster de mencionar a extensa galeria de tipos e situações que se encadeiam de
forma extremamente hábil. Mas é claro que não deixarei de enfatizar a
fantástica atuação de Falabella: perfeito na composição das propositais
caricaturas, tanto em termos vocais quanto físicos, e possuidor de um carisma
que deixa os espectadores literalmente magnetizados, Falabella dá um show de
interpretação nesta que é, sem qualquer margem de erro, a melhor atuação de sua
carreira. E é por isso que, ao final da montagem, a platéia o aplaude de pé e demoradamente.
A direção de Jacqueline Laurence acompanha de perto
a eficiência do texto e da atuação do solista. Suas marcações são precisas,
criativas, de uma ironia que é uma das marcas registradas da encenadora. E é
lógico que grande parte do êxito do ator deve ser creditado às orientações de
Jacqueline, ela mesma uma ótima atriz e que já dirigiu Falabella em “Sereias da
zona sul” e foi por ele dirigida em “Tupã, a vingança” e “No coração do
Brasil”. Com tantas afinidades e conhecimento mútuo, o resultado só poderia ser
um dos mais cativantes espetáculos da atual temporada.
Quanto à equipe técnica, esta tem atuação igualmente
brilhante. A iluminação de Maneco Quinderé é tão eficiente quanto bem-humorada.
A cenografia de Marlise Storchi entulha o palco com uma infinidade de objetos
levados pelos que desejam encontrar os desaparecidos, e sua multiplicidade,
assim como disposição cênica, são extremamente cômicas. O único figurino,
assinado por Silvia Sangirardi, é de extrema elegância, sugerindo o altíssimo
padrão de vida daqueles que se dedicam a práticas que repousam na crença cega
dos que se sentem desamparados.
LOURO,
ALTO, SOLTEIRO, PROCURA...- Texto de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa.
Direção de Jacqueline Laurence. Com Miguel Falabella. Teatro Casa Grande.
Nenhum comentário:
Postar um comentário