segunda-feira, 30 de abril de 2012

Teatro/CRÍTICA

"Antes que você me toque"

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Deliciosa e enriquecedora jornada


Lionel Fischer


No início - dizem - era o Verbo. No meio - sem nenhum duplo sentido - não sei o que havia. Mas hoje, não há como negar que o sexo é um componente fundamental em nossas vidas. Nunca se transou tanto como agora. Nunca a propaganda, seja lá do que for, investiu tanto em apelos eróticos. Nunca se cuidou tanto do corpo,  obviamente com o propósito de exibi-lo e gerar desejo. Nunca, enfim, a humanidade investiu tanto no sexo e o praticou em tantas variáveis. Ainda assim, ouso supor que não haja um justa correspondência entre tal investimento e a felicidade que supostamente deveria gerar. Por que será?

Como não sou psicanalista, sociólogo e muito menos sexólogo, não sei exatamente a que atribuir tal descompasso. Mas é bem possível que o presente espetáculo ajude o espectador a compreender melhor uma série de questões que envolvem o ato de entregar-se fisicamente a alguém. Com dramaturgia assinada por Claudia Mele (idealizadora do projeto) e Ivan Sugahara (também responsável pela direção), "Antes que você me toque" está em cartaz na Boate 2a2, casa noturna exclusiva para casais que curtem o voyeurismo, o exibicionismo e os adeptos do swing. No elenco, Claudia Mele, Cristina Lago, Igor Angelkorte e Saulo Rodrigues.

"Com a abordagem de temas diversos como a descoberta do sexo, o jogo de sedução, o exercício da volúpia, a falta de afeto, o amor e as dificuldades da relação a dois, a peça propõe um questionamento sobre a sexualidade no mundo contemporâneo". Este trecho, extraído do release que me foi enviado, sintetiza os principais temas abordados no espetáculo, que mescla ficção e vivências de toda a equipe de criação que, além dos profissionais já citados, inclui Livia Paiva. E dentre todos os temas, um me parece o mais crucial: a falta de afeto.

Como já deixei claro acima, não sou um especialista no assunto. Mas me parece óbvio que, quando fazemos sexo sem amor, enveredamos para o trágico. Sim, pois tudo passa a se resumir a patéticas tentativas de se demonstrar habilidade, a mera performance, através da qual homens e mulheres - sobretudo os homens - se empenham desesperadamente em dar prazer ao outro, totalmente esquecidos de que o dito prazer não pode excluir, em hipótese alguma, uma entrega de almas. E o momento mais tocante do espetáculo é justamente o que mostra o dilacerante encontro de um homem e uma mulher que não se conheciam e resolvem ir para a cama - é claro que não entrarei em maiores detalhes, pois isso privaria o espectador de usufruir o impacto de uma cena belíssima.

Bem escrito, contendo ótimos personagens (fruto, como já disse, de ficção e realidade), muitas vezes tocante e ao mesmo tempo exibindo cenas engraçadíssimas, "Antes que você me toque" recebeu excelente versão cênica de Ivan Sugahara, que explora com grande imaginação vários espaços da boate e jamais, que fique bem claro, submete a platéia a qualquer tipo de constrangimento. Muito pelo contrário: atores e espectadores se irmanam numa deliciosa e enriquecedora jornada.

Quanto aos atores, torna-se evidente seu visceral envolvimento com todas as questões levantadas pelo espetáculo que ajudaram a criar. Todos exibem charme, carisma, verdade, humor, delicadeza, perplexidade, tristeza, tesão, enfim, incontáveis sentimentos, afora notável capacidade de entrega. A todos, portanto, parabenizo em igual medida e a todos agradeço a inesquecível festa para a qual fui convidado.

Na equipe técnica, são de excelente nível as contribuições de Nello Marrese (cenografia), Renato Machado (iluminação) e Ivan Sugahara (trilha sonora). Mas não há como não conferir um destaque todo especial para os maravilhosos figurinos de Tarsila Takahashi, em alguns momentos lindíssimos e em outros deliciosamente críticos e hilariantes.

ANTES QUE VOCÊ ME TOQUE - Dramaturgia de Claudia Mele e Ivan Sugahara. Direção de Ivan Sugahara. Com Claudia Mele, Cristina Lago, Igor Angelkorte e Saulo Rodrigues. Boate 2a2. Quinta a sábado, 20h30.    







   

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Centro Cultural Justiça Federal

Programação de Maio


Artes Plásticas

Ocupando 5 galerias, a exposição faz uma retrospectiva do badalado site canetalentepincel.blogspot.com, que propõe o diálogo entre literatura, artes plásticas e fotografia. A mostra apresenta obras inéditas em salas temáticas, como o Telefone Sem Fio artístico, em que 20 artistas criaram trabalhos em sequência inspirando-se na obra imediatamente anterior.


Curadoria: Vivian Faingold
Visita orientada com a curadora nos dias 8, 11* e 15 , às 17h30
Até dia 20
Terça a domingo,
das 12h às 19h
Galerias do 1º andar


Fotografia
Mosaico Minuto 2011 *


Exposição digital das fotografias clicadas no mesmo dia e horário (19/08/11), em diversos lugares e por diversos fotógrafos, resultantes do projeto coletivo Mosaico Minuto 2011, que homenageia o Dia Mundial da Fotografia. Haverá também uma palestra na biblioteca discorrendo sobre o Dia Mundial da Fotografia, os resultados dos projetos no ano anterior e orientações sobre como participar da versão 2012 do projeto.


Curadoria: Marcos Sêmola
*Visita orientada dia 26, às 16h.
De 23/05 a 22/07
Terça a domingo,
das 12h às 19h
Espaço Virtual


Marcelo Carnaval


A mostra conta com 25 fotos coloridas de um cotidiano que passa despercebido do carioca. Marcelo Carnaval aborda um espaço popular em todo o mundo mas sub-explorado no Brasil: o Metrô. Ele nos leva a locais não abertos ao público e a visões de outros em que passam todos os dias milhares de pessoas. “O metrô é um local meio mágico” – diz Carnaval – “onde os opostos coexistem. O apressado aprende a ir mais devagar enquanto o calmo acelera. O alienado se informa nem que seja no jornal do vizinho. É o lugar onde o barulho dá sono.”


De 24/05 a 01/07
Terça a domingo,
das 12h às 19h
Gabinete de Fotografia


Rocinha S/A 


As imagens mostram os contrastes e confrontos da favela carioca, declarada bairro por decreto municipal, formada por 18 sub-bairros e habitada por pessoas de poder aquisitivo diverso. O prestigiado fotógrafo Alcyr Cavalcanti registrou, desde o final dos anos 80, algumas das transformações ocorridas, com destaque para as intervenções executadas pelo aparato repressivo do Estado.


Visita orientada com o fotógrafo no dia 03, às 18h
Até dia 13
Terça a domingo,
das 12h às 19h
Gabinete de Fotografia


Simplesmente Doisneau


Uma iniciativa da Aliança Francesa do Brasil, Simplesmente Doisneau é o título da exposição, inédita no país, que celebra o centenário de nascimento de Robert Doisneau. Um dos maiores nomes da história da fotografia mundial, desde o início da carreira ele se mostrou apaixonado pela poesia do cotidiano, a ponto de desenvolver um novo modo de pensamento visual, audácia esta colocada a serviço de um pensamento social rigoroso. Influenciado pelas obras de Henri Cartier-Bresson, Eugène Atget e André Kertész, ganhou fama por fotografar a vida social de Paris e de seus arredores, sem distinção de classe social: uma visão da fragilidade humana e das contradições da vida. Robert Doisneau morreu em 1994.


Curadoria: Agnès de Gouvion Saint-Cyr
Até 24/06
Terça a domingo,
das 12h às 19h
Galerias do 2º andar


Heterogêneo – Um retrato da diversidade* 


Exposição digital de retratos do carioca Leo Neves, que registrou a Parada do Orgulho LGBT 2011, em São Paulo. Um estúdio portátil foi montado na Avenida Paulista usando uma octabox adaptada para um flash compacto e usando uma parte da fachada de um prédio comercial como fundo.


Curadoria: Vivian Faingold

*Visita orientada dia 09, às 18h.
Até dia 13
Terça a domingo,
das 12h às 19h
Espaço Virtual


Help Portrait *


A exposição divulga o projeto Help Portrait, fundado pelo fotógrafo de celebridades Jermy Cowart, em 2009. As ações do projeto vêm juntando fotógrafos e voluntários ao redor do mundo em favor de suas respectivas comunidades. A ideia é simples: encontre alguém sem condições de arcar com o custo de uma fotografia profissional; retrate esta pessoa; imprima; ofereça a fotografia ao retratado. Em dezembro, o fotógrafo Léo Neves organizará uma ação no CCJF, direcionada ao público do Rio de Janeiro.


Curadoria: Vivian Faingold
*Visita orientada dia 09, às 18h.
Até dia 13
Terça a domingo,
das 12h às 19h
Galeria do Térreo


Documentário


Home – Nosso Planeta, Nossa Casa 


Após sofrer várias interferências humanas, todas as riquezas da Terra correm risco. Agora, a solução se mostra cada vez mais difícil de ser encontrada. Ao nos oferecer imagens inéditas de mais de 50 países vistos do céu, compartilhando sua admiração tanto quanto sua preocupação, Yann Arthus Bertrand propõe, com este filme, um desafio de superação para toda a humanidade.


Direção: Yann Arthus-Bertrand
Dias 01, 02 e 08,
às 17h e às 19h
R$1
Cinema
93 min


Diversidade em Animação 2012 – 4ª edição * / festival


Diversidade em Animação é o festival internacional oficial da Animação LGBT destinado aos cinéfilos, amantes de arte, cineastas e apreciadores dos desenhos animados LGBT em todo o mundo. Competição internacional de curtas, debate, mostras especiais e retrospectivas compõem a programação do festival.


Programação e classificação indicativa: www.diversidadeemanimacao.com.br


No dia 5, às 15h30, haverá o debate O Futuro do Cinema de Animação LGBT. Entrada franca com distribuição de senhas 1 hora antes.


Curadoria: Alexander Vinícius de Mello


De 04 a 13, das 14h30 às 21h30
(não haverá sessões nos dias 07 e 08)
R$12 e R$6(meia)


Cinema


Mostra PUC de Cinema


O CCJF e a PUC-Rio promovem uma mostra de curtas-metragens de documentário e ficção realizados por alunos do curso de cinema da universidade. A mostra apresentará 25 curtas produzidos nos últimos cinco anos e contará, ainda, com sessões de debates, possibilitando uma incursão na experiência da produção cinematográfica universitária.


Programação e classificação indicativa: www.ccjf.trf2.gov.br


Curadoria: Marcelo Taranto e José Mariani
De 12 a 14, quinta a sábado
Sessões às 15h e às 18h
R$2 e R$1 (meia)


Cinema


3º Cinefoot 2012– Festival


de Cinema de Futebol


O festival alia a magia do futebol à emoção do cinema, levando às telas imagens que ocupam o imaginário dos brasileiros e que marcaram para sempre a memória e o coração de inúmeras gerações.


Programação e classificação indicativa: www.cinefoot.org


Curadoria: Antônio Leal
De 31/05 a 03/06,
das 14h30 às 21h30
Entrada franca
Senhas 1h antes de cada sessão


Cabeça de Vento / peça infantil


Léo é um menino de oito anos, apaixonado por pipas, brincadeira que aprendeu com seu pai. Ao ganhar de presente um livro que pertenceu a ele, faz um mergulho na História, entrando em contato com três figuras marcantes: o cientista norte-americano Benjamin Franklin, a guerreira e rainha chinesa Fu Hao, e Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra.


Com Eduardo Almeida, Jan Macedo e Luciana Zule
Texto e direção: Cleiton Echeveste
Até dia 06
Sábados e domingos, às 16h
R$20 e R$10 (meia)
Teatro
50 min


Senhora Solidão / peça adulta


A peça conta a história de quatro solitários que, ao se encontrarem, revisitam suas memórias, brincando de reconstruir o que os desagradou no passado e de se visualizarem no futuro. A terapia não convencional executada flerta com elementos do psicodrama, criado pelo romeno Jacob Levy Moreno.


Com Alex Nader, Carine Klimeck, Cristina Fagundes e Luis Lobianco.
Texto e direção: Leandro Muniz
Até dia 06
Sexta a domingo, às 19h
R$20 e R$10 (meia)
Teatro
70 min


“Abram-se os Histéricos!”*


O espetáculo é inspirado nas aulas públicas realizadas pelo psiquiatra Jean-Martin Charcot no hospital La Salpêtrière, em Paris. Na época – final do século XIX – a grande novidade médica, literária e até mesmo mundana era a histeria. Nesse contexto, Charcot usava pacientes hipnotizados em suas aulas, fazendo da exposição de suas convulsões, paralisias, ataques e delírios verdadeiros espetáculos teatrais e operísiticos, abertos a um público de convidados leigos.


Com Aline Deluna, Berenice Xavier, Evandro Manchini, Jano Moskorz, Lourival Prudêncio, Marina Magalhães, Marina Salomon e Patrícia Niedermeier.


Texto: Antonio Quinet e Regina Miranda
Direção: Regina Miranda
Até dia 17
Quartas e quintas, às 19h
R$30 e R$15 (meia)
Teatro
80 min


Série Estações da Ópera *


Gianni Schicchi, de Giacomo Puccini


A ópera cômica em um ato conta as peripécias de uma família prestes a colocar a mão na fortuna de um parente morto com a ajuda do velhaco Gianni Schicchi.


Com Ciro D’Araújo, Ivan Jorgensen, Manuela Vieira, Marianna Lima, Diana Maron, Andressa Ignacio, Demades Gomes, Deividi Rasga, Daniel Soren, Patrick Oliveira, Allan Souza, Gabriel Costa, Leo Perin, Ana Luísa Serpa e Danielle Gregorio.


Direção cênica: Ana Vanessa
Dias 19 e 20
Sábados e domingos, às 19h
R$30 e R$15 (meia)
Teatro
60 min


Janelas para a literatura: explorando a linguagem dos blogs / curso


Você sabe o que é blog, conhece suas ferramentas, mas acha postar com regularidade um desafio. Você acompanha alguns blogs e até escreve, de vez em quando, mas não sabe como utilizar a linguagem e as possibilidades desse meio a seu favor, seja para divulgação de ideias autorais, impressões ou para manifestar suas predileções literárias.


Em qualquer dos casos acima, este curso é para você.


Informações e inscrições: plumagenz@plumagenz.com.br, 2225-7186 e 7685-1002

Dias 08, 15, 22 e 29 de maio e 05 de junho, terças,
das 19h às 21h
R$280
Sala Multimídia


Oficina de poesia falada*


Estabelecendo como referência questões de ordem musical, o curso trabalhará a declamação poética com vistas a tornar a performance dos alunos mais viva e sensível. Para iniciantes e iniciados.


Professor: João Pedro Fagerlande


Informações e inscrições: oficinapoesiafalada@gmail.com


Dias 05, 12, 19 e 26 de maio e 02 de junho, sábados,
das 15h às 17h
R$150,00 ou
R$ 120,00 (estudantes)
Sala Multimídia


História do Brasil e a música popular: a memória e o som*


/ curso


O curso tem como foco a história da música popular no Brasil desde os seus primórdios, propondo reflexões sobre suas relações e inserções na história geral do país e suas perspectivas. Professor: Paulo Roberto Luna Almeida


Módulo I: 09 e 16 de maio; Módulo II: 23 e 30 de maio; Módulo III: 06 e 13 de junho; Módulo IV: 20 e 27 de junho


Informações e inscrições: edlunamar@gmail.com e 8130-1748


Das 19h às 21h
R$ 160 ou
R$ 40 por módulo
Sala Multimídia


Jurandy da Feira Canta Gonzagão – Lançamento de CD


Jurandy Ferreira Gomes, batizado por Luiz Gonzaga com o nome artístico de Jurandy da Feira, teve quatro de suas composições gravadas pelo Rei do Baião. Com o lançamento desse CD, Jurandy homenageia Gonzagão, no ano do centenário de seu nascimento, e resgata um pouco da discografia deste importante artista brasileiro.


Dia 01, terça, às 18h30
R$20 e R$10(meia)
Teatro
90 min


Série Excelência Musical *


A série traz ao palco do CCJF grandes nomes da MPB e apresenta artistas de inegável qualidade para o público carioca, contribuindo para a formação de plateia com o melhor da música.


Dia 08 – Marcel Powell apresenta vários estilos musicais, que vão desde Lamartine Babo até o jazz atual passando por clássicos da MPB e também composições de Baden Powell, seu pai.


Dia 15 – Christiano Sauer, cantor e multi-instrumentista, apresenta canções de grandes compositores que são revisitadas com uma linguagem contemporânea destacando a influência africana na música das Américas.


Terças, às 19h
R$30 e R$ 15(meia)
Teatro
90 min


Série Sessão de Música *


A série apresenta a música de câmara executada por jovens de inegável talento. Em maio, o palco do CCJF recebe a Camerata Sinfônica do Rio de Janeiro, sob a regência de Pedro Borges. No repertório: obras de Francisco Mignone, Guerra-Peixe, Camargo Guarnieri e Villa-Lobos.


Dia 09, quarta, às 15h
Contribuição voluntária
Sala de Sessões
60 min


Série Música no Museu


Inaugurada em dezembro de 1997 no MNBA com o violonista Turíbio Santos, a série conta hoje, ainda que alternada ou esporadicamente, no Rio de Janeiro, com 42 dos melhores museus e centros culturais cariocas, além de lindas igrejas. O projeto ajudou a formar novas plateias, facilitando e incentivando a presença de crianças e jovens aos concertos. Programação: www.musicanomuseu.com.br


Dia 11, sexta, às 15h, no Teatro
Dia 17, quinta, às 18h, na Sala de Sessões
Dia 18, sexta, às 15h, no Teatro
Entrada franca
Senhas 1h antes de cada espetáculo


Cia. Bachiana Brasileira – Coro, Camerata e Solistas


O alto padrão de qualidade com que executa do colonial brasileiro e barroco europeu à música contemporânea explica a posição ímpar que a Cia. Bachiana Brasileira ocupa hoje no cenário musical. O concerto apresentará pequenas jóias do imortal compositor alemão Johann Sebastian Bach com a sonoridade exclusiva do coro, camerata e solistas.


Direção e regência: Maestro Ricardo Rocha
Dia 11, sexta, às 19h
R$ 30 e R$ 15(meia)
Sala de Sessões
70 min


Série Música Para os Olhos


A série, com a produção de Saulo Chermont, oferece ao público, a cada encontro, a oportunidade de apreciar orquestras e conjuntos de câmara, com seus diferentes instrumentos musicais. As cordas, os sopros e a percussão fazem parte desse universo instrumental. As apresentações são realizadas através de projeções de videoconcertos seguidas de comentários. Na edição de maio, teremos sonatas para violoncelo e piano dos compositores Frédéric Chopin, Claude Debussy e Johannes Brahms, de raríssimas execuções, com o pianista András Schiff e o violoncelista Miklós Rérényi.


Dia 13, domingo, às 16h
R$ 20 e R$ 10(meia)
Sala Multimídia
120 min


Sakra Buraja


O duo formado pelo tcheco Vladimir Cháb (saxofone) e o colombiano Aldo Zolev (baixo) procura explorar as fronteiras musicais através de suas composições, numa fusão de energia e improvisação. O projeto une a forte tradição musical da Europa Central e do Leste com a world music.


Dia 18, sexta, às 19h
R$20 e R$10(meia)
Sala de Sessões
80 min


Série Violões da Av-Rio


Leo Moreira e Orquestra de Violões da AV-Rio


O professor e concertista Leo Moreira e a Orquestra de Violões da AV-Rio apresentarão obras de Fernando Sor, Radamés Gnattali, Pauxy Gentil-Nunes, Bach e Michael Jackson, entre outros. A série promove a divulgação do violão, em todas as modalidades possíveis, com instrumentistas destacados e estudantes de música.


Dia 19, sábado, às 17h
R$6 e R$3(meia)
Sala de Sessões
70 min


Série Desafios Musicais *


Especial Lang Lang


Em maio, a série produzida por Saulo Chermont antecipa a vinda do virtuose chinês Lang Lang ao Rio, com um programa inteiramente executado pelo pianista. Em recitais gravado em Nova York, Viena e Londres, Lang Lang interpreta, com sua musicalidade ímpar, obras de Chopin, Liszt, Schumann e Schubert. A apresentação e a palestra ficarão a cargo do Prof. Rodolfo Valverde.


Dia 19, sábado, às 16h
R$ 30 e R$ 15 (meia)
Cinema
*Dia 20, domingo, às 17h
Entrada franca
Sala Multimídia
120 min


Sopros Musicais *


A série traça um painel da produção musical para conjuntos de sopros do final do século XVIII até os dias atuais. Serão apresentadas algumas das obras mais significativas do repertório composto originalmente para sopros abrangendo diferentes períodos e estilos musicais, privilegiando, também, a produção musical brasileira e contemporânea. Os concertos serão realizados pela Camerata de Solistas da Banda Filarmônica do Rio de Janeiro, em formações que variam entre seis e dezessete músicos.


Direção e regência: Antonio Henrique Seixas
Dia 22, terça, às 19h
R$5 e R$2,50(meia)
Teatro
70 min


Cantares – Grupo Vocal


Madrigal Contemporâneo *


O projeto Cantares vai realizar uma série de quatro concertos, ao longo de 2012, onde a voz é o tema central. Em maio será a vez do grupo Madrigal Contemporâneo, criado em 2008 sob a regência de Danielly Souza e composto por oito integrantes.


Dia 25, sexta, às 18h30
R$2 e R$1(meia)
Sala de Sessões
60 min


Shalom Salam – Lançamento de CD


O compositor e instrumentista Wagner Cinelli, acompanhado de sua banda, lança o CD Shalom Salam, com músicas de sua autoria. O show conta também com canções consagradas da MPB que clamam por um mundo melhor como Rosa de Hiroshima e A Paz.


Dia 29, terça, às 19h
R$20 e R$10(meia)
Teatro
70 min


Série Música na Cidade *


O multi-instrumentista de sopros Carlos Malta recebe um músico convidado para apresentação acústica na Sala de Sessões.


Dia 30, quarta, às 19h
R$30 e R$15(meia)
Sala de Sessões
70 min


Série Prelúdio 21 – Música do Presente*


Quando o Prelúdio 21 começou suas atividades, no final do século XX, cada compositor entrava em contato com intérpretes diferentes e o concerto tinha diversos músicos e formações instrumentais. Com o amadurecimento, o grupo adotou um outro formato, em que todos compõem para os mesmos intérpretes. Mas, uma vez ao ano, o Prelúdio 21 realiza o concerto De volta às Origens, onde esse caleidoscópio de sons pode ser experimentado pela plateia.


Dia 26, sábado, às 15h
Entrada franca
Teatro
90 min


Projeto (Re) Conhecendo a Biblioteca do CCJF


Uma experiência de intercâmbio cultural / bate-papo


A partir da experiência de realização do projeto A Terra Vista do Céu, serão expostos, por membros da equipe da Bonfilm, empresa do ramo da produção cultural, diversos tópicos sobre os desafios de se realizar projetos culturais com temáticas internacionais e abrangência nacional.


Dia 24, quinta, às 19h
Entrada franca
Sala de Leitura


O livro A Terra Vista do Céu encontra-se na biblioteca do CCJF para consulta.


Terça a domingo
12h às 17h




Projeto Educativo


A Terra Vista do Céu


O Projeto Educativo A Terra Vista do Céu é uma parceria com a mostra que fica em cartaz na Cinelândia e promoverá exibições gratuitas, para grupos escolares, do documentário Home – Nosso Planeta, Nossa Casa, de Yann Arthus-Bertrand. O projeto, que é uma reflexão sobre a preservação do planeta e o futuro da humanidade, acontece no ano da Rio + 20, conferência mundial das Nações Unidas sobre o desenvolvimento sustentável.
Até 24/06

Ação educativa Caneta, Lente e Pincel / oficina infanto-juvenil


A atividade iniciará com uma visita à exposição Caneta, Lente e Pincel e, após, os participantes serão estimulados a criar um trabalho plástico e/ou escrito baseado na proposta da exposição. Direcionada ao público infanto-juvenil.


Dia 03, quinta, às 15h
Galerias do 1º andar


Oficina literária Caneta, Lente e Pincel / oficina


Uma ideia inovadora que surgiu há três anos e tornou-se um badalado blog. Estamos falando do Caneta, Lente e Pincel, que une as mais diversas vertentes artísticas. A proposta é simples: a partir de uma imagem – vídeo, fotografia, pintura, desenho, etc – ou música cria-se um texto, ou vice-versa. Ministrada por Maria Emília Algebaile.


Dia 18, sexta, das 15h às 17h
Sala Multimídia
Vagas limitadas
Mediante inscrição por telefone
Inscrições: 3261-2567, 3261-2552


Série Justiça e Pensamento


Direito Ambiental e Direitos Culturais: Compatíveis ou Inconciliáveis? / bate-papo


Com a proximidade da reunião da ONU, Rio+20, é oportuno o debate sobre as possibilidades de compatibilizar a proteção ambiental prevista em nosso ordenamento jurídico com os direitos estabelecidos na Constituição Federal para a preservação das tradições culturais de diversos grupos, como índios, remanescentes de quilombos e outros grupos étnicos formadores da nação.


Palestrante: Ronaldo Joaquim da Silveira Lobão (doutor em Antropologia e professor da UFF)


Coordenação: Helena Elias (juíza federal)
Organização: Ajufe e Ajuferjes
Inscrições no local
Dia 22, terça, das 18h30 às 20h30
Entrada franca
Cinema


















FESTIVAL DE TEATRO CIDADE DO RIO DE JANEIRO - 10 ANOS



PROGRAMAÇÃO DA MOSTRA ESPECIAL
(ESPETÁCULOS DE TODO BRASIL)




02/05/2012 - Quarta-feira às 21 horas


Espetáculo: “O Inspetor Geral”
Grupo: Teatro Popular de Ilhéus
Origem: Ilhéus / Bahia
Sinopse do espetáculo:


          Mais uma viagem do Teatro Popular de Ilhéus - que completa quinze anos - no universo da Literatura de Cordel. O texto, inspirado na obra homônima de Nikolai Gogol, foi escrito em septilhas (estrofes de sete versos). Os atores/brincantes saem das páginas dos cordéis e dão voz ao contador para narrar a história de Gilson Munheca, prefeito da fictícia cidade de Ilha Bela. Com trilha sonora executada ao vivo, o espetáculo apresenta um retrato da corrupção política no interior do Brasil e foi indicado ao Prêmio Shell de Teatro 2011, em São Paulo.


Ficha técnica:
Texto e Direção: Romualdo Lisboa
Elenco: Hermilo Menezes,Tânia Barbosa, Ely Izidro, Takaro Vitor, Aldenor Garcia, Rogério Matos, Elielton Cabeça, Guilherme Bruno, Potira Castro
120 minutos


03/05/2012 - Quinta-feira às 21 horas


Espetáculo: “Cão”
Grupo: Núcleo 1408 - Companhia de Teatro e Invenção
Origem: São Paulo / São Paulo
Sinopse do espetáculo:


          A história de uma mulher que se vê diante de uma situação absurda: seu marido, como agravamento de uma depressão, passou a se comportar como um cachorro. A protagonista o esconde do mundo, temendo que o bizarro caso afete sua imagem bem sucedida, até que a situação chega a seu limite. Parte do processo de criação do ator consistiu em frequentar, em um pet shop, aulas de agility (modalidade em que cães percorrem uma pista de obstáculos) orientadas por um treinador e ao lado de cães de verdade.


Ficha técnica:
Texto: Rui Xavier
Direção: Samya Enes, Hévelin Gonçalves e Rui Xavier
Elenco: Hévelin Gonçalves e Rui Xavier
90 minutos


04/05/2012 - Sexta-feira às 21 horas


Espetáculo: “Forno Com Fubá”
Grupo: Cia. Dom Caixote
Origem: São Paulo / São Paulo
Sinopse do espetáculo:


          A relação de um casal desde antes do casamento até as bodas de diamante, passando pelas alegrias e dificuldades, recitada em poemas e textos de autores conhecidos. A falta ou excesso de um ingrediente faz desandar uma grande receita, por isso devemos ficar atentos as angústias, alegrias, dúvidas e amores para "não passar do ponto". Durante ao espetáculo é preparado um bolo que é servido ao final para que o público participe da comemoração dos 50 anos de casamento dos personagens.


Ficha técnica:
Texto e direção: Luiz Felipe Petuxo
Elenco: Paulinho Rocco e Sandra Nagy
50 minutos


05/05/2012 - Sábado às 21 horas


Espetáculo: “Pequeno Inventário de Impropriedades”
Grupo: Téspis Cia. de Teatro
Origem: Itajaí / Santa Catarina
Sinopse do espetáculo:


          Um homem vive dentro de um cotidiano previsível e repetitivo até que um acontecimento muda o rumo de sua vida. Saindo de uma vida ordinária, ele descobre o poder da violência latente dos dias em que vivemos. Ficção e realidade se misturam até não conseguirmos distinguir onde uma começa e a outra termina. O texto, originado de um blog na internet, foi trabalhado ao longo de workshop de dramaturgia ministrado por Roberto Alvim.


Ficha técnica:
Texto: Max Reinert
Direção: Denise da Luz
Elenco: Max Reinert
45 minutos


06/05/2012 - Domingo às 20 horas


Espetáculo: “Travessia”
Grupo: Grupo Tecelagem
Origem: São Paulo / São Paulo
Sinopse do espetáculo:

          Livremente inspirado nos contos reunidos em “Sagarana” e “Primeiras Estórias”, do escritor João Guimarães Rosa, aborda a experiência de uma travessia pelo sertão. Em cinco paradas, um vaqueiro, no transporte de uma boiada da fazenda ao vilarejo conta e canta suas estórias, seus medos, suas dores, seus amores. espetáculo transita no universo da oralidade, dos ritos, das cantigas e tradições, encontrando nesses elementos a força do sagrado.


Ficha técnica:
Texto e direção: Paulo Williams
Elenco: Paulo Williams, Paulo Timbé e Thiago Rodrigues
60 minutos


09/05/2012 - Quarta-feira às 21 horas

Espetáculo: “Moscarda”
Grupo: Cia. Mucuta de Teatro
Origem: São Paulo / São Paulo
Sinopse do espetáculo:


          Adaptação do romance “Um, Nenhum e Cem Mil” de Luigi Pirandello, conta a história de um homem atormentado com as descobertas de si mesmo. Ao ser alertado pela mulher para um pequeno “defeito” em seu nariz, ele nos coloca diante de uma questão existencial e filosófica: quem somos? Apenas um ator, uma poltrona e uma história. Estes são os elementos de que se vale o espetáculo.


Ficha técnica:
Texto: Luigi Pirandello (adaptação de “Um, Nenhum e Cem Mil”)
Direção: Valéria Lauand
Elenco: Clovys Torres
60 minutos


10/05/2012 - Quinta-feira às 21 horas


Espetáculo: “Fim de Partida”
Grupo: Teatro Kaos
Origem: Londrina / Paraná
Sinopse do espetáculo:


          O drama surge antes da dramaturgia com a imagem de um homem à beira da morte numa sala hospitalar de tratamento intensivo, assistido por médicos/espectadores responsáveis em evitar que ele deixe de sofrer física e existencialmente. A peça parte de influências dos autores Fernando Arrabal e Samuel Beckett.


Ficha técnica:
Texto e direção: Edward Fão
Elenco: Gustavo Garcia e Edward Fão
75 minutos


11/05/2012 - Sexta-feira às 21 horas


Espetáculo: “Pomba Enamorada Ou Uma História de Amor”
Grupo: Queiroz Art
Origem: São Paulo / São Paulo
Sinopse do espetáculo:


          Enquanto espera seu amante e termina ansiosamente de arrumar os últimos preparativos da festa de aniversário que organizou pra ele, Maria Helena di Castro nos revela suas intimidades cheias de vitalidade, amor, solidão, humor, romance e esperança. Recheada de comentários irônicos e bem humorados, baseados nos textos jornalísticos de Clarice Lispector e na personagem central Pomba Enamorada de Lygia Fagundes Telles.


Ficha técnica:
Texto: Lygia Fagundes Telles com adaptação de Simonia Queiroz
Direção: Tarcila Tanhã
Elenco: Simonia Queiroz
55 minutos


12/05/2012 - Sábado às 21 horas


Espetáculo: “Experimentos 1”
Grupo: Outro Grupo de Teatro
Origem: Fortaleza / Ceará
Sinopse do espetáculo:


          Três histórias. Na primeira, um homem escreve uma carta incansávelmente. Na segunda, dois homens estão entre a aproximação e o afastamento. Na terceira, um homem é tomado por um fluxo de pensamentos em minutos de elucubrações. As histórias estão ligadas entre si pelo cenário, pelas proposições e pelos conflitos do homem contemporâneo em seus relacionamentos e no seu modo de viver.


Ficha técnica:
Texto: Ari Areia, Karl Valentin e Yuri Yamamoto
Direção: Yuri Yamamoto
Elenco: Ari Areia e Tavares Neto
45 minutos


13/05/2012 - Domingo às 20 horas


Espetáculo: “Balada de Um Palhaço”
Grupo: Grupo de Teatro Arte & Fatos
Origem: Goiania / Goiás
Sinopse do espetáculo:


          O texto traz a tona conflitos que impulsionam as relações humanas, a dor e alegria, o simples e o complexo, o riso e o choro, o desespero e a calma, o sistema e o povo. Tem como porta-voz dois palhaços, Bobo Plin e Menelão, dono de um circo decadente, mas veículo único de sobrevivência para os dois palhaços. A peça foi escrita no leito de um hospital, quando seu autor, Plínio Marcos, sofreu um ataque cardíaco.


Ficha técnica:
Texto: Plínio Marcos
Direção: Danilo Alencar
Elenco: Bruno Peixoto e Edson Oliveira
80 minutos


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Teatro/CRÍTICA

"De verdade (ou A mulher certa)"

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Náufragos de si mesmos


Lionel Fischer


"A peça aborda, através da relação entre o Marido e a Esposa, os conflitos do amor romântico e do casamento, tangenciando, e tendo como pano de fundo, o ideário da condição burguesa e a incomunicabilidade do discurso amoroso. Sándor Márai apresenta não apenas versões distintas (Marido X Esposa) do mesmo fato (o casamento), mas enfatiza também a premissa de que os fatos só podem ser apreendidos em sua limitada existência por intermédio das experiências e da memória individual. Márai defende a idéia de múltiplas verdades ou, em suma, de que não há verdade para além da individualidade"

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza as premissas essenciais de "De verdade (ou A mulher certa)", romance do húngaro Sándor Márai adaptado para o palco por Susana Schild e Isabel Muniz. Márcio Abreu assina a direção do espetáculo, em cartaz no Espaço Sesc, estando o elenco formado por Kika Kalache e Guilherme Piva, que dividem o palco com o músico Antonio Saraiva.

Como todos sabemos, os puristas de plantão costumam torcer seus  graciosos (nem sempre) narizes sempre que uma montagem se materializa a partir de uma adaptação, seja de um romance, conto, novela etc. E sua argumentação é sempre a mesma: a especificidade da linguagem do palco, que estaria atrelada aos diálogos, sendo que estes explicitariam os conflitos entre os personagens, daí decorrendo a ação e por aí vai.

Isto não deixa de ser verdade, naturalmente. Mas não é menos verdadeira, tampouco menos válida, uma proposta que traga para o palco elementos de outras manifestações artísticas, desde que as mesmas contribuam para viabilizar aquilo que o teatro propõe de mais essencial: um real encontro entre quem faz e quem assiste. E tal encontro pode até mesmo, em alguns casos, prescindir de diálogos. Ou não? 

No presente caso, temos diálogos, solilóquios, narrativas  contraditórias, repetições de passagens aparentemente iguais, mas sutilmente diferentes. Enfim...uma série de recursos cuja mescla enfatiza, de forma criativa e pertinente, os principais conteúdos propostos pelo autor - como não li o original, não posso avaliar os méritos da adaptação; mas como permaneci todo o tempo atento, interessado e, não raro, comovido, ouso supor que seja de excelente nível o trabalho feito por Susana Schild e Izabel Muniz.

Tudo aqui gira em torno de duas histórias de amor, sendo que uma delas conta com a participação do casal - a outra, ainda que apenas evocada, contribui para levantar ainda mais questionamentos sobre a complexidade inerente a qualquer relação amorosa. E o que mais me encantou no texto, e também o que mais me afligiu, diz respeito a uma certa (ou total) impossibilidade de se conhecer plenamente o outro, de nos relacionarmos com o outro sem perceber que muitas vezes o idealizamos, o que nos leva a priorizar fantasias em detrimento do real da vida. Mas, um um belo dia, as máscaras caem, a visão das faces descobertas se torna intolerável e a separação se afigura como a única possibilidade. Então os casais se despedem, em geral com a sensação de serem náufragos de si mesmos...

Bem escrito, contendo ótimos personagens e reflexões mais do que pertinentes sobre o amor, o texto de Sándor Márai recebeu ótima versão cênica de Márcio Abreu, cabendo destacar não apenas a expressividade das marcas e a impecável manipulação dos tempos rítmicos, mas sobretudo a atmosfera ao mesmo tempo árida e dolorosamente poética que permeia toda a montagem. E como os atores muitas vezes se dirigem ao público, seja expondo seus pontos de vista, seja fazendo perguntas, torna-se inevitável que cada um se veja um tanto obrigado a questionar suas posições perante o amor. No meu caso específico, saí do teatro com um número bem maior de dúvidas do que de certezas. Mas talvez seja essa uma das propostas deste inquietante e belo espetáculo.

Quanto aos atores, Kika Kalache e Guilherme Piva exibem ótimos desempenhos, tanto nas passagens mais dramáticas quanto naquelas em que o humor predomina. Afora isto, sua contracena é impecável, visceral, com ambos valorizando de forma sensível e vigorosa tanto as falas como os muitos silêncios. Sob todos os aspectos, duas intepretações que se incluem entre as mais significativas da atual temporada.

Na equipe técnica, considero irretocáveis as contribuições de todos os profisisonais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Fernando Marés de Castilho (cenografia), Nadja Naira (iluminação) e Cao Albuquerque (figurinos). Cumpre também destacar a forte presença cênica de Antonio Saraiva, responsável pela direção musical e, ao que imagino, pelas composições (ou fragmentos musicais) que executa ao piano e saxofone, alternando climas jazzistícos com sonoridades que remetem a compositores como Éric Satie, sempre em total sintonia com os múltiplos climas emocionais em jogo.

DE VERDADE (OU A MULHER CERTA) - Texto de Sándor Márai. Adaptação de Susana Schild e Isabel Muniz. Direção de Márcio Abreu. Com Kika Kalache e Guilherme Piva. Espaço Sesc. Quinta a sábado, 21h30. Domingo, 20h.      




quinta-feira, 26 de abril de 2012

NELSON RODRIGUES


          Em 2012 comemoramos os 100 anos de nascimento de Nelson Rodrigues, nosso maior dramaturgo. E atendendo a alguns pedidos, coloco em seguida um resumo de sua obra e trajetória artística. (LF)


Infância e Adolescência


          Nascido no Recife a 23 de agosto de 1912 e quarto dos quatorze filhos do jornalista Mário Rodrigues e de Maria Esther Falcão, aos quatro anos Nelson foi morar no Rio de Janeiro para onde seu pai se mudara para trabalhar no Correio da Manhã de Edmundo Bittencourt. Em suas Memórias ele diz que seu grande laboratório de escritor foi a infância vivida na Zona Norte. Dos anos passados na rua Alegre (atual Almirante João Cândido Brasil), bairro de Aldeia Campista, saíram para sua obra situações alimentadas pela moral da classe média dos primeiros anos do século XX.

          Sua infância foi marcada por este clima e pela personalidade retraída do menino que lia um romance atrás do outro. Nesta época ocorreu a descoberta do futebol, paixão que conservaria por toda a vida. Em 1925 Mário Rodrigues fundou A Manhã após romper com Edmundo Bittencourt e foi neste jornal que Nelson começou sua carreira jornalística como repórter policial, aos 13 anos de idade. Os crimes passionais e pactos de amor e morte entre casais incendiavam a imaginação do adolescente romântico que utilizaria o cenário dessas histórias em suas peças.

          O poeta seria o criador da grande dramaturgia brasileira, mas sua obra fundamenta-se no drama bíblico que ele parodia ou parafraseia adaptando-o à realidade brasileira: não nos esqueçamos de que para casar Mário Rodrigues teve de fazer-se pastor por imposição dos pais da noiva, que eram batistas praticantes numa Recife dominada pelo catolicismo, daí a presença da religião na vida de Nelson, questão à qual se refere quando em suas crônicas fala das tias católicas e protestantes que o obrigavam a frequentar igrejas e templos.

          Entretanto, desde criança seu gênio, ao qual nunca faltou o humor, resistiu a essa lavagem cerebral derrotando a visão reacionária do Evangelho para apresentá-lo de forma revolucionária em suas peças. Quando o pai de Nelson conseguiu atingir uma situação financeira confortável ele levou a família para Copacabana, então um arrabalde luxuoso da orla carioca. Apesar da bonança, Mário Rodrigues perderia para o sócio o controle acionário de A Manhã. Porém, em 1928 funda Crítica.

          Como cronista esportivo Nelson escreveu para este jornal textos antológicos sobre o Fluminense, seu clube do coração, embora a maioria tenha sido publicada no Jornal dos Sports de Mário Rodrigues Filho, o primogênito de Mário Rodrigues. Junto com ele Nelson foi fundamental para que o Fla-Flu conquistasse seu prestígio tornando-se um dos maiores clássicos do futebol brasileiro.



Juventude e Maturidade


          Nelson seguiu seus irmãos Mário, Milton e Roberto integrando a redação de Crítica. Ali continuou a escrever na página de polícia, enquanto Mário cuidava dos esportes e Roberto, um talentoso desenhista, fazia as ilustrações. O jornal era um sucesso de vendas, misturando apaixonada cobertura política com relatos sensacionalistas de acontecimentos sociais.

          Em 26 de dezembro de 1929 a sua primeira página deu a manchete da separação do casal Sylvia Serafim e João Thibau Jr. Ilustrada por Roberto e assinada pelo repórter Orestes Barbosa, a matéria provocou uma tragédia. Sentindo-se difamada, Sylvia invadiu a redação de Crítica armada de revolver para matar seu dono, mas como este não estivesse ela atirou no filho Roberto. Nelson testemunhou o crime e a agonia do irmão, que morreu dias depois. Deprimido com a perda do filho, Mário Rodrigues faleceu poucos meses após a tragédia.

          Finalmente, durante a Revolução de 30 a gráfica e a redação do diário são empasteladas e ele deixa de existir. Sem seu chefe e sem fonte de sustento a família Rodrigues mergulha em decadência financeira. Foram anos de fome e dificuldades para todos. Pouco afinados com Getúlio Vargas, os Rodrigues demorariam anos para se recuperarem. Ajudado por Mário Filho, amigo de Roberto Marinho, Nelson passa a trabalhar em O Globo, mas pouco tempo depois descobre que estava tuberculoso e para tratar-se passa longas temporadas no sanatório de Campos do Jordão. Seu tratamento é custeado por Marinho que, com isso, conquistou a eterna gratidão de Nelson.

          Recuperado, ele volta e assume a seção cultural do jornal passando a fazer crítica de ópera. Em 1940 casou-se com Elza Bretanha, sua colega de redação. A partir de 1941 Nelson divide-se entre o emprego em O Globo e a criação de peças teatrais. No final deste ano ele escreve A mulher sem pecado, que estreou um ano depois no Teatro Carlos Gomes ficando em cartaz apenas três semanas. Em seguida a esse mal sucedido começo ele cria Vestido de noiva, estreado com estrondoso sucesso no final de 1943 no Teatro Municipal, sob a direção de Ziembinski.

           Em 1945 abandona O Globo passando a trabalhar nos Diários Associados. Em O Jornal, um dos veículos de propriedade de Assis Chateaubriand, começa a escrever Meu destino é pecar, seu primeiro folhetim que assinou como Susana Flag. O sucesso alavancou as vendas do jornal e estimulou o dramaturgo a escrever sua terceira peça, Álbum de família, que foi proibida pela censura e só liberada em 1965. Em 1946 criou Anjo negro que, após dura batalha com os censores, estreou dois anos depois, lhe possibilitando adquirir sua casa do Andaraí. Em 1947 escreve Senhora dos afogados, que só foi à cena nove anos depois, e Dorotéia, em 1949, que estreou no ano seguinte unicamente porque escrita sob pseudômino.

          Em 1950 passa a trabalhar na Ultima Hora, jornal de Samuel Wainer, onde começa a escrever as crônicas de A vida como ela é..., seu maior sucesso jornalístico. De 1952 a 1957 tem um caso com Yolanda Camejo, que lhe dá três filhos: Maria Lúcia, Sônia e Paulo César. Na década seguinte separa-se de Elza e vai morar com Lúcia Cruz e Lima com quem teria Daniela, nascida cega. Nelson trabalha na recém-fundada TV Globo participando da Grande Resenha Facit, primeira mesa-redonda sobre futebol da televisão brasileira e em 1967 passa a publicar suas Memórias no Correio da Manhã, onde seu pai trabalhara 50 anos antes.



Velhice


          Nos anos 70, consagrado como poeta dramático e jornalista, a saúde de Nélson começa a baquear. Durante a ditadura militar, que só retoricamente apoiou porque na verdade usou seu prestígio para proteger e libertar vários perseguidos pelo regime, seu filho Nelson Rodrigues Filho torna-se militante clandestino, sendo preso e torturado. Depois do fim de seu casamento com Lúcia, Nelson ainda manteve rápido caso com sua secretária Helena Maria antes de reatar com Elza. O maior poeta dramático de língua portuguesa, ao lado do renascentista luso Gil Vicente, faleceu de complicações cardíacas e respiratóliras aos 68 anos numa manhã do domingo de 21 de dezembro de 1980. Dois meses depois, Elza atendia ao pedido do marido de ainda em vida gravar seu nome ao lado do dele na lápide de seu túmulo no cemitério São João Batista: Unidos para além da vida e da morte.




TEATRO


A mulher sem pecado (1941)


Vestido de noiva (1943)


Álbum de família (1945)


Anjo negro (1946)


Senhora dos Afogados (1947)


Dorotéia (1949)


Valsa nº 6 (1951)


A falecida (1953)


Perdoa-me por me traíres (1957)


Viúva, porém honesta (1957)


Os sete gatinhos (1958)


Boca de ouro (1959)


O beijo no asfalto (1960)


Bonitinha, mas ordinária (1962)


Toda nudez será castigada (1965)


Anti-Nélson Rodrigues (1974)


A serpente (1978)




ROMANCES


Meu destino é pecar (1944)


Escravas do amor (1944)


Minha vida (1944)


Núpcias de fogo (1948)


A mulher que amou demais (1949)


A mentira (1953)


O homem proibido (1959)


Asfalto selvagem (1959)


O casamento (1966)




CONTOS


Cem contos escolhidos (1972)


Elas gostam de apanhar (1974)


O homem fiel e outros contos (1992)


A dama do lotação e outros contos (1992)


A coroa de orquídeas (1992)


Pouco amor não é amor (2002)



CRÔNICAS


Memórias de Nelson Rodrigues (1967)


O óbvio ululante: primeiras confissões (1968)


A cabra vadia (1970)


O reacionário: memórias e confissões (1977)


Fla-Flu...e as multidões despertaram (1987)


O remador de Ben-Hur (1992)


A cabra vadia - Novas confissões (1992)


A pátria em chuteiras - Novas Crônicas de Futebol (1992)


A menina sem estrela - memórias (1992)


À sombra das chuteiras imortais - Crônicas de Futebol (1992)


A mulher do próximo (1992)


Nelson Rodrigues, o Profeta Tricolor (2002)


Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo (2002)



TELENOVELAS


A morta sem espelho - TV Rio (1963)


Sonho de amor - TV Rio (1964)


O desconhecido - TV Rio (1964)


O homem proibido - TV Globo 1982 (baseada na obra de Nelson)


Meu destino é pecar - TV Globo 1984 (idem)


Engraçadinha, seus amores e seus pecados - TV Globo 1995 (idem)


A Vida como ela é - TV Globo 1996 (idem)



FILMES (baseados na obra de Nelson)


Somos dois (1950), direção de Milton Rodrigues


Meu destino é pecar (1952), direção de Manuel Pelufo


Mulheres e milhões (1961), direção de Jorge Ileli


Boca de ouro (1963), direção de Nelson Pereira dos Santos


Meu nome é Pelé (1963), direção de Carlos Hugo Christensen


Bonitinha, mas ordinária (1963), direção de J.P. de Carvalho


Asfalto selvagem (1964), direção de J.B. Tanko


A falecida (1965), direção de Leon Hirzman


O beijo no asfalto (1966), direção de Flávio Tambellini


Engraçadinha depois dos trinta (1966), direção de J.B. Tanko


Toda nudez será castigada (1973), direção de Arnaldo Jabor


O casamento (1975), direção de Arnaldo Jabor


A dama do lotação (1978), direção de Neville d'Almeida


Os sete gatinhos (1980), direção de Neville d'Almeida


O beijo no asfalto (1980), direção de Bruno Barreto


Bonitinha, mas ordinária (1981), direção de Braz Chediak


Álbum de família (1981), direção de Braz Chediak


Engraçadinha (1981), direção de Haroldo Marinho Barbosa


Perdoa-me por me traíres (1983), direção de Braz Chediak


Boca de ouro (1990), direção de Walter Avancini


Traição (1998), direcão de Arthur Fontes, Cláudio Torres e José Henrique Fonseca


Gêmeas (1999), direção de Andrucha Waddington


Vestido de noiva (2006), direção de Joffre Rodrigues
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quarta-feira, 25 de abril de 2012

O Dramaturgo como Pensador

Introdução

Richard Gilman


          Um homem caminha ao meu lado e eu o reconheço de fotos que vi em capas de livros ou nos jornais. É mais alto do que eu supunha, muito mais alto que Brecht, em cujos traços vagamente (é o que me parece, como um doce tributo) modelou sua aparência, pelo menos, nos cabelos, que usa em mechas. É uma linda tarde verão e a Commercial Street, a rua principal de Provincetown, está lotada de passantes, alguns andando para cima e para baixo, como um paseo mexicano. Trata-se de uma celebridade, e para mim uma das maiores.

          Quando passa à minha frente, digo de quem se trata às pessoas que estão comigo, e resolvo apresentar-me a ele. É o que faço. Corro, interrompo seu caminho e digo: "Senhor Bentley, é um prazer vê-lo aqui". Digo-lhe meu nome e acrescento, "admiro seu trabalho há muito tempo".

          Não há tanto tempo assim, para dizer a verdade. Estávamos no verão de 1962. Eu escrevia sobre teatro desde o outono do ano anterior, quando fui convidado (talvez pelo meu estilo, pela revisão de algumas traduções novas de Ibsen e, suponho, também pela confiança em minha capacidade de aprender) para ser crítico teatral da Revista Commonweal.

          Fui uma escolha surpreendente. Não tinha feito estudos regulares de dramaturgia, nem de teatro; minha única "experiência" prática residia em ter atuado em algumas pecinhas na escola e no acampamento de verão. Até há poucos anos, não tinha o menor interesse pelo palco. Nesse aspecto, assemelhava-me à maioria de meus contemporâneos intelectuais, para os quais a dramaturgia, pelo menos a que encontrávamos neste país, era uma arte distintamente inferior à ficção ou à poesia.

          Podíamos, é claro, abrir exceção para um Shakespeare ou Tchecov, mas encarávamos seus trabalhos mais como literatura do que como teatro (como ainda são vistos pelos departamentos de Inglês ou Literatura Comparada). Além disso, eles sobreviveram de um passado que tinha, de alguma forma, sido capaz de gerar uma verdadeira arte dramática, que não mais existia - era o que pensávamos do alto de nossa sofisticação -, vendo a chamada dramaturgia "moderna" como um deserto árido.

          Portanto, quando comecei a escrever profissionalmente, escrevia e pensava sobre poemas, contos e novelas, assim como sobre teorias culturais. Parece ser exagerado dizer que os livros de Eric Bentley, especiamente O Dramaturgo como Pensador, me fizeram abrir os olhos para as possibilidades estéticas e intelectuais do palco (assistir Esperando Godot, em 1954, também representou um grande papel no meu despertar), mas seus escritos realmente foram o grande impulso que tive naquela época para definir um rumo.

          Ele foi o que naquele período ainda não chamávamos de "papel modelo". Se o fato de me tornar um crítico teatral representou ou não uma ascensão cultural, não tenho a menor dúvida de que Bentley produziu o mesmo tipo de efeito revelatório - como que uma limpeza de idéias, lançando luz onde existiam trevas - em muitas pessoas além de mim: estudantes de artes, literatos e, com o correr do tempo, até mesmo calejados profissionais do teatro.

          Não será surpreendente verificar que foram esses últimos os que ofereceram maior resistência a deixar-se iluminar? Não li O Dramaturgo como Pensador quando foi publicado em 1946, porque essa foi a fase extrema de minha não-preocupação com o teatro, mas li-o alguns anos mais tarde e fiquei tão inspirado que empreendi uma pequena pesquisa sobre a repercussão contemporânea do livro.

          Foi tudo menos um "acontecimento editorial", embora tenha merecido umas notas respeitosas e uma ou duas laudatórias. As reações que despertou no Universo teatral e seu satélite da cobertura jornalística teatral foram desde o desdenhoso, chocado e horrorizado, até, no melhor dos casos - ou talvez, o pior - o condescendente. Se me lembro corretamente, a reação do meio acadêmico não foi muito mais acolhedora.

          Tomo algumas liberdades com a linguagem do que poderíamos chamar de réplica do conservadorismo para com O Dramaturgo como Pensador, mas sua essência era o seguinte: "Como poderia estar correto o enfoque deste autor?" Como podem os dramaturgos ser pensadores, quando todos sabem que são pessoas que sentem? Lidam com emoções e não com idéias - não é?" Bem, não é isso?"

          Não, não é isso, não ao pé da letra. Mais do que qualquer outro crítico, Bentley deu à teoria, observação e prática do teatro neste país - e a mim, com toda a certeza - um meio de desmistificar uma distinção tão preconceituosa e errônea. Francis Fergusson colaborou com o trabalho de demolição e reconstrução, mas Fergusson foi muito mais estreito.

          Mente ou corpo, pensamento ou sentimento, idéias ou emoções - tais antíteses cruas e ofensivas já possuem uma longa história de teram causado desgraça intelectual à América, em nenhum outro campo mais flagrante e debilitante do que no teatro. À sua maneira espirituosa, Edgar Allan Poe foi o primeiro a detectar a doença; Henry James (cuja crítica teatral ainda é pouco conhecida) ampliou o diagnóstico e receitou sua cura, mas foi Bentley quem atualizou a profilaxia e a divulgou.

          Os pontos que ele ressaltou em O Dramaturgo, e nos escritos que viriam a seguir, são, em essência, que a dramaturgia é, ou tem sido, uma arte tão densa, ou maleável, ou reverberante, ou misteriosa, ou vigorosa, ou perturbadora quanto qualquer outra; que, tanto quanto outros artistas, os dramaturgos pensam de maneira apropriada à sua arte; que o pensamento, na arte, é o processo pelo qual a emoção crua, não imediata - com suas traições e enganos, sua indução à cegueira - é apresentada à mente, localizada, explorada e trazida a uma relação com a experiência e a imaginação. Em outras palavras, trazida à consciência.

          Quando Pirandello disse que o que era "novo" em suas peças era que nelas ele havia "convertido o intelecto em paixão" (poderia também ter dito que os unira, que tornara cada um deles um aspecto do outro), bem pode ter exagerado sua originalidade. Ele teve grandes predecessores, mas a observação e a ação por ele descritas foram corretas e surpreendentes, nas condições do teatro de seus dias.

          O intelecto e a paixão sempre foram complementares, recíprocos; mas a sabedoria adquirida do teatro, mesmo em sua admiração pelos "clássicos", persistia em julgá-los contrários. É isso que existe por trás da tendenciosa rejeição de Godot, por Walter Kerr, como uma "lição de filosofia" e não como uma peça; e o que existe por trás também da opinião estabelecida - amplamente difundida em minha juventude (e que ainda remanesce aqui e ali) - de que, por exemplo, Ibsen é todo intelecto ou "idéias", sem nenhuma paixão; de que Strindberg é sentimento bruto, sem nenhum espírito, e de que Tchecov, segundo a noção confortável e imbecil, não se ocupava nem de paixão nem de pensamento, mas duma coisa amorfa, nebulosa, "acridoce", delicada, existente no meio-termo.

          Pirandello, Ibsen, Strindberg, Tchecov, Brecht e, em menor extensão, Shaw, foram os dramaturgos de nossa era moderna que o livro de Bentley resgatou para mim da obscuridade, da má interpretação, da calúnia, ou talvez, do mais mortal perigo de todos, do acadêmico. Em suas páginas também, pela primeira vez, encontrei-me com seus ancestrais do século XIX, tão negligenciados (todos alemães, por acaso): Kleist, Grabbe e principalmente Büchner; e dramaturgos que conhecia apenas como novelistas ou poetas: Zola, Yeats, Lorca. Como também fui apresentado por seu livro a teóricos e praticantes que não conhecia e dos quais meramente tinha ouvido falar: Appia, Gordon Craig, Antoine etc; e aos críticos: Stark Young, Shaw e Beerbohm, nesse aspecto de suas carreiras. Fui educado por O Dramaturgo

          O livro mantém-se admiravelmente bem e embora A Vida da Dramaturgia possa ser uma obra melhor, - seguramente é melhor organizado e mais ousado - não ocupa o lugar do Dramaturgo como centro de minhas afeições. Mas uma coisa me ocorre, é que o livro parece ter servido (como Bentley diz que Brand e Gynt fizeram por Ibsen) de "jazida", da qual retirou material para a maior parte do que escreveria mais tarde.

          Com o passar dos anos, li tudo o que Bentley publicou, recuperando o tempo perdido, lendo os livros que tinham surgido durante meus tempos de indiferença pelo teatro. Nem sempre fui persuadido por ele (o livro sobre Shaw não me convenceu de que esse autor tenha conseguido realizar tudo o que Bentley afirma), e às vezes discordei de algumas proposições teóricas - sobre a natureza do melodrama, por exemplo. Mas fui maravilhosamente instruído, recebi maiores conhecimentos sobre a dramaturgia e o palco.

          Penso na série de crônicas que publicou nos anos 50 - In Search of Theatre, The Dramatic Event, What is Theatre? - nas críticas semanais reunidas em livro, juntamente com artigos ocasionais. Jamais houve na América um jornalismo de idéias tão flexível, espirituoso, profundo e não-acomodado. Foi sua a voz da razão pelo - ou sobre, ou contra - teatro americano daquela época; foi ele o seu policial incansável e competente, para usar uma das definições de Shaw da tarefa do crítico.

          Pensei em consultar os livros que mantenho sempre em uma estante perto de minha mesa, mas percebi então que não era necessário refrescar minha memória, pois ela pode rapidamente me oferecer um sem-número de artigos exemplares. Recordo-me primeiramente de Trying to Like O'Neill, que ainda é o juízo mais contundente que conheço sobre o nosso (ai de mim!) melhor dramaturgo.

          Logo então outros trabalhos começam a acumular-se: Doing Shakespeare Wrong; The China in the Bull Shop (um tributo bem humorado a Stark Young, seu predecessor em The New Republic); Craftsmans-hip in Uncle Vanya; The Stagecraft of Brecht; Tennessee Willimans and New York Kazan (uma descrição lindamente equilibrada do dramaturgo e uma avaliação igualmente astuta das virtudes e delinqüências do diretor); The Broadway Inteligantsía (em sua maior parte, pessoas que classificam os dramaturgos como dominados pelo sentimento); Is Drama an Extint Species?, com suas observações prescientes sobre o cinema como uma ameaça estética ao teatro.

          Quando chegou minha vez de escrever meu próprio livro, The Making of Modern Drama, fiquei assustado ao me descobrir com o  impulso de citar Bentley a cada página. Então dei uma reviravolta: caindo profundamente no Complexo de Influência, comecei a mantê-lo afastado de minha mente. Embora Eric Bentley não tivesse idade para ser meu pai biológico, espiritualmente, intelectualmente, foi meu progenitor e, se não podia matá-lo, ainda que metaforicamente, podia pelo menos mantê-lo afastado.

          Mesmo assim, apesar de todo o meu esforço para evitá-lo, lembro-me que meu editor comentou delicadamente a freqüência com que os comentários de Bentley surgiam em meu texto, ao que lhe respondi que se tratavam somente de casos onde eu não tinha sido capaz de dizer melhor, ou com qualquer grau de originalidade, o que ele já tinha dito.

          Ao fim e ao cabo, o tempo supera a todos nós, e não é surpreendente que, nos anos recentes, Bentley tenha desaparecido um pouco do que chamamos de "desenvolvimento" do teatro, ou que isso o tenha ultrapassado. É verdade, porém, que sua energia dirigiu-se mais para as suas próprias peças e seu trabalho como ator; o crítico entrava na arena depois de observá-la durante tanto tempo com olhos a que nada escapava. A política passou a ocupá-lo mais diretamente do que antes, a realidade política, cuja presença na dramaturgia tinha sido uma das verdades desconfortáveis que ele exumara e colocara diante de um mundo teatral que preferiria não tê-la visto.

          Embora meus valores políticos não estejam tão distantes dos dele, não compartilho de todas as suas posições particulares e freqüentemente me descubro irritado com suas diatribes. Mas ele tem direito a elas, e está certo. Eric Bentley está com mais de setenta anos e quero dizer-lhe e a quantos leitores puder alcançar, o quanto ele significou para mim. Com todos os prêmios que nosso autocongratulório teatro está sempre se concedendo, deveria haver um para ele. Mas, possivelmente, ele o recusaria; com sua voz estridente e hesitante, diria qualquer coisa obliquamente elegante, talvez parafraseasse Brecht, citando que qualquer instituição que necessite de heróis está em péssima forma. Pois bem, estávamos em péssima forma e necessitando dele.
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Extraído de O Dramaturgo como Pensador, tradução de Ana Zelma Campos, Editora Civilização Brasileira. O livro, escrito em 1946, foi lançado no Brasil em 1987, e trata-se de leitura obrigatória para os amantes do teatro.