quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Teatro/CRÍTICA

"S'imbora, o musical - A história de Wilson Simonal"

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Merecido e corajoso resgate



Lionel Fischer



Até hoje não ficou provado se Wilson Simonal (1938-2000) delatou colegas (supostamente subversivos) durante a ditadura militar. Mas não resta dúvida de que pediu a amigos policiais do DOPS para sequestrarem seu contador, sob a alegação de que ele o estaria roubando - o plano visava dar um susto no tal contador a fim de que ele confirmasse as suspeitas do cantor. O lamentável episódio veio à tona e Simonal foi preso. A partir daí, completamente deletado do meio artístico, nunca mais conseguiu retomar sua gloriosa carreira de intérprete, vindo a falecer no mais absoluto ostracismo. 

Este lamentável fato, assim como a vida e trajetória artística daquele que é considerado um dos maiores intérpretes da MPB constituem o enredo de "S'imbora, o musical - A verdadeira história de Wilson Simonal", de autoria de Nelson Motta e Patrícia Andrade, em cartaz no Teatro Municipal Carlos Gomes. Pedro Brício assina a direção do espetáculo, que tem elenco formado por Ícaro Silva, Thelmo Fernandes, Gabriela Carneiro da Cunha, Gabriel Staufer, Kadu Veiga, Victor Maia, Marino Rocha, Marina Palha, Jorge Neto, Paulo Trajano, Cássia Raquel, Dennis Pinheiro, Natasha Jascalevich, Kotoe Karasawa, Ariane Souza, JP Rufino e JD d'Aleluia.

Ao longo dos últimos anos, os palcos cariocas vem recebendo excelentes musicais centrados em personalidades importantes da nossa música - Nelson Motta e Patrícia Andrade, inclusive, são os autores de "Elis, a musical". Mas aqui a dupla merece um aplauso adicional - outros virão em seguida. Refiro-me à coragem de ambos, pois uma coisa é produzir um evento teatral sobre artistas brilhantes que tiveram problemas com drogas, álcool etc. Outra, muito diferente, é tentar resgatar a dimensão artística de alguém que teria cometido gravíssimos deslizes morais e éticos. 

Como já dito, se efetivamente Simonal contratou agentes para dar um susto em seu contador (que teria sido torturado), tal atitude merece ser execrada. Mas é óbvio que isso não apaga a imensa contribuição que Simonal deu à MPB, e não apenas como um cantor de exceção: Simonal também dançava, contava piadas, criava novas versões para músicas consagradas, enfim, seduzia por completo as mais diversificadas plateia. Era, em resumo, uma mescla de intérprete genial e showman. E são essas múltiplas e luminosas facetas que o espetáculo exalta, sem por isso deixar de mencionar as mais obscuras. 

Contendo ótimos diálogos e uma ação que prende a atenção do espectador ao longo de todo o espetáculo, "S'imbora, o musical" recebeu excelente versão cênica de Pedro Brício. Valendo-se de marcas criativas e sempre conseguindo valorizar os múltiplos climas emocionais em jogo, Brício exibe o mérito suplementar de haver extraído impecáveis atuações de todo o elenco. A começar pela do protagonista, Ícaro Silva.

Embora (por razões óbvias) não deixe de reproduzir atitudes corporais de Simonal ou seu jeito de cantar, em nenhum momento me pareceu que Ícaro Silva pretendesse apenas imitá-lo. Pelo contrário: na medida do possível, o recria, aproveitando características da própria personalidade. E como canta e dança esplendidamente, não resta a menor dúvida de que estamos diante de uma performance notável. A mesma eficiência se faz presente no desempenho de Thelmo Fernandes na pele de Carlos Imperial, também narrador do espetáculo. Exibindo grande carisma e irresistível simpatia, além de cantar muito bem, Thelmo conduz a ação com segurança e contagiante bom humor.

Gabriela Carneiro da Cunha convence plenamente vivendo Tereza, esposa de Simonal, cabendo destacar sua eficiência tanto nas passagens mais dramáticas quanto naquelas em que o humor predomina. Victor Maia também se destaca dando vida a Roberto Carlos, Cesar Camargo Mariano e Eduardo Araújo - este último é recriado de forma tão absurdamente engraçada que fiquei torcendo para que aparecesse mais vezes. Gabriel Staufer (Mièle/Walter Clark/ Ginsburg), Kadu Veiga (Marcos Moran/ Ronaldo Bôscoli) e Paulo Trajano (Delegado/Zagallo/ Flavio Cavalcanti) também exibem atuações seguras e convincentes, com os demais contribuindo decisivamente para o incontestável sucesso do presente espetáculo.

Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo as brilhantes participações de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Alexandre Elias (direção musical e arranjos vocais), Max de Castro e Elias (arranjos), Renato Vieira (direção de movimento e coreografia), Hélio Eichbauer (cenografia), Marília Carneiro (figurino), Tomás Ribas (iluminação) e Rose Verçosa (visagismo), cabendo ainda destacar a excelente performance dos músicos Alexandre Elias (guitarra), Nanda Torres (teclado), Vinicius Lugon (trompete), Romulo Duarte (baixo), Kim Pereira (bateria), Reginaldo Vargas (percussão), Denize Rodrigues (saxofone) e Antonio Neves (trombone).

S'IMBORA, O MUSICAL - A HISTÓRIA DE WILSON SIMONAL - Texto de Nelson Motta e Patrícia Andrade. Direção de Pedro Brício. Com Ícaro Silva, Thelmo Fernandes e grande elenco. Teatro Municipal Carlos Gomes. Quinta a sábado, 20h. Domingo, 18h.





terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Teatro/Crítica

"Se eu fosse eu"

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Sensível e arrebatado tributo



Lionel Fischer



"Se eu fosse eu traz aos palcos uma dramaturgia construída a partir de 15 crônicas de Clarice Lispector, a maioria tirada da obra A descoberta do mundo. A montagem dá à palavra lugar de destaque. Nela, as provocações, buscas existenciais e angústias da autora tornam-se foco desta montagem cujo título aponta seu alvo: nós mesmos. Os atores se revezam no papel das muitas Clarices".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza a proposta essencial de "Se eu fosse eu", em cartaz no Teatro Municipal do Jockey. Delson Antunes responde pela direção e dramaturgia, estando o elenco formado por Andrea Couto, Iuri Saraiva, Joana Pimenta, Juliana Stuart, Kiko do Valle, Linn Jardim, Mariana Cortines, Miriam Virna, Tereza Hermany, Thiago Chagas e Sara Marques. 

Sempre acreditei que todo aquele que se recusa a refletir sobre o próprio passado está condenado a repeti-lo - e por passado entenda-se não apenas o que ocorreu muito tempo atrás, mas também aquilo que se deu recentemente, até mesmo na véspera. Mas se por um lado reflexões permanentes constituem elemento fundamental de crescimento, por outro é inegável que elas cobram eventualmente um alto preço, em especial quando nos colocam diante de revelações que o bom senso recomendaria ignorar. Clarice Lispector carecia por completo deste apaziguador bom senso, e por isso foi capaz de se fazer perguntas que não necessariamente conduziriam a respostas. E uma das marcas mais poderosas de sua genialidade foi justamente a de cultivar a dúvida.

Aqui, como expresso no parágrafo inicial, estamos diante de provocações, buscas existenciais e angústias. E se as mesmas, ao menos em sua totalidade, possam não ser as nossas, é impossível que ao menos algumas não nos digam respeito. Assim, "Se eu fosse eu" nos faculta não apenas o privilégio de usufruir conjecturas magistralmente formuladas, mas também nos acena com a possibilidade de olharmos para nossas vidas de uma forma mais atenta, sensível e fundamentalmente mais corajosa. 

E por falar em coragem, eis um predicado que não falta a Delson Antunes. No presente caso, coragem por acreditar que um material essencialmente literário poderia converter-se em dramaturgia. Coragem por acreditar que a cena poderia ser habitada por muitas Clarices, de ambos os sexos. Coragem por apostar em uma dinâmica cênica que prioriza a paixão exacerbada e a visceral entrega, componentes essenciais da obra e da personalidade de Clarice. E por contar com um elenco que embarca por completo em tais propostas, o resultado só poderia ser um espetáculo que presta sensível e arrebatado tributo a uma artista absolutamente genial.

Na equipe técnica, Mirian Virna e Renata Caldas assinam belíssima cenografia, feita de papéis e flores, uma espécie de mágico jardim onde se dão os embates da autora com o mundo e consigo mesma. A mesma eficiência se faz presente nos elegantes e sóbrios figurinos de Vinicius Ventura, que sugerem que as muitas Clarices estão prontas para uma grande festa. Luiz Paulo Nenem também exibe um competente trabalho de iluminação, o mesmo aplicando-se à direção de arte de Mirian Virna, à trilha original de Pedro Verissimo e Fernando Aranha, ao visagismo de Daniel Régio e à cinematografia de Felipe Pilotto e Motin Produções e Fernando Hurtado.

SE EU FOSSE EU - Texto de Clarice Lispector. Dramaturgia e direção de Delson Antunes. Com Andrea Couto, Iuri Saraiva e grande elenco. Teatro Municipal do Jockei.Sexta a domingo, 21h.

  

domingo, 22 de fevereiro de 2015



INTERCÂMBIO DE EXPERIÊNCIAS
Em fevereiro, reserve sua agenda para um debate com criadores e realizadores do mercado audiovisual internacional.
Mergulharemos em séries de TV, cinema e narrativas de jogos. Não perca!
PROJAC - AUDITÓRIO DO MAC
23/02
10h - CARY FUKUNAGA, Ganhador do Emmy Awards  de Melhor Direção por True Detective.

24/02
10h - STEVE INCE, Escritor, consultor e desenvolvedor de jogos.
15h - ALEXANDRA CLERT, Escritora e criadora da série de ficção Engrenages.
17h - BARRY SCHKOLNICK, Roteirista e produtor premiado de séries como Law&Order, The Guardian e Star Trek: The Next Generation.

26/02
11h30 - M. NIGHT SHYAMALAN, Diretor de grandes sucessos como O Sexto Sentido, Sinais e A Vila.

Caso já tenha feito sua inscrição, ignore esta mensagem!

TEREMOS TRADUÇÃO SIMULTÂNEA
VAGAS LIMITADAS

DAA | Desenvolvimento e Acompanhamento Artístico
FÓRUM DE PSICANÁLISE E CINEMA
PROGRAMAÇÃO DE 2015-1
SEMPRE ÀS ÚLTIMAS SEXTAS-FEIRAS DO MÊS, DAS 18H ÀS 22H,
LOCAL: SALA VERA JANACÓPULOS – UNIRIO.
FILMES ANALISADOS PELOS PSICANALISTAS:
NEILTON SILVA – ndsilva@ism.com.br & WALDEMAR ZUSMAN – zusman@terra.com.br
E PELA MUSEÓLOGA E PROFESSORA DA UNIRIO:
ANA LÚCIA DE CASTRO – anadecastro@terra.com.br

27/03 – O ESTRANHO EM MIM (Das Fremde in mir), 2008.
Rebecca e Julian preparam-se para a chegada do primeiro filho. A expectativa é alta e a felicidade também, porém, após o nascimento do bebê, Rebecca perde o eixo. Sem reconhecer o próprio herdeiro, ela logo torna-se uma ameaça para a criança e precisa procurar ajuda.
DIREÇÃO: Emily Atef. 95 min.
DEBATEDOR: DR. NEILTON SILVA

24/04 – STELLA (Stella), 2008.
Em 1977, Stella, com 11 anos, vive em um subúrbio operário de Paris, onde seus pais mantém um pequeno bistrô. Ao ser matriculada em uma famosa escola de Paris conhece Gladys, filha de intelectuais argentinos, que se torna sua melhor amiga e a ajuda a lidar com a vida.
DIREÇÃO: Sylvie Verheyde. 103 min.
DEBATEDOR: DR. WALDEMAR ZUSMAN

29/05 -  ANTES DO INVERNO (Avant l’ hiver), 2013.
Paul é um neurocirurgião de sessenta anos e é casado com Lucie. Um dia, buquês de rosa começam a ser deixados anonimamente na casa deles, no mesmo momento em que Lou, uma moça de vinte anos, não para de cruzar o caminho do médico.
DIREÇÃO: Philippe Claudel. 102 min.
DEBATEDOR: DR. NEILTON SILVA

26/06 – INSTINTO MATERNO (Pozitia Copilulu), 2013.

O filme mostra a relação de uma mãe e seu filho acusado pela morte de um jovem, em um acidente de carro. A mulher busca evitar que ele seja indiciado por homicídio, usando sua posição social e suas relações com a alta sociedade romena.

DIREÇÃO: Calin Peter Netzer. 100 min.
DEBATEDOR: DR. WALDEMAR ZUSMAN.

PEQUENO HISTÓRICO DO FÓRUM DE PSICANÁLISE E CINEMA
FÓRUM DE PSICANÁLISE E CINEMA FOI CRIADO EM 1997, COMO UM PROJETO CIENTÍFICO DA ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA RIO 3, PELO ENTÃO PRESIDENTE, DR. WALDEMAR ZUSMAN, E PELO DIRETOR DO INSTITUTO, DR. NEILTON DIAS DA SILVA.
DESDE 2004 PASSOU A CONTAR COM A PARTICIPAÇÃO DA MUSEÓLOGA E PROFESSORA DA UNIRIO, DRA ANA LÚCIA DE CASTRO, RESPONSÁVEL PELAS ANÁLISES CULTURAIS DOS FILMES. 
EM 2006, A APRIO 3, ATUAL SPRJ, CELEBROU PARCERIA COM A UNIRIO PARA SEDIAR O PROJETO MENSALMENTE, SEMPRE MUITO CONCORRIDO.
SERVIÇO:
SEMPRE ÀS ÚLTIMAS SEXTAS-FEIRAS DO MÊS, DAS 18H ÀS 22H.
LOCAL – SALA VERA JANACOPOLUS / REITORIA DA UNIRIO
ENDEREÇO: AVENIDA PASTEUR, 296 – URCA.
ENTRADA FRANCA E ESTACIONAMENTO.     FILME: 18H; DEBATE: 20H
INFORMAÇÕES: forumpsicinema@gmail.com


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Teatro/CRÍTICA

"Frida y Diego"

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Belíssima história de amor



Lionel Fischer



Sempre que se deseja menosprezar uma obra cinematográfica, teatral ou televisiva que tenha como foco paixões desenfreadas e desvairadas alternâncias de sentimentos, invariavelmente utiliza-se a expressão "novela mexicana". No entanto, há novelas e novelas mexicanas. Algumas são efetivamente ridículas, pelo exagero com que são tratados os fatos e pelos personagens caricaturais que exibem. Mas aqui tudo se dá em outra esfera, graças à maestria com que Maria Adelaide Amaral abordou a conturbada relação amorosa da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954) com o também mexicano pintor e muralista Diego Rivera (1886-1954).
Em cartaz no Teatro Maison de France, "Frida y Diego" tem direção assinada por Eduardo Figueiredo, estando o elenco formado por Leona Cavalli e José Rubens Chachá. 

Utilizei acima a palavra "maestria". E a considero perfeitamente adequada, posto que em mãos menos hábeis a história de Frida e Diego poderia perfeitamente converter-se em abominável dramalhão, tantos são os ingredientes potencialmente fatídicos - ela padecia de gravíssimos males físicos, bebia e fumava desbragadamente e era bissexual, enquanto ele era um mulherengo que não respeitava sequer as cunhadas (no caso, uma das cunhadas, Cristina), além de exibir curioso machismo, já que não se importava que Frida transasse com mulheres, mas tinha ataques apopléticos quando ela se deitava com homens. 

Aqui, no entanto, embora todos esses ingredientes não deixem de estar presentes, eles são trabalhados de forma tal que o espectador tem acesso a uma belíssima história de amor, de cumplicidade, de parceria, certamente impregnada de muito som e fúria, mas também de doses equivalentes de delicadeza e ternura. Através de ótimos diálogos, de uma ação fluente e de personagens muito bem construídos, Maria Adelaide Amaral nos brinda com um texto que, ainda que centrado na paixão entre Frida e Diego, nem por isso deixa de nos oferecer uma pertinente reflexão sobre a vida e os meandros da criação artística.  

Com relação ao espetáculo, Eduardo Figueiredo impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico. Valendo-se de marcas diversificadas e criativas, e de um tempo rítmico que sempre traduz as emoções em causa, o encenador exibe o mérito suplementar de haver extraído ótimas atuações do elenco.

Na pele de Rivera, José Rubens Chachá constrói de forma irretocável o personagem, valorizando com extrema sensibilidade tanto o seu lado mulherengo quanto sua paixão por Frida e sua eventual dependência emocional dela - nas passagens em que o personagem revela sua fragilidade, o ator trabalha numa chave que comove profundamente, sem jamais enveredar para a pieguice. Além disso, Chachá canta algumas músicas (creio que duas ) de forma esplêndida.

Com relação a Leona Cavalli, sem dúvida uma das melhores atrizes de sua geração, estamos aqui diante de um trabalho brilhante. E não me refiro a aspectos técnicos, pois me parece algo ridículo, a esta altura da carreira de Leona, enfatizar seu domínio vocal e corporal. Meu encantamento se deve à sua extraordinária capacidade de entrega e à inteligência de suas escolhas, que jamais priorizam o mais fácil, o previsível, o que requer menor esforço. Sob todos os aspectos, estamos diante de uma performance simplesmente inesquecível.

Na equipe técnica, considero irrepreensíveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Marcio Vinicius (cenografia, figurinos e adereços), Anderson Bueno (visagismo), Guilherme Bonfanti (iluminação), Renata Brás (direção de movimento), Jonas Golfeto (projeto de vídeo e projeções) e Guga Stroeter e Matias Capovilla (direção musical e trilha sonora), cabendo também destacar as ótimas participações dos músicos Wilson Feitosa (acordeão) e Mauro Domenech (baixo acústico).

FRIDA & DIEGO - Texto de Maria Adelaide Amaral. Direção de Eduardo Figueiredo. Com Leona Cavalli e José Rubens Chachá. Teatro Maison de France. Quinta, sexta e sábado, 20h. Domingo, 19h.



sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Casa Poema
Nossas aulas já retornaram. Este mês estamos estudando a poetisa Maria Rezende, a Maria da Poesia, uma querida amiga da Casa Poema. Nossa portas estão abertas! Venha poetizar conosco!
Segundas, 20h às 22h/ Quartas, 10h às 12
Elisa Lucinda, Geovana Pires e os alunos da nossa Casa te aguardam.
*20% de desconto para estudantes e professores
**Maiores informações:  (021) 2286 5976/ 9 9804 1613    escola@casapoema.com.br



terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Prêmio APTR 2014
9ª Edição

INDICADOS




Categoria MELHOR AUTOR

Jô Bilac ("Beije minha lápide")

Márcia Zanelatto ("Desalinho")


Renata Mizrahi ("Galápagos")


Gustavo Gasparani ("Samba Futebol Clube")





Categoria MELHOR DIREÇÃO

Grace Passô ("Contrações")


Christiane Jatahy ("E se elas fossem para Moscou?")


Ivan Sugahara ("Fala comigo como a chuva e me deixa ouvir")


André Curti e Artur Ribeiro ("Irmãos de sangue")


Gustavo Gasparani ("Samba Futebol Clube")





Categoria MELHOR ATOR PROTAGONISTA

Candido Damm ("Vianinha conta o último combate do homem comum")


Gustavo Gasparani ("Ricardo III")


Leandro Castilho ("As bodas de Fígaro")


Marco Nanini ("Beije minha lápide")





Categoria MELHOR ATOR COADJUVANTE

Gustavo Damasceno ("O funeral")


Isio Ghelman ("Vianinha...")


Leonardo Franco ("Adorável garoto")


Fernando Eiras ("O grande circo místico")





Categoria MELHOR ATRIZ PROTAGONISTA

Amanda Vides Vera ("Uma vida boa")


Débora Falabella ("Contrações")


Isabel Teixeira ("E se elas fossem para Moscou?")


Yara de Novaes ("Contrações")





Categoria MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Carolina Pismel ("Beije minha lápide")


Inez Vianna ("Como é cruel viver assim")


Solange Badim ("As bodas de Fígaro")


Stela Maria Rodrigues ("Agnaldo Rayol - A alma do Brasil")





Categoria MELHOR CENOGRAFIA

Daniela Thomas ("Beije minha lápide")


Gringo Cardia ("Chacrinha, o musical")


Christiane Jatahy e Marcelo Lipiani ("E se elas fossem para Moscou?")


Nello Marrese ("O grande circo místico")


Rogério Falcão ("Os saltimbancos trapalhões")





Categoria MELHOR FIGURINO

Claudia Kopke ("Chacrinha, o musical")

Marcelo Marques ("Edypop")


Carol Lobato ("O grande circo místico")


Luciana Buarque ("Os saltimbancos trapalhões")




Categoria MELHOR ILUMINAÇÃO

Bertrand Perez e Artur Ribeiro ("Irmãos de sangue")

Elisa Tandeta ("O funeral")

Tomás Ribas ("Trágica.3")

Daniela Sanchez ("Uma vida boa")

Paulo Cesar Medeiros ("Vianinha...")




Categoria MELHOR MÚSICA

Leandro Castilho ("As bodas de Fígaro")

Wladimir Pinheiro ("Lapinha")

Tim Rescala ("O pequeno Zacarias - Uma ópera irresponsável")

Nando Duarte ("Samba Futebol Clube")




Categoria MELHOR ESPETÁCULO

"Contrações"

"E se elas fossem para Moscou?"

"Fala comigo como a chuva e me deixa ouvir"

"Irmãos de sangue"

"Samba Futebol Clube"




Categoria ESPECIAL

Elenco de "Samba Futebol Clube"

Volta à circulação da revista Aplauso

Frederico Reder - gestão do Teatro Net

"Teatro Contemporáneo Brasileño" - peças nacionais traduzidas para o espanhol. Projeto idealizado por Sérgio Saboya. A tradução ficou a cargo de Carolina Virguez.

Heloísa Bulcão - pela autoria do livro "Luiz Carlos Ripper: para além da cenografia"


OBS: a festa de premiação acontece no Imperator em 24/03/2015

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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Teatro/CRÍTICA

"Para os que estão em casa"

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Tecnologia se sobrepõe ao real da vida



Lionel Fischer



"Solidão e isolamento são dois modos radicalmente diferentes de viver, embora frequentemente sejam identificados. Estar sozinho não quer dizer sentir-se sozinho, mas separar-se temporariamente do mundo das pessoas e das coisas, das ocupações cotidianas, para entrar novamente na própria interioridade e na própria imaginação - sem perder o desejo e a nostalgia da relação com os outros: com as pessoas amadas e com as tarefas que a vida nos confiou. Estamos isolados, ao contrário, quando nos fechamos em nós mesmos porque os outros nos rejeitam ou mais frequentemente no rastro da nossa própria indiferença, de um egoismo tétrico que é o defeito de um coração árido e seco".

O trecho acima, extraído do livro "La solitudine dell'anima" (Editora Feltrinelli), de autoria do psiquiatra italiano Eugenio Borgna, explicita de forma bastante clara a enorme diferença que existe entre estar sozinho e estar isolado. No caso do presente espetáculo, livremente inspirado no filme "Denise calls up" (direção de Hal Salwen, 1995), sete amigos estão sempre em contato, mas jamais se veem. Falam-se através de celulares e computadores. Não se enquadrariam, portanto, na categoria de "isolados". Mas tampouco me parece estarem sozinhos, posto que jamais mergulham verdadeiramente nas respectivas interioridades. Em que categoria, portanto, poderiam ser inseridos? Eis a questão.

Com texto e direção assinados por Leonardo Netto, "Para os que estão em casa" está em cartaz no Espaço Sesc, onde cumpre temporada até o próximo domingo. No elenco, Adassa Martins, Ana Abbott, Beatriz Bertu, Cirillo Luna, Isabel Lobo, João Velho e Renato Livera.

Como não assisti o filme, não tenho como avaliá-lo, e tampouco saber até que ponto Leonardo Netto se apropriou do mesmo. Mas qualquer que tenha sido a apropriação que Netto fez do original, a questão levantada no final do segundo parágrafo me parece relevante: se os personagens não estão sozinhos e tampouco isolados, por que jamais se encontram? Trata-se apenas de um truque dramatúrgico, visando criar um contexto algo insólito? Ou o roteirista, e também Netto, objetivaram mostrar até que ponto o uso abusivo de artefatos tecnológicos impede as pessoas de estabelecerem relações efetivas no real da vida?  

Sinceramente, não cheguei a nenhuma conclusão definitiva. Mas é provável que a segunda hipótese seja a mais provável. E sendo assim, trata-se de uma premissa altamente elogiável, posto que cada vez mais as pessoas se refugiam na ilusão de possuírem muitos amigos, sobretudo os viciados no facebook, quando na verdade estão cada vez mais sós. 

Mas aqui os sete amigos se conhecem efetivamente, ao que tudo indica. Então, por que jamais se encontram? Porque estão sempre muito ocupados, como o texto sugere? Mas não há ninguém no planeta que seja tão ocupado que não possa, ainda que eventualmente, dedicar-se presencialmente a algum amigo. Mas os sete personagens jamais se encontram, exceção feita a um casal que troca duas palavras, no final do espetáculo...

Outra questão que merece ser mencionada. Embora seja inegável a agilidade da maioria dos diálogos, não raro impregnados de saboroso humor, me causou surpresa a, digamos, excessiva jovialidade da maior parte das conversas, sobretudo as centradas no amor - os personagens não acabaram de sair da adolescência, estão todos na faixa dos 30, trinta e poucos anos. Será que o autor pretendeu enfatizar a imaturidade, sobretudo emocional, dos personagens?

Com relação ao espetáculo (que poderia ser bem mais curto), Leonardo Netto impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico, cabendo registrar sua sensibilidade no tocante aos tempos rítmicos e sua atuação junto ao elenco. Todos os atores realizam trabalhos seguros e convincentes, mesmo que encarnando personagens que não oferecem maiores desafios.

Na equipe técnica, considero de excelente nível as participações de todos os profissionais envolvidos no projeto - José Dias (cenário), Aurélio de Simoni (iluminação), Marcelo Olinto (figurinos), Leonardo Netto e Renato Livera (vídeos) e Netto (trilha sonora). Andréa Dantas e Santiago Karro Trémouroux fazem boa participação em vídeo.

PARA OS QUE ESTÃO EM CASA - Texto e direção de Leonardo Netto. Com Adassa Martins, Ana Abbott, Beatriz Bertu, Cirillo Luna, Isabel Lobo, João Velho e Renato Livera. Espaço Sesc. Hoje e amanhã, 20h30. Domingo, 19h.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Teatro/CRÍTICA

"O branco dos seus olhos"

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Bela reflexão sobre o amor e a arte



Lionel Fischer



Karina e Lauro foram amigos na infância, em uma cidade do interior. Afastados há muito tempo, reencontram- se pelo facebook e marcam um encontro em um apartamento vazio, ao qual Karina tem acesso utilizando uma chave em local previamente acertado. No entanto, ao entrar no apartamento, depara-se com Raquel e fica sabendo que ela e Lauro são casados, e que moraram muitos anos em Buenos Aires. A partir daí, a ação oscila entre o presente (o tenso diálogo entre as duas mulheres no apartamento no Rio de Janeiro) e o passado (a vida do casal na Argentina, cujo principal foco é a tentativa de Raquel, uma rica executiva, de convencer Lauro a protagonizar um espetáculo de dança por ela financiado). 

Eis, em resumo, o enredo de "O branco dos seus olhos" (Teatro Poeira), texto de estreia do roteirista Alvaro Campos (supervisão dramatúrgica de Julia Spadaccini). Alexandre Mello assina a direção da montagem, estando o elenco formado por Amanda Vides Veras (Karina), Karine Teles (Raquel) e Fabiano Nunes (Lauro). 

Em seu texto de estreia para o teatro, Alvaro Campos evidencia muitas qualidades, a começar pela ótima protagonista Raquel, em torno de quem a trama se estrutura. Inteligente e cáustica, extremamente carente, mas essencialmente dominadora, tudo que ela faz, mesmo quando movida pelas melhores intenções, evidencia seu desejo de controlar todas as situações. Quanto aos outros dois personagens, Karina é também muito bem construída, já que sua ingenuidade e pureza fornecem um excelente contraponto à personalidade de Raquel. Com relação a Lauro, este é trabalhado numa chave mais modesta, mas ainda assim não isenta de interesse. 

Outros pontos a destacar no texto são os ágeis diálogos e as muitas e pertinentes reflexões levantadas, em especial sobre os relacionamentos amorosos e o universo da arte. A lamentar, apenas, o desfecho, em que várias e elucidativas informações são prestadas, como se o autor tivesse sentido a necessidade de "fechar" adequadamente a narrativa, quando deixá-la em aberto possibilitaria ao público criar o final que mais lhe agradasse.

Com relação ao espetáculo, Alexandre Mello impõe à cena uma dinâmica austera e despojada, investindo sobretudo no trabalho dos intérpretes - e aqui cabe destacar a valorização dos silêncios, da progressiva tensão, das relações que todos estabelecem com o espaço e com seus próprios corpos. Sem dúvida um seguro e expressivo trabalho de direção de um excelente ator.

Na pele de Raquel, Karine Teles evidencia total compreensão das muitas nuances de sua ótima personagem. Possuidora de voz poderosa, articula o texto com precisão e extrema autoridade. Mas acredito que deva ficar atenta ao excesso de ênfases, pois as mesmas em nada contribuem para conferir mais expressividade ao que é dito. Cabe também destacar sua grande capacidade de entrega, fundamental em um papel que pressupõe uma representação visceral. Amanda Vides Veras compõe muito bem a ingênua e frágil Karina, valendo ressaltar que, à medida que a ação avança, a atriz consegue transcender as premissas essenciais da personagem a ela conferindo outras, bem menos frágeis e ingênuas, como a indicar a existência de potências perfeitamente passíveis de aflorar. Em um papel mais modesto, como já foi dito, ainda assim Fabiano Nunes exibe performance convincente, sobretudo nas passagens dançadas.

Na equipe técnica, Alexandre Mello responde por expressiva cenografia, sendo igualmente de excelente nível a trilha sonora e direção musical de Paulo Francisco Paes, os figurinos de Elisa Faulhaber, a iluminação de Renato Machado e a coreografia e preparação corporal de Paula Maracajá.

O BRANCO DOS SEUS OLHOS - Texto de Alvaro Campos. Direção de Alexandre Mello. Com Amanda Vides Veras, Fabiano Nunes e Karine Teles. Teatro Poeira. Terça a quinta, 21h.





terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

SOLIDÃO E TECNOLOGIA (2)
28 de julho de 2014 
Por EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

Uma pesquisa da revista científica “Science” revelou que muita gente prefere levar choques a enfrentar alguns minutos a sós com os próprios pensamentos.
Conforme informa Juliana Vines – autora da matéria –, o estudo surpreendeu o próprio autor da pesquisa, o psicólogo Timothy Wilson, da Universidade da Virgínia (EUA).
“Parece que há uma dificuldade em se distrair com a própria mente. Suspeito que a popularização da tecnologia e dos smartphones é ao mesmo tempo um sintoma e uma causa dessa dificuldade. Hoje, temos menos oportunidade para refletir e desfrutar dos nossos pensamentos”, reforça Wilson.
Para a psicóloga Lívia Godinho Nery Gomes, a onipresença da tecnologia, “obriga” os seres humanos a estarem sempre disponíveis.
“Há um apelo muito grande para estar em rede, compartilhar. Quem está de fora sente que está perdendo alguma coisa”, diz ela.
Para Luci Helena Baraldo Mansur, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, tentar ficar só sem se sentir sozinho é fundamental.
Diz ela: “O tempo do silêncio e da quietude é um tempo que conduz à criatividade e não a esse vazio tão temido. É quando podemos ouvir nossa voz interior”.
O psicólogo Roberto Novaes Sá afirma que “nossa noção de realidade, de estabilidade e de segurança é construída socialmente, através da relação com os outros e das ocupações. Quando não estamos inseridos em alguma atividade há um sentimento de não realização, fragilidade e angústia”.
Isso não quer dizer que as possibilidades de contacto instantâneo – como as redes sociais permitem – não sejamos valiosas–, ainda mais num tempo em que a vida parece mais veloz, em que tudo parece dissolver-se, e o contacto “real” entre as pessoas fica mais difícil.
O importante é utilizar tais instrumentos, sem perder o contacto “real” e a vivência” com outros seres humanos”.
Não somos ilhas.


Como a tecnologia tem transformado o conceito de solidão

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 Ana Paula Pereira 



A ideia de que ninguém vive sozinho e que o ser humano foi criado para ter o seu convívio dentro de uma sociedade não são conceitos novos. Inclusive, isso é algo tão enraizado na nossa cultura que o fato de alguém estar sozinho ou se sentir dessa forma pode ser algo que o leve facilmente a uma depressão.
O mundo moderno é globalizado e interconectado; a internet quebrou várias barreiras impostas pela distância, facilitando a comunicação com parentes e amigos que vivam em lugares distantes. Porém, mesmo com toda a facilidade existente para você entrar em contato com outros indivíduos, a cada dia mais pessoas se identificam como “solitárias”.
Há várias razões para que esse fenômeno ocorra e uma delas é o aumento das interações no ambiente online. Entretanto, vamos começar levantando uma questão comum na sociedade moderna, que é como uma pessoa faz para se sentir completa.

Realização pessoal

Embora nosso convívio seja em sociedade, os indivíduos costumam medir a sua realização pessoal com uma série de pontos. Entre eles estão a sua carreira, que costuma ser uma maneira na qual muitas pessoas concordam que alguém “alcançou o sucesso” ou “fracassou”. Essa questão está diretamente ligada com as suas riquezas e posses, algo que também é utilizado para determinar satisfação.
Além disso, entre os itens também há o consumismo (ligado ao poder aquisitivo) e a imagem pessoal que o indivíduo transmite. Alguns almejam tanto a conquista desses objetivos em um grau idealizado (normalmente desde a infância) que o convívio com outros é praticamente trocado por uma vida em busca de realização pessoal.
(Fonte da imagem: iStock)
Assim, em uma sociedade na qual tempo é dinheiro e você não possui horas ou minutos disponíveis para uma conversa pessoal, a internet e as redes sociais parecem sempre uma opção mais atrativa.

Online e impessoal

A cada dia mais pessoas passam a utilizar meios virtuais para conversar com amigos ou conhecer novos indivíduos. Isso porque a internet está popularizada, bem como os meios para acessá-la; você pode usar não só o seu computador para a tarefa, como um tablet ou um smartphone, fazendo com que ela seja portátil e você possa acessar do local que quiser.
A comunicação pela internet é simples, fácil, sem ansiedade. Você não precisa ficar com medo de falar algo errado, pois sempre há como editar ou até mesmo excluir as suas publicações. Dessa maneira, você pode passar a imagem que gostaria de ter, independente de ela ser uma representação fiel da realidade.

O problema nisso é que as redes sociais passaram a representar quase uma obsessão pela autoimagem de um indivíduo. Muitos acabam dedicando horas à construção do que consideram um perfil adequado, selecionando apenas as fotografias que julgam conter os seus melhores ângulos e escrevendo apenas frases que transmitam um pouco da “pessoa ideal”, aquela sem qualquer tipo de falhas – a que todos gostariam de ser.
As pessoas se acostumam facilmente a “colecionar” amigos nas redes sociais, substituindo uma boa conversa pessoal por uma mera conexão. A cada dia a “qualidade” é trocada pela “quantidade” e a definição de “relacionamento” passa a ser representada pela troca de imagens e algumas poucas linhas de texto em um chat online.
Você passa a esperar menos das pessoas e começa a desejar que os métodos tecnológicos para a comunicação passem por evoluções que tragam funções novas. Muitos autores costumam dizer que o uso excessivo da internet faz você passar a vê-la como um modelo ideal de convivência e até mesmo a ter uma dificuldade muito maior para desenvolver relações pessoais.

A sensação de solidão

Infelizmente, como resultado do uso excessivo desses meios para a comunicação, o que ocorre na maioria dos casos é que, mesmo que o indivíduo considere que tem muitos amigos, ele acaba se sentindo cada vez mais sozinho. Como somos vulneráveis à solidão, nos apegamos cada vez mais à tecnologia para tentar preencher esse vazio.
Isso porque as redes sociais trazem a impressão de que você pode passar uma imagem beirando a perfeição; sempre será ouvido e nunca estará sozinho. Assim, muitos passam a querer cada vez mais compartilhar experiências online para se sentirem “vivos” e “fazendo parte de um grande grupo”, e é por essas razões que a tecnologia mudou o conceito de estar sozinho e de sentir solidão.

Na medida certa

Claro que ninguém aqui está dizendo que a comunicação online é a grande vilã dos tempos modernos. Não há qualquer tipo de dúvidas com relação à internet ser uma excelente ferramenta para vários propósitos. Entretanto, como tudo na vida, o ideal é que ela possua a sua dosagem no cotidiano das pessoas.

A Inovação da Solidão
qua, 14/08/13
por Bruno Medina |
categoria Instante Posterior

O sugestivo título que dá nome a este post é homônimo ao de um vídeo bem interessante que caiu na rede esta semana, que dedica-se a investigar um fenômeno relativamente recente que tem intrigado não só a mim, como a muita gente: a percepção de que, quanto mais a tecnologia se empenha em conectar pessoas e eliminar em definitivo qualquer possível manifestação de solidão, mais solitários nos tornamos de fato. É certo que a paradoxal afirmação não chega a ser nenhuma novidade, afinal, basta concluir que nós mesmos somos as cobaias voluntárias desta onipresente virtualização das relações em todas as suas conhecidas instâncias, um experimento que, dada sua dimensão, freqüência em que ocorre e capacidade de transformar o modo com que vivemos, inspira, no mínimo, atenção. Mas voltando ao já citado vídeo, a proposta é expor de maneira ultra-didática a nem sempre tão óbvia solidão que assola usuários freqüentes de redes sociais, ironicamente, quando muitos acreditam que a ferramenta os ajudaria a caminhar justo no sentido oposto.

De acordo com estudos sociológicos realizados, isto ocorre porque seres humanos não conseguem relacionar-se com mais do que 150 pessoas ao mesmo tempo (considerando que, por definição, uma relação entre dois indivíduos envolve um nível mínimo de conhecimento e intimidade). Por sermos criaturas instintivamente sociais, inseridas num contexto análogo à experiência em sociedade proporcionada pelas comunidades virtuais – onde a obsessiva busca por pertencimento parece não encontrar limites –, muitas vezes acabamos caindo na tentação de recorrer a valores pouco nobres, tais como autocentrismo e consumismo, para acelerar, ou mesmo sintetizar, o processo de constituição da imagem que ostentamos perante os outros neste ambiente. E eis que, de uma hora para outra, o mundo no qual ‘tempo é dinheiro’ descobre uma tecnologia que assegura a qualquer um a possibilidade de administrar a própria vida sentimental de maneira mais rápida e eficiente; ao relativizar conceitos indispensáveis à criação e à manutenção de vínculos emocionais, passamos a colecionar amigos como se fossem figurinhas de um álbum, a priorizar quantidade em função de qualidade nas relações e, pior, a relegar o conceito de amizade à troca de fotos, publicações genéricas sobre temas aleatórios e bate-papos sem profundidade. Dessa forma, a conversação cede lugar à proximidade superficial, originando a estranha e a cada dia mais comum condição de sentir-se só mesmo estando em meio a tantos amigos.
Mas qual seria a dificuldade em se estabelecer uma conversa de verdade? Bem, conversas de verdade acontecem em tempo real, de modo que não é possível controlar com precisão o que será dito ou compreendido. SMS, e-mails e postagens, por sua vez, permitem que nos apresentemos da exata maneira com que desejamos ser vistos, ou seja, realizar uma minuciosa edição em que só consta o melhor de nós mesmos, o que pode muito bem implicar em horas dedicadas à construção de perfis, à escolha das palavras mais adequadas para a próxima postagem ou das fotos que mais nos beneficiam. Assim sendo, as redes sociais não estariam apenas transformando o que fazemos, e sim quem somos, visto que nos levam a acreditar em 3 falsas premissas: a primeira, que estamos atentos a tudo de relevante que ocorre a nossa volta, a segunda, que sempre seremos ouvidos e, a terceira, que nunca mais precisaremos estar sós. Talvez a maneira mais apropriada de descrever os riscos implícitos nesta última seria reconhecer o surgimento de um novo modo de pensar, um em que aproximam-se os sentidos de ‘compartilhar’ e ‘ser’, materializado na suspeita de que navegamos num oceano de publicações de experiências em parte ficcionais, cujo único propósito é conceder a seus autores a sensação de que estão vivendo intensamente. Mais do que apenas isso, o código de conduta vigente nas redes sociais parece determinar com clareza não haver espaço para a exposição de angústias e mazelas reais, a menos, claro, que carreguem em si uma dose considerável de ironia, e a conseqüência direta disso pode ser um distanciamento da própria essência.
Estaríamos então condenados a viver alienados, numa espécie de Ilha da Fantasia, cercada por porções incomensuráveis da boa e velha solidão? Não necessariamente. Uma das passagens mais marcantes de Alone Together, livro escrito por Sherry Turkle e que serviu como referência para a criação do vídeo, corresponde à narrativa de uma cena trivial, ainda que muito reveladora destes tempos: ao passar meses a fio observando o momento de reencontro entre pais e filhos na saída de escolas, Sherry notou a recorrente frustração das crianças ao constatar que seus pais e mães tinham toda a atenção voltada não para a porta por onde sairiam, mas sim para seus próprios smartphones. Ainda segundo a autora, esta geração enxerga a tecnologia como um competidor em potencial e, por isso, certamente não a utilizará da mesma maneira com que o fazemos agora. Resta, portanto, a esperança de que as crianças de hoje saibam ensinar amanhã a seus filhos como serem sozinhos, para que nunca se sintam verdadeiramente solitários…
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A solidão na era das novas tecnologias de informação


A solidão digital reenvia as nossas linhas de fratura social e nos lembra que a justiça e a dignidade vão além da satisfação das necessidades materiais. Criticar a violência das relações sociais digitais talvez só faça sentido se criticarmos com a mesma força com a violência das relações sociais tout court. E que tentemos responder a elas.

A opinião é de Anthony Favier, em artigo publicado na revista Parvis, de março-abril de 2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Nunca como agora a nossa época manifestou o seu apetite pelas novas formas de comunicação. A "revolução" digital muda as nossas sociedades, que, no entanto, não parecem conseguir responder à solidão sofrida por alguns de seus membros.
São inúmeros os paradoxos contemporâneos. Formamos ao mesmo tempo uma sociedade em que os solteiros são legiões e buscam o amor, sozinhos, em sites de encontro pagos. O desejo de afirmar "a si mesmos" se realiza através da inserção online em redes sociais de dados privados e fotos com pessoas que se encontram pouco ou raramente e que são, apesar de tudo, definidas como "amigas".
A socióloga norte-americana Sherry Turkle, que trabalha sobre o modo como a internet transforma os nossos comportamentos, destaca: "No silêncio da conexão, as pessoas se sentem tranquilizadas, estando em contato com um grande número de pessoas – cuidadosamente mantidas à distância. Nunca temos o suficiente do outro, já que podemos usar a tecnologia para manter o outro à distância: não perto demais, nem longe demais, justamente da forma que nos convém".
Portanto, as técnicas da informação satisfariam o nosso desejo de controle, mas desembocariam somente em relações distantes e, conseqüentemente, inconsistentes... que nos tornam, no fim, mais sozinhos e que marcam o advento de uma sociedade conectada e depressiva. Depressiva porque conectada?
Do curvamento à abertura

Sem ir longe demais, lembramos que 27% dos franceses declara ter iniciado "relações com novas pessoas" graças à internet e às novas tecnologias da informação, segundo uma pesquisa muito recente (CREDOC. Les Français en quête de lien social).
O percentual sobe para 51% para pessoas que participam de redes sociais. As comunidades de cidades ou de bairros, as socialidades familiares, religiosas ou profissionais não desapareceram com a chegada da internet. As coisas se inserem em um tempo mais longo...
Ao contrário, a tecnologia não abole as distâncias, mas pode criar novas amizades, improváveis redes de interesse, socialidades nascidas do diálogo espontâneo. Blogs e fóruns sobre centros de interesse não significam o desaparecimento da associação de bairro ou de ex-alunos; muitas vezes, oferecem um paralelo digital delas e prolongam a sua prática sob uma outra forma. O lugar das novas tecnologias na solidão sofrida modernamente talvez reproponha o velho debate entre "tecnófilos" e "tecnófobos".
Um instrumento não tem em si um senso moral e, ao invés, é o seu uso, as sociedades que o sustentam e as regras de que são dotados que lhe conferem uma consistência. Educar-se a internet, então? Um filósofo das novas tecnologias, Antonio Casilli, faz uma curiosa constatação no seu último livro sobre a socialidade digital, intitulado Les liaisons numériques, vers une nouvelle sociabilité (Seuil).
São aqueles que usam as novas tecnologias em uma lógica do dom, abrindo-se aos outros e comunicando conteúdos próprios, que dizem que recebem mais, obtêm mais para si mesmos. A lógica altruísta e a disponibilidade aos outros seriam as disposições que levam a menos ao curvamento sobre si mesmos e sobre o próprio mundo fechado. Seja no espaço digital, seja na vida real, de um certo modo.
Contra a solidão (digital)?
Nesse amplo debate, além disso, os tecnófilos têm muitos argumentos em seu favor. As nossas relações face a face também podem ser de conveniência, conformistas... e narcisísticas.
Além disso, se as novas tecnologias alimentam as nossas solidões, na realidade revelam sobretudo as já existentes. Aqueles que lutam contra a pobreza falam, e não só para os países do Sul do mundo, de "brecha digital". A expressão designa o modo pelo qual aqueles que não têm acesso material, que não foram formados para as novas tecnologias ou que não têm a idade para serem iniciados, são excluídos, mais uma vez, do "jogo social" e das suas possibilidades.
A solidão digital reenvia as nossas linhas de fratura social e nos lembra que a justiça e a dignidade vão além da satisfação das necessidades materiais. Criticar a violência das relações sociais digitais talvez só faça sentido se criticarmos com a mesma força com a violência das relações sociais tout court. E que tentemos responder a elas.



A SOLIDAO E A ERA DIGITAL


Temos vivido na Era digital, ou a Era da informação. Onde o avanço tecnológico e a informação têm-se chegado cada vez com mais velocidade ao nosso cotidiano. Transformando-nos em reféns desta realidade e nos tornando cada vez mais cidadãos ligados nos acontecimentos que ocorre no mundo, e, diga-se de passagem, estamos sendo alimentados tempo real.
Seja lá qual for à nomenclatura que se dê a esta Era o certo é que a cada dia mais em que a tecnologia da informação avança, mas distante temos ficado de estabelecer relacionamentos com nossos semelhantes. A mesma tecnologia que nos aproxima nos afasta.

Os benefícios que a tecnologia nos trouxe esta ligada proporcionalmente ao prejuízo nos relacionamentos que ela tem causado. As pessoas se trancam em seus quartos fazendo destes um mundo paralelo, qualquer semelhança com Matrix não é mera coincidência.

Neste mundo paralelo elas fazem uso dos inúmeros recursos tecnológicos para esconder algo que tem assolado a muitos pelo mundo que é a solidão, a fuga da realidade, projetando num ambiente virtual o mundo imaginário que gostariam de ter.

Por isto não é de se estranhar que as salas de bate papo ou os sites de relacionamentos estejam lotados de pessoas madrugada a fora. Ali eles criam personagens e podem ser quem eles quiserem. Podem ser pastores, padres, enfermeiros, advogados, casadas solteiras, solteiras casadas, homens que se passam por mulheres, mulheres que se passam por homens, podem mentir as idades, criar o papel de homem perfeito, romântico, galanteador ou podem ser as mulheres carinhosas, injustiçadas, mal amadas, irresistivelmente sedutoras.

Neste ambiente não há censuras ou recriminação por que é o mundo paralelo idealizado por quem o criou sem os escrúpulos de uma lei moral da qual eles não são obrigados a seguirem. Porem e cada vez mais visível que a vivencia nestes ambientes é puramente o desejo de se esconder do mal que assola a humanidade nestes últimos tempos: a solidão.

A falta de alguém que compartilhe, conversas bobas, sonhos e outras coisas do dia a dia, têm empurrado cada dia mais homens e mulheres, jovens, adolescentes e até crianças para estes ambientes de relacionamentos virtuais. Pode alguém sentir solidão mesmo estando acompanhada? Estamos vivenciando o culto do eu em contraponto a vivencia do nós.
A necessidade das pessoas em se relacionar no seu cotidiano cria nestes ambientes virtuais a falsa perspectiva de relacionamentos saudáveis. A falta do dialogo entre pais e filhos e entre cônjuges, tem criado o circulo da solidão, da separação e do distanciamento. Surge assim a necessidade de amizades, encontro de par perfeito e criando uma lacuna na sociedade que vê-se a cada dia mais isolada.

O ser humano não nasceu para ser só. E ironicamente é esta a realidade vivenciada. Daí surge a vontade de preencher esta ausência causada pelo distanciamento dos relacionamentos num ambiente totalmente ausente de contatos físicos, mas carregados de pessoas com a mesma necessidade de carinho e afeto. A mesma tecnologia que nos aproxima nos afasta.

A solidão é fera, a solidão devora. É amiga das horas prima irmã do tempo, E faz nossos relógios caminharem lentos, Causando um descompasso no meu coração.

A solidão dos astros; A solidão da lua; A solidão da noite; A solidão da rua.

A solidão é fera. Alceu Valença


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   A solidão como refúgio na era das redes sociais

Eugenio Borgna resgata as qualidades da solidão em um mundo enfeitiçado pelo digital, excitado e oprimido pela perene conexão com tudo e com todos. O seu livro, porém, não tem um recorte sociológico e menos ainda um odor nostálgico: pelo contrário, é radicalmente contracorrente. É um elogio da escolha livre de estar sozinho, sem a presença constante dos outros, uma apologia daquela experiência humana e psicológica que é pré-condição de todo pensamento crítico e de toda atividade criativa.
O título é La solitudine dell´anima (Ed.  Feltrinelli, 198 páginas). O autor é um psiquiatra que recorre à literatura e à filosofia não por um improvável exibicionismo seu, mas para restituir a infinita complexidade do nosso mundo interno ("a psiquiatria tem necessidade da poesia", escreve ele com audácia).
Eis a entrevista.

O que é, para o senhor, a solidão e por que ela se diferencia do estado de isolamento?

Solidão e isolamento são dois modos radicalmente diferentes de viver, embora freqüentemente sejam identificados. Estar sozinho não quer dizer sentir-se sozinho, mas separar-se temporariamente do mundo das pessoas e das coisas, das ocupações cotidianas, para entrar novamente na própria interioridade e na própria imaginação – sem perder o desejo e a nostalgia da relação com os outros: com as pessoas amadas e com as tarefas que a vida nos confiou. Estamos isolados, ao contrário, quando nos fechamos em nós mesmos, porque os outros nos rejeitam ou mais freqüentemente no rastro da nossa própria indiferença, de um egoísmo tétrico que é o efeito de um coração árido ou seco.

Por que a solidão se nutre de silêncio e o isolamento é marcado pelo mutismo?

Porque na solidão, tão rica de vida interior, o silêncio tem um eros e uma linguagem próprios: diz as nossas melancolias, as angústias, as esperanças não expressadas, os temores, as expectativas. Diz os nossos desejos mais autênticos. O silêncio tem mil modos de manifestar alguma coisa e de escondê-la, de indicar e de aludir, de se aproximar e de se afastar, de fascinar e de intimidar. Ao contrário, quando estamos isolados, separados do mundo, mônadas de portas e janelas fechadas, não temos pensamentos e emoções a serem transmitidos aos outros. Sem mais palavras, aprofundamo-nos em um mutismo que tem uma única dimensão: a da insignificância.
Mas nós estamos imersos na era do encantamento pelo digital, em que a intimidade é exteriorizada por meio das redes sociais, provavelmente em fuga do sentido de vazio que deriva da ausência de laços reais, certamente capaz de comunicar rapidamente com qualquer um. Será ainda possível recuperar o sentido mais precioso da solidão?
Você toca em um aspecto emblemático da condição humana de hoje e da juvenil em particular: a tendência aos contatos de "desemocionalizados" que respondem às necessidades do momento e se incineram sem deixar rastro no coração e na memória. Não há dúvida de que hoje a solidão é sempre mais difícil de ser salva e de ser vivida, porque somos arrastados por um redemoinho de sensações exteriores que não nos dão nem mais o tempo para pensar em nós mesmos, para nos confrontar com os nossos segredos, com o guazzabuglio [mistura, confusão] manzoniano [de Alessandro Manzoni] das emoções que estão em nós, com as coisas que não queremos lembrar e voltam à memória, com a autenticidade ou a inautenticidade das relações que temos com os outros: no fundo, com o mistério do viver e do morrer.

A solidão – como o senhor a entende – não está, então, destinada a ser a prerrogativa de uma minoria de boas almas?

Não, porque a solidão, como eu a entendo, não é só uma experiência interior de poucos eleitos, mas, ao contrário, é uma matriz ideal de mudança relacional e cultural, política e social e, em última instância, razão de vida historicamente significativa. É indispensável reencontrar os valores inalienáveis da reflexão crítica e da solidariedade, do empenho ético na política, do respeito radical das pessoas e das suas diferenças – transferindo a consciência desses valores para aquela que é a ação cotidiana, o testemunho pessoal de cada um de nós.

Algumas páginas iniciais do seu livro referem-se a um filme de Bergman de 1972: Lágrimas e suspiros. Por que as escreveu?

Porque aquelas quatro mulheres vestidas de branco conjugam as diversas linguagens paradigmáticas da solidão. Agnes, quase devorada pela doença, até nas últimas horas não perde nada da sua sensibilidade, jamais está fechada em si mesma, mas aberta a um diálogo com a memória e com a espera misteriosa da morte. Ao lado dela está Anna, uma jovem mulher capaz de compartilhar esse destino como se fosse o seu. Depois, estão as duas irmãs de Agnes – Karin e Maria – aprisionadas, ao contrário, em uma solidão que representa o isolamento mais egocêntrico, o deserto das emoções, a indiferença gelada ao amor e à solidariedade, em uma insana idolatria do eu, do corpo, da beleza.

"Toda a infelicidade do homem deriva da sua incapacidade de permanecer no seu quarto sozinho": a solidão da alma não poderia ser resumida nesse aforismo de Pascal?

Leio Blaise Pascal desde os tempos da escola, porém, desta vez, a fulgurante incisividade do seu pensamento não levantou voo pelas zonas da minha memória. Sim, no aforisma pascaliano – que capta a dimensão existencial radical da solidão: da fadiga, ou melhor, da incapacidade de vivê-la – não se poderia resumir melhor o forte sentido do meu livro. Desagrada-me o fato de não ter citado uma bela reflexão leopardiana [de Giacomo Leopardi], e faço-o aqui, sintetizando ao máximo: a solidão "nos rejuvenesce".