sexta-feira, 28 de junho de 2024

 Teatro /CRÍTICA


"Perigosas Damas"


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Oportuno resgate de uma realidade execrável


Perigosas Damas exalta a liberdade ao resgatar histórias do início do sistema prisional feminino no Brasil, que principia em meados do século XX, quando as mulheres eram encarceradas em manicômios, conventos e sistemas prisionais por serem sexualizadas, lésbicas, extrovertidas, inteligentes, terem repulsa sexual ao marido, praticarem a cartomancia, prostituição etc. 

Solo baseado no livro Histórias de um silêncio eloquente, de Thaís Dumêt, e também contando com poemas de Elisa Lucinda com versões em rap, a montagem está em cartaz na Sala Multiuso do Sesc Copacabana. Geovana Pires responde pela idealização do projeto e atuação. Denise Stutz assina a direção.

Extraído do ótimo release que me foi enviado, o texto acima nos remete a um tempo em que as mulheres estavam sujeitas às mais aterrorizantes arbitrariedades - exceção feita, naturalmente, às que  pertenciam às classes dominantes. Tudo poderia constituir um motivo para que as tais damas fossem consideradas perigosas e portanto merecedoras de serem banidas do convívio social. 

Os espectadores que comparecerem à Sala Multiuso (espero que sejam muitos) tomarão conhecimento de narrativas tão atrozes que parecem fruto de uma ficção perversa. Parabéns, portanto, a Thaís Dumêt por nos fazer encarar um realidade que preferiríamos relegar a um passado muito distante - curiosamente, pensando no presente, o Brasil é o terceiro país do mundo em termos de confinamento de mulheres...

Impondo à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico - enérgica, direta e sem qualquer resquício de inúteis firulas formais -, Denise Stutz exibe o mérito suplementar de haver extraído ótima atuação de Geovana Pires, cuja forte presença cênica e visceral capacidade de entrega a tornam um dos maiores destaques da atual temporada.

No complemento da equipe técnica, parabenizo com entusiasmo as preciosas colaborações de Elisa Lucinda (lindíssimos poemas com versões em rap), Soraya Ravenle (diretora assistente e direção musical), Flavia Tygel (trilha sonora original), Wanderley Gomes (cenário e figurino) e Ana Luzia Molinari de Simoni.

PERIGOSAS DAMAS - Texto de Thaís Dumêt. Direção de Denise Stutz. Atuação de Geovana Pires. Sala Multiuso do Espaço Sesc. Quinta a domingo, 19h.