segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Teatro/CRÍTICA

                             "A Eva futura"

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Inquietante prenúncio no Sesi


Lionel Fischer


"Já é tarde da noite em Menlo Park quando o jovem Lorde Ewald, que anos antes havia salvo a vida de Thomas Edison aparece numa visita inesperada. Apaixonado por uma dama de grande beleza e pouca profundidade, Alicia Clairy, só restava a Ewald o suicídio, diante de tanto desgosto. Edison oferece a solução: construiria uma andróide, idêntica à musa por fora e recheada de sublimes pensamentos e elevados sentimentos".

Extraído do release que me foi enviado, o fragmento acima sintetiza o enredo de "A Eva futura", espetáculo baseado no romance homônimo de Villiers de L'isle Adam (1838-1889). Denise Bandeira assina a tradução, adaptação e direção da montagem, em cartaz no Teatro do Sesi. No elenco, Pedro Paulo Rangel, Larissa Maciel, Bruno Ferrari, José Antonio Meira, Louri Santos, Daniel Zubrinsky e Ana Velloso.

Dentre muitas abordagens possíveis, talvez a mais pertinente consista em encarar o texto como uma espécie de prenúncio do que a tecnologia haveria de representar muito tempo depois. Sim, pois atualmente a tecnologia nos domina, nos acena com promessas de "felicidade" que, muitas vezes, mal conseguem disfarçar seu conteúdo trágico.

No presente caso, estamos diante da possibilidade de se criar uma "mulher ideal", ainda que robótica. Mas será que estamos muito longe de presenciar tal fato? Ou será que em breve a tecnologia nos oferecerá alternativas mirabolantes para "humanizar" nossa progressiva e aparentemente irremediável desumanização? 

Assim, considero altamente pertinentes as questões levantadas pelo autor, em total sintonia com a contemporaneidade. E o espetáculo assinado por Denise Bandeira materializa na cena, de forma sóbria e eficiente, os principais conteúdos propostos por Villiers de L'isle Adam, cabendo ainda ressaltar seu ótimo trabalho junto ao elenco.

Na pele de Thomas Edison, Pedro Paulo Rangel exibe seu mais do que reconhecido talento, ainda que o personagem não permita grandes voos interpretativos. Larissa Maciel também convence plenamente em sua interpretação de Alicia Clairy, o mesmo aplicando-se a Bruno Ferrari (Lorde Ewald) e Ana Velloso como Evelyn Habal. Em participações bem menores, José Antonio Meira, Louri Santos e Daniel Zubrinsky exibem performances corretas.

Na equipe técnica, destacamos a belíssima cenografia de Helio Eichbauer, os apropriados figurinos de Rita Murtinho, a expressiva luz de Paulo César Medeiros e a trilha sonora de Denise Bandeira e André Surkamp, cabendo ainda mencionar a preciosa colaboração de Patricia Carvalho-Oliveira na preparação corporal e direção de movimento.

A EVA FUTURA - Texto de Villiers de L'isle Adam. Direção de Denise Bandeira. Com Pedro Paulo Rangel, Larissa Maciel, Bruno Ferrari, José Antonio Meira, Louri Santos, Daniel Zubrinsky e Ana Velloso. Teatro do Sesi. Quinta a domingo, 19h30.

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