quinta-feira, 19 de maio de 2011

Teatro/CRÍTICA

"Diários do paraíso"

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Bom enredo gera morno resultado


Lionel Fischer


"A peça conta a história de Ted Klein, um renomado escritor e professor americano que, perto dos 80 anos, sai de Nova York para morar nos arredores do que sobrou do seringal que viu nascer e da cidade construída por seus compatriotas à beira do rio Tapajós, onde, quando jovem, viveu uma trágica paixão pela sua bela e proibida prima. Neste ambiente o escritor vive uma intensa relação de trabalho, companheirismo e crescente afeto por sua jovem assistente Laura, que o ajuda a escrever seu novo e biográfico livro, ao mesmo tempo que invoca figuras e situações de sua juventude, através de suas memórias afetivas e lembranças familiares, trazidas por três diários que ele, a irmã Stella, e a prima Chava teriam escrito quando adolescentes".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume os principais fatos que compõem a narrativa de "Diários do paraíso", de Caio de Andrade, também responsável pela direção do espetáculo. Em cartaz na Sala Marília Pêra do Teatro do Leblon, a montagem tem elenco formado por Jaime Leibovitch (ator convidado) e pelos integrantes do Grupo 4 Pontas - Fernanda Thuran, Klaís Bicalho, Monique Deboutteville e Ray Lucas.

Sempre que me perguntam se acho vital que um dramaturgo parta  de uma boa idéia para que seu texto resulte interessante, minha resposta é sempre a mesma: não. E cito como exemplo a melhor peça já escrita: "Hamlet". Se reduzida à sua essência, "Hamlet" conta a história de um príncipe que, informado pelo fantasma do pai de que este fora assassinado pelo irmão, com a cumplicidade de sua mãe, passa cinco atos acossado por dúvidas, até finalmente consumar sua vingança. Pois bem: trata-se de uma idéia genial? Obviamente que não. Ocorre que, nas mãos do fabuloso bardo, os temas que aborda e as questões que levanta sobre a natureza humana atingem o sublime.

No presente caso, estamos diante de um enredo com grande potencial, em princípio capaz de gerar um texto de  qualidade. No entanto, não é exatamente o que acontece. Autor de peças que muito aprecio, como "Trindade", "Os olhos verdes do ciúme" e, mais recentemente, a trágica e dilacerada "Rockantygona", aqui Caio de Andrade cria um texto que, em minha opinião - e como qualquer opinião, sujeita a todos os enganos - padece sobretudo de maiores alternâncias no que tange aos climas emocionais e também no tocante aos conflitos, quase sempre muito suavisados ou apenas evocados.

"Diários do Paraíso" não é um mau texto, já que exibe diálogos não isentos de interesse e personagens bem estruturados. Mas jamais ultrapassa os limites da correção, o que é muito pouco em se tratando de Caio de Andrade. E a mesma correção se faz presente na direção e no trabalho do elenco, que também atua numa chave interpretativa que jamais ultrapassa a zona de conforto - e, cumpre registrar, o elenco é capitaneado pelo excelente Jaime Leibovitch, com vasta e significativa contribuição à arte de representar.

No tocante à equipe técnica, Sérgio Marimba assina uma cenografia que atende a todas as necessidades da montagem, o mesmo aplicando-se aos figurinos de Antônio Medeiros, à iluminação de Tomás Ribas e à trilha sonora de Felipe Storino.

DIÁRIOS DO PARAÍSO - Texto e direção de Caio de Andrade. Uma realização do Grupo 4 Pontas. Com Jaime Leibovitch (ator convidado), Fernanda Thuran, Klaís Bicalho, Monique Deboutteville e Ray Lucas. teatro do Leblon. Terça e quarta, 21h.



  

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