sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Teatro/CRÍTICA


"Oscar e a senhora Rosa"

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Inesquecível encontro 


Lionel Fischer


"A peça conta a história de um garoto de 10 anos, paciente terminal de um hospital que encontra a Sra. Rosa, que visita crianças enfermas. Incentivado por ela, Oscar começa a escrever cartas a Deus, nas quais descreve seus 12 últimos dias de vida. Dotada de imenso poder imaginativo, Rosa faz Oscar acreditar que em apenas 12 dias é capaz de viver as emoções de uma vida inteira".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o enredo de "Oscar e a senhora Rosa", mesmo título do romance do francês Eric-Emmanuel Schmitt, aqui adaptado para o palco por Tadeu Aguiar, também responsável pela tradução e direção do espetáculo. Em cena, e encarnando um total de oito personagens, a atriz Miriam Mehler, que comemora 55 anos de carreira.

Como todos sabemos, poucas coisas podem ser mais dolorosas do que a morte de uma criança, sobretudo quando a mesma, como no presente caso, tem plena consciência de que lhe resta pouco tempo de vida. No entanto, graças à extraordinária capacidade do autor de lidar com o tema, o que poderia ser um dramalhão converte-se numa verdadeira ode ao ato de existir, desde que se consiga valorizar cada momento como se fosse o último.

Rosa é uma personagem extraordinária porque, ao invés de apiedar-se de Oscar e tentar apenas consolá-lo com palavras inúteis, ela o induz a agir. Ele é apaixonado por uma menina, também portadora de leucemia, mas nunca ousou declarar-se - e Rosa o incentiva a fazê-lo. Ele não acredita em Deus - e Rosa sugere que lhe envie cartas diárias. Oscar despreza os pais, pois imagina que eles o abandonaram por não desejarem vê-lo no estado em que se encontra - e, mais uma vez, Rosa o aconselha a rever sua opinião. E Oscar não é menos notável, à medida que, aceitando as sugestões de Rosa, exibe sua fantástica inteligência e incrível sensibilidade.

Impregnado de humor, lirismo e fantasia, e sem jamais tentar induzir o espectador a achar que, no final de tudo, o menino haverá de curar-se, o maravilhoso texto de Eric-Emmanuel Schmitt recebeu uma versão cênica à altura de seus muitos méritos. Tadeu Aguiar impõe à cena uma dinâmica que, alternadamente dolorosa e divertida, consegue valorizar ao máximo todos os conteúdos em jogo. E sua atuação junto à atriz certamente contribuiu para que Miriam Mehler exiba um desempenho simplesmente inesquecível.

Por tratar-se de uma das maiores intérpretes deste país, seria pueril aqui destacar seus vastíssimos recursos expressivos ou registrar sua capacidade de viver vários personagens, a todos imprimindo características próprias e diversificadas, seja do ponto de vista vocal como corporal. Mas julgo imperioso mencionar sua notável capacidade de entrega e a inteligência de suas escolhas, predicados sempre presentes nos intérpretes de exceção. 

E sendo verdade o que Peter Brook sempre sustentou - "o teatro é a arte do encontro" - não tenho a menor dúvida de que os espectadores deixarão o Espaço Rogério Cardoso (Casa de Cultura Laura Alvim) absolutamente convictos de que vivenciaram um emocionante e inesquecível encontro.

Na equipe técnica, considero absolutamente irrepreensíveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Tadeu Aguiar (tradução), Liliane Secco (trilha sonora original), Edward Monteiro (cenário), Ney Madeira, Dani Vidal e Pati Faedo (figurinos) e Rogério Wiltgen (iluminação). Gostaria também de destacar a precisão e sensibilidade dos operadores de luz (Ricardo Alexandria) e de som (Raphael Alonso).

OSCAR E A SENHORA ROSA - Texto de Eric-Emmanuel Schmitt. Adaptação, tradução e direção de Tadeu Aguiar. Com Miriam Mehler. Espaço Rogério Cardoso (Casa de Cultura Laura Alvim). Quinta a sábado, 21h. Domingo, 20h.

   

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