segunda-feira, 30 de junho de 2014

Paulo Pontes (1940 - 1976)

Biografia

Vicente de Paula Holanda Pontes (Campina Grande PB 1940 - Rio de Janeiro RJ 1976). Autor. Com uma linguagem bem-humorada, o dramaturgo Paulo Pontes trata de temáticas populares para colocar em cena o homem brasileiro comum e os conflitos que emergem de sua situação social. Ao lado de Oduvaldo Vianna Filho, é um dos grandes pensadores e ativistas do teatro de resistência nos anos da ditadura militar.

Inicia sua experiência em teatro como ator do Teatro de Estudante da Paraíba, em que atua em Os Inimigos Não Mandam Flores, de Pedro Bloch. Sua primeira experiência com a escrita foi no rádio, no programa de humor de Haroldo Barbosa. No Rio de Janeiro, participa, juntamente com Armando Costa, Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, da fundação do Grupo Opinião e escreve o texto de estréia, o show Opinião, 1964. 

Em 1968, sob sua direção, apresenta em João Pessoa, Paraibê-aba.

Em 1969 ingressa no grupo de dramaturgia da TV Tupi. Em 1970 escreve o roteiro do show sobre Dolores Duran, interpretado por Paulo Gracindo e Clara Nunes, Brasileiro: Profissão Esperança. Em 1971, seu primeiro texto para teatro o torna nacionalmente conhecido: Um Edifício Chamado 200, protagonizado por Milton Morais, no Rio de Janeiro, e por Juca de Oliveira, em São Paulo. Partindo de uma temática popular - a tentativa desesperada de ganhar na loteria para sair de uma vida medíocre -, Paulo Pontes reforma e revitaliza a decadente comédia de costumes carioca. O sucesso da peça o faz ser procurado por atores e diretores.

Ele entrega a Ziembinski seu segundo texto que, embora parta de uma situação não cômica - é durante o período de internação para uma cirurgia que o escreve -, mostra o talento do autor em criar a comicidade a partir do dinamismo da ação. Engajado na luta por um teatro que chegue até o povo, ele diz: "Nós temos que tentar de todas as maneiras a reaproximação com nossa única fonte de concretude, de substância e até de originalidade: o povo brasileiro. É preciso tentar fazer voltar o nosso povo ao nosso palco. (...) O fundamental é que a vida brasileira possa, novamente, ser devolvida, nos palcos, ao público brasileiro".1 "Um país carente de tudo, como o nosso, não tem a sua própria realidade para discutir no palco. O público diz: vamos conversar sobre a minha gravata, o meu fedor, o meu cotidiano, e o artista responde: não, vamos conversar sobre a aventura do imponderável".2 "Quem está indo ao teatro é essa minoria que paga pelo ingresso de um espetáculo que não o faz refletir sobre sua posição ética dentro dessa sociedade".3

Encena, no Rio de Janeiro, Check-Up, com direção de Cecil Thiré, em 1972. No ano seguinte, sob direção de Flávio Rangel e com Jorge Dória no papel central, estréia Dr. Fausto da Silva, texto em que o tema da concentração de renda no país é inserido dentro de uma emissora de televisão, em que a competição profissional evidencia Fausto, o homem que vende a alma ao sucesso. Nesse texto, diferentemente dos anteriores, a comédia sai do realismo e ingressa no reino do fabuloso.

Suas peças são montadas no exterior. Na televisão, ele continua a consagrada série A Grande Família, depois da morte de Vianinha. Em 1975, estréia seu maior sucesso e dá um salto na sua carreira de autor teatral, ganhando o prêmio Molière de melhor autor, em parceria com Chico Buarque, pelo drama poético Gota d'Água, recriação de Medéia, tragédia de Eurípides, com direção de Gianni Ratto. A modernização do tema, combinada com uma aguda visão crítica do processo de exploração de uma humilde comunidade popular por um tubarão da especulação imobiliária, alcança enorme êxito e recebe desde então numerosas montagens pelo Brasil afora; é também montada na Cidade do México, em 1980. Ela integra hoje o restrito grupo dos clássicos da dramaturgia brasileira. O autor participa também da organização do ciclo de debates sobre Cultura Brasileira no Teatro Casa Grande.

Atua na organização do Projeto Nacional Popular de Cultura, reunindo intelectuais de diversos setores.

Em 1976, Paulo Pontes falece aos 36 anos de idade, deixando, como seu amigo e parceiro Oduvaldo Vianna Filho, uma carreira interrompida, além dos textos inconclusos O Dia em que Frank Sinatra Veio ao BrasilLuna Bar e o ambicioso projeto de adaptar em versos Senhor Presidente, original de Miguel Angel Astúrias, ao qual dedicara mais de quatro anos. 

O diretor Flávio Rangel, depois de sua morte, assim resumiu sua importância: "Em todos os seus trabalhos, Paulo Pontes teve sempre a preocupação de retratar o povo de seu país, e era também um permanente batalhador pela liberdade de expressão. Lutou incansavelmente pela regulamentação da profissão e esteve presente, em posição de destaque, em todos os movimentos que envolveram a classe teatral. Dotado de uma poderosa inteligência e uma rara lucidez, exercia uma liderança natural através de seu pensamento profundo, que se fez sentir através dos inúmeros ensaios que escreveu e das brilhantes conferências que pronunciou".4

Notas
1. PONTES, Paulo. Prefácio de Gota d'água, trecho citado por Yan Michalski em Um conscientizador,Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 28 dez. 1976. Caderno B.
2. PONTES, Paulo. Entrevista para o Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 19 set. 1972. Caderno B, página 8.
3. PONTES, Paulo. A crise vista pelo prisma de Paulo Pontes, Revista Visão, Rio de Janeiro, 8 dez. 1975.

4. RANGEL, Flávio. Paulinho, por Flávio Rangel, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 28 dez. 1976, Caderno B.

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Extraído de Enciclopédia Itaú Cultural

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