sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Teatro/CRÍTICA

"Nine - um musical felliniano"

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Montagem imperdível no Clara Nunes



Lionel Fischer



"Guido Contini, diretor de cinema conhecido internacionalmente, está em uma grave crise criativa, sem saber como desenvolver o seu próximo projeto. Para fugir das tensões, ele resolve passar alguns dias em uma SPA em Veneza, onde encontra - em diferentes planos, como realidade, memória, fantasia, sonho - todas as mulheres de sua vida: a mãe, a esposa, a amante, a musa de seus filmes, a prostituta e a sua produtora."

Extraído do ótimo release que me foi enviado, o trecho acima contextualiza "Nine - um musical felliniano", de Maury Yeston (composições e letras) e Arthur Kopit (texto). Baseado no filme 
"8  1/2", de Fellini, lançado em 1963, "Nine" estreou na Broadway em 1982, obtendo extraordinário sucesso. Agora, após cumprir excelente temporada em São Paulo, "Nine" pode ser assistido até o próximo domingo no Teatro Clara Nunes.

Contando com direção artística de Charles Möeller e Claudio Botelho (este também responsável pela versão brasileira), "Nine" traz no elenco Totia Meireles, Carol Castro, Malu Rodrigues, Leticia Birkheuer, Karen Junqueira, Sonia Clara, Myra Ruiz, Agata Matos, Camila Marotti, Laís Lenci, Lola Fanucchi, Priscila Esteves, Luiz Felipe Mello e Nicola Lama, este vivendo o protagonista Guido.

Como sempre ocorre com puristas de plantão, imagino que quase todos poderão ter torcido seus desgraciosos narizes e levantado argumentos poderosíssimos do tipo "mas o filme de Fellini tinha isso, o filme de Fellini tinha aquilo..." e assim por diante. Diante de colocações de tamanha relevância, limito-me humildemente em enfatizar o óbvio: é totalmente pueril se tentar estabelecer comparações entre linguagens diferentes. Até por que, no presente caso, o protagonista não está mergulhado em questões estéticas e existenciais, como no filme, e sim vivendo embates com mulheres fundamentais de sua vida - e tudo isso, diga-se de passagem, acontecendo basicamente dentro de sua cabeça. Isto posto, sigamos adiante.

Não hesito em afirmar que os norte-americanos Yeston e Kopit produziram um material de altíssima qualidade e que este, em sua versão nacional, manteve-se deslumbrante. Em seu trigésimo quinto espetáculo, a dupla Möeller e Botelho reafirma sua excelência, presente em todos os segmentos desta montagem deliciosa e imperdível. 

Com relação à dinâmica cênica, os diretores criaram marcações impregnadas de vigor e teatralidade, além de conseguirem extrair ótimo rendimento de todo o elenco. Em participações mais centradas no canto, Agata Matos, Camila Maroti, Laís Lenci,  Lola Fanucchi e Priscila Esteves exibem vozes belíssimas, além de corpos igualmente belos e forte presença cênica. Na pele da esposa Luisa, Carol Castro destaca-se pela intensidade de sua performance. Karen Junqueira, a diva Claudia, valoriza muito o solo que lhe cabe. Letícia Birkheuer interpreta com correção a crítica Stephanie, com idêntico resultado quando canta. 

Totia Meireles (a produtora Lili La Fleur) é uma presença fascinante, tanto nas passagens faladas quanto naquelas em que nos brinda com sua bela voz. A mesma excelência se faz presente em Malu Rodrigues (a amante Carla) e em Myra Ruiz (a prostituta Sarraghina) - esta última protagoniza a passagem coreográfica mais brilhante do espetáculo. Luiz Felipe Mello, de apenas 9 anos de idade, canta muito bem e é uma figura encantadora em cena. Quanto a Nicola Lama, este vive Guido Contini de forma arrebatadora, exibindo forte presença cênica, grande carisma, voz poderosa e notável capacidade de materializar toda a angústia e fragilidade do protagonista, assim como seu irresistível humor. Sem dúvida, uma performance deslumbrante.

Na equipe técnica, considero irrepreensíveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta sedutora e imperdível empreitada teatral - Alonso Barros (coreografia), Rogério Falcão (cenografia), Lino Villaventura (figurinos), Ademir Moraes Jr. (desenho de som), Paulo Cesar Medeiros (iluminação), Beto Carramanhos (visagismo) e Paulo Nogueira (direção musical e regência). Cabe também destacar a excelência dos músicos Paulo Nogueira (regente e piano 1), Rodrigo Hyppolito (piano 2 e regente substituto), Douglas Andrade (bateria/percussão), Mauro Domenech (baixo acústico), Helena Imasato (violino), Watson Clis (violoncelo), Paulo Jordão (trompete), Douglas Freitas (trombone) e Mauro Oliveira (reed/multi-madeiras).

NINE- UM MUSICAL FELLINIANO - Texto de Arthur Kopit, música e letras de Maury Yeston. Versão brasileira de Claudio Botelho. Direção de Botelho e Charles Möeller. Com Nicola Lama, Carol Castro, Totia Meireles e grande elenco. Teatro Clara Nunes. Hoje e amanhã, 21h. Domingo, 19h.







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